tag:blogger.com,1999:blog-29139158370890491922024-02-07T00:14:02.499-03:00.... Idéias Mirabolantes ....Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.comBlogger59125tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-61818387920153598472011-10-25T12:34:00.003-02:002011-10-25T12:40:51.739-02:00Mudança de AresMudei-me para <a href="http://manskaoosin.blogspot.com">Manskaoosin</a>.<div><br /><div>Estão todos convidados a tomar chá de pensamentos e comer biscoitos de filosofias comigo em um entardecer à meia-noite.</div><div><br /></div><div>Casa de Doces, Labirinto 42. Próxima esquina à esquerda.</div><div><br /></div><div><a href="http://manskaoosin.blogspot.com">http://manskaoosin.blogspot.com</a></div><div><br /></div><div><br /></div></div>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-18606096852188046572011-03-17T18:16:00.005-03:002011-03-25T19:07:27.532-03:00O Segredo do Cobrador<span style="font-style: italic;">Depois de mais de oito meses, eis que alguma centelha de inspiração ainda me resta. E aproveitei pra mudar o layout do blog, de novo; quem sabe assim sinto vontade de atualizá-lo com mais frequência...<br /><br /><br />***</span><br /><br /><br />O despertador tocou. Josimar abriu com dificuldade seus olhos verde escuros e tentou focalizar os ponteiros luminosos do seu rádio-relógio. Quatro e quinze da manhã. Hora de levantar, colocar o uniforme, comer os farelos do jantar e ir para o trabalho.<br /><br />Josimar era cobrador de ônibus há uns oito anos, e era só. Todos os dias, de domingo a quinta, acordava antes das cinco horas da manhã, chegava cedo no trabalho, distribuía pequenas doses de automáticos “bom-dias” aos colegas de trabalho e às pessoas sem rosto que entravam e saíam de seu ônibus durante o dia, voltava para o apartamento na periferia que herdara dos pais no final da tarde, assitia a novela das oito que começava às nove na pequena televisão de quatorze polegadas, jantava qualquer coisa congelada e ia dormir antes das onze. De domingo a quinta Josimar simplesmente existia, fazendo exatamente tudo o que pelos outros era esperado que fizesse: Josimar, o que nunca se atrasa; Josimar, o que nunca erra no troco; Josimar, o Funcionário do Mês.<br /><br />Ele levantou-se preguiçosamente e vestiu a camisa azul clara, a calça jeans surrada e os All Star vermelhos. Sim, hoje era dia de usar aqueles tênis vermelhos. Hoje não era um domingo ou uma quinta-feira qualquer, era sexta. Ah, a tão esperada sexta-feira. O dia em que Josimar finalmente poderia ser ele mesmo.<br /><br />Passou um café fraco, comeu um pedaço de um pão doce que encontrara no armário e saiu, assoviando, para trabalhar. Até os seus “bom dias” ficavam menos automáticos às sextas-feiras. Talvez fosse coisa dos tênis vermelhos, diziam alguns de seus colegas. Talvez fosse a mágica psicológica das sextas-feiras, diziam outros. O fato era que até mesmo o dia de trabalho passava mais rápido para Josimar às sextas-feiras.<br /><br />Era fim de tarde, já, e Josimar caminhava alegremente de volta para seu apartamento. Olhou em seu relógio de pulso, seis horas. Ele tinha exatas três horas para fazer tudo o que precisava ser feito para seu compromisso da noite. Dessa vez teria carona, graças a Deus, e não precisaria fazer tudo correndo. Hoje ele teria todo o tempo do mundo para se preparar.<br /><br />Chegou em casa, tomou um demorado banho e, ainda de toalha, abriu aquela parte do armário que só era aberta naquele dia da semana. Destrancou as gavetas vagarosamente, como sempre fazia, curtindo cada momento, e puxou-as para si.<br /><br />Depois de quase duas hora de indecisão, finalmente conseguiu escolher uma roupa que achou servir direitinho para aquela ocasião. Agora faltavam apenas os retoques finais na aparência e em alguns minutos já estava pronto.<br /><br />Olhou-se no espelho e sorriu. Sim, aquele, sim, era seu eu verdadeiro. O vestido alaranjado, com detalhes em magenta cintilante e cheio de lantejoulas caía-lhe muito bem nas costas, alongando sua silhueta e dando-lhe um ar meio vintage. A maquilagem colorida em seus olhos verdes ressaltava seu olhar, propiciando-lhe sensualidade e mistério. E a peruca, ah!, como gostava daquele cabelo acobreado caindo em cachos pelos seus ombros! E os garotos da boate, lembrou-se com um sorrisinho, aqueles com certeza também gostavam.<br /><br />O interfone tocou; sua carona chegara. E, finalmente, depois de seis dias sendo exatamente quem queriam que ele fosse, ele poderia ser, durante toda a madrugada daquela sexta-feira, quem ele realmente era. Deixava, então, de ser simplesmente Josimar Guimarães dos Santos Silva, cobrador de ônibus e funcionário do mês, para ser Lady Katrynna Glamourosa, a estrela de dança sensual por quem os garotões sempre se apaixonavam da boate drag Rainha da Cidade Pink.<span style="font-style: italic;"><br /></span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-64835896712905252372010-07-13T04:16:00.003-03:002010-07-13T04:21:05.483-03:002.2Feliz Ano-Novo-Pessoal pra mim e feliz Dia Internacional do Rock pra vocês!<br /><br />\m/,<br /><br />Há exatos vinte e dois anos resolvi, no dia mais frio daquele ano, vir a este mundo complicado e esquisito.<br />O motivo?<br />Bem, quem sabe?<br />Eu gostaria de saber.<br />Ou não.<br />Tá, eu gostaria, sim, de saber.<br />Mas tenho certeza de que tal conhecimento não é algo com o qual eu, humana ridícula e limitada, poderia lidar.<br />Ou não.<br />Vai saber.<br />(Ou não.)<br /><br />...<br /><br /><span style="font-style:italic;">"Voar é só uma questão de errar o chão"</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-33533200975623184552010-07-08T20:03:00.004-03:002010-07-08T20:26:22.900-03:00E, seis meses depois...*Chega com alguns baldes de tinta e joga em tudo o que vê pela frente*<br /><br />Este lugar estava prescisando de um pouco de cor, você não acha?<br />Talvez tenha sido por isso que minha Inspiração ficou tanto tempo sem aparecer. Não que ela tenha voltado, agora, mas quem sabe algumas mudanças estéticas não a fazem se sentir melhor, né?<br />Não custa tentar.<br /><br />Na verdade esse layout foi notadamente influenciado pelo DVD quádruplo sobre Woodstock que ganhei da minha Lagarta Listrada Grunge E Quase Albina de aniversário.<br /><br />*.*<br /><br />Ah, os 60's.<br />Guerra do Vietnã; Contra-Cultura; quebra de padrões estéticos e morais; quase um milhão de pessoas em uma fazenda em Bethel, nos Estados Unidos, sem polícia e sem um único caso de violência; Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Jim Morrison...<br /><br />*Suspiro*<br /><br />Engraçado sentir saudades de algo que nunca se viveu, né?<br />Bem, talvez seja por isso que eu estudo História.<br /><br />Nasci na época errada, mesmo.<br /><br />...<br /><br />Só, esse post é apenas para contar que voltei. Não sei por quanto tempo, mas, bem, por enquanto voltei a escrever aqui.<br /><br />E é isso.<br /><br />"Não vá se perder por aí"Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-78514862889191901012010-01-09T20:31:00.004-02:002010-01-09T20:48:08.413-02:00Tirando o pó.<span style="font-style:italic;">*Chega, tira o pó, espanta algumas baratas e besouros que jogavam xadrez e tomavam café, pede reintegração de posse da família aracnídea que a esta altura já havia construído ilegalmente uma megalópole em teias pelo blog, senta-se em uma almofada desbotada e acende um cigarro*</span><br /><br />Ai, ai.<br /><br />Já é ano-novo, mas a inspiração ainda é velha. Continua despreocupadamente caindo na farra e não ligando a mínima para mim.<br /><br />Ou seja, como sempre, não sei o que escrever.<br /><br />Sei que quero, que preciso escrever.<br /><br />Mas não sei o quê.<br /><br />Palavras, palavras; que são elas se não um amontoado de signos que só dizem de fato alguma coisa para aqueles que sabem decifrá-las?<br /><br />Ou, talvez, mesmo para esses, não dizem nada.<br /><br />Se bem que, na verdade, é meio óbvio que palavras não dizem nada, palavras não têm boca. Podem ser ditas, de fato, mas não dizem nada sozinhas. Ou dizem?<br /><br />Bem, nunca vi uma palavra que tivesse boca.<br /><br />...<br /><span style="font-style:italic;"><br />"Raul Seixas comendo peixinho frito"</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-3448745755349899402009-09-06T17:12:00.003-03:002009-09-06T17:30:01.658-03:00Passatempo<span style="font-style: italic;">(Escrito durante uma aula que tinha tudo para ser muito boa, exceto o professor)</span><br /><br />E eis a sublime arte da picaretagem, meus caros!<br /><br />Almanaque Abril, Wikipédia e chamada ao final da aula em pleno terceiro ano de faculdade. Oh, céus. Estaria eu por acaso no terceiro ano do ensino fundamental e não sei?<br /><br />Francamente.<br /><br />O melhor a se fazer é, então, escrever para passar o tempo, não?<br /><br />Ferro de passar roupa, tomada, eletricidade, água, tábua.<br /><br />Tempo se passa com vinco ou sem vinco?<br /><br />Droga, minha mãe sempre me disse que eu precisava aprender a passar roupa, não tempo.<br /><br />Uma borrifada d'água aqui, uma dobradinha ali; não deve ser assim tão difícil, afinal. Só é preciso muito cuidado para não queimar, tempo queimado cheira mal, causa estresse e bolhas nos pés.<br /><br />Lá lá lá, e, <span style="font-style: italic;">voilá!</span>, um tempinho passadinho rapidinho!<br /><br />...<br /><br />Bah. E que faço eu agora com todo o tempo que ainda está por passar?<br /><br />Tenho a impressão de que ele ficaria muitíssimo melhor passado se eu não estivesse assistindo à essa aula "nem um pouco" picareta.<br /><br />Sim, de fato.<br /><br />Sinta o gosto dele, realmente está muito mal-passado, não?<br /><br />Quase cru, eu diria; veja só todo o sangue que ainda escorre.<br /><br />E nem adianta deixar mais um pouco no fogo, tempo mal passado é imutável, permanece assim para sempre, como cinza de lembrança.<br /><br />Para que o tempo fique bem passado é necessário que assim seja desde o início, como você bem deve saber.<br /><br />Desde o início.<br /><br />E o quê seria o início?<br /><br />Ora, o início do tempo relativo é relativo, o início do tempo absoluto é absoluto.<br /><br />Agora, o que de fato seria tempo, relativo, absoluto e, conseqüentemente, o início, "decifra-me ou te devoro", a resposta para todas as perguntas não passa de um pedaço de queijo suíço com quarenta e dois buracos de diferentes tamanhos. E tamancos brancos. Francos. Aos prantos.<br /><br />...<br /><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;">"Já houve um tempo em que o tempo parou de passar/ E o tal do Homo sapiens não soube disso aproveitar"</span></span><br /><span style="font-style: italic;"></span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-51993937787332036042009-07-11T19:28:00.001-03:002009-07-11T19:30:16.456-03:00A Lagartixa Raio De Sol - Parte IIIO Sol se aproximava do horizonte quando a Lagartixa Raio de Sol finalmente chegou aos pés dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Davam Para Lugar Nenhum.<br /><br />Um sentimento de missão quase cumprida e contentamento quase pleno apoderou-se dela enquanto estava a observar aqueles imponentes portais de madeira esburacada e dobradiças de aço enferrujado com os olhinhos castanhos marejados de emoção.<br /><br />— Finalmente... — murmurou a Lagartixa avançando lentamente em direção aos Portões — Vou ser a primeira Lagartixa a descobrir o que diabos tem do Outro Lado dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum... o que será que verei? — continuou, encostando as frias patas na madeira velha do portal.<br /><br />Hesitou ao empurrá-las.<br /><br />— Por que será que ninguém nunca quis saber disso antes? — perguntou-se.<br /><br />Então uma onda crescente de pânico começou a tomar lugar em seu peito, corroendo a sensação de missão quase cumprida e esburacando o sentimento de contentamento quase pleno.<br /><br />E se fosse melhor não saber o que havia do outro lado? E se ela não estivesse preparada para o que cargas d’água poderia haver ali? E se fosse justamente esse o motivo de terem fechado os portões e de ninguém se atrever a ver o que se passava do lado de lá? E se tudo não passasse de uma árvore de maçãs carregada de frutas-do-conde?<br /><br />— Não entre em pânico, não entre em pânico, NÃO ENTRE EM PÂNICO, PORRA!! — dizia uma vozinha histérica em sua cabeça.<br /><br />Raio de Sol respirou fundo e retirou de seu bolso a pequena fruta-do-conde que o Mini-Canguru-Dos-Campos lhe jogara na cabeça. Ficou alguns instantes a observá-la, reparando em todos os gominhos esquisitos dispostos em sua casca, pensando o quê diabos Deus estaria pensando quando criou aquela fruta, ou quando criou o kiwi, quando criou o ornitorrinco, quando criou ela mesma.<br /><br />Voltou novamente o olhar para os Grandiosos Portões.<br /><br />— E seu Deus não tiver nada a ver com isso? — pensou.<br /><br />Fechando os olhos, resolveu começar a abri-los lentamente. Quando havia uma pequena fresta aberta, jogou sua fruta-do-conde para o outro lado e fechou-o rapidamente. Esperou, escutando. Não ouviu nada, e sua curiosidade aumentou.<br /><br />— Que seja o que tiver que ser — pensou, dando de ombros — Afinal, que é que eu tenho a perder?<br /><br />Empurrou os pedaços de madeira velha com toda a sua força. Eles estalaram e se abriram com um estrondo, deixando uma lagartixa antes assustada completamente estupefata com o que viu.<br /><br />Era igual.<br /><br />Exatamente igual.<br /><br />O outro lado se compunha das mesmas montanhas que ela conhecia desde pequena e que existiam do lado de cá. Eram os mesmos campos verdejantes, as mesmas macieiras que davam frutas-do-conde. O Sol brilhava do mesmo jeito dos dois lados, o céu continuava a ser azul, vermelho e dourado no pôr-do-sol, as nuvens continuavam a ser de algodão doce.<br /><br />— Eu falei que não tinha nada, não falei? — disse o Mini-Canguru-Dos-Campos, surgido sabe-se-lá de onde.<br /><br />— Ora — disse a lagartixa — Tem, sim. Muita coisa, aliás. E agora eu sei — respondeu a lagartixa, precipitando-se pelo portal e apanhando a fruta-do-conde que jogara para o outro lado — Tome — entregou-a ao Mini-Canguru-Dos-Campos — Pode ser útil.<br /><br />Raio de Sol fechou novamente os portões e voltou alegre e contente para o Vilarejo Tranqüilo, assobiando uma bela canção.<br /><br />[FIM]Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-50930786147525365292009-07-05T22:57:00.000-03:002009-07-05T22:59:05.285-03:00A Lagartixa Raio De Sol - Parte IIApós muito caminhar pela Estrada Que Levava Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Davam Para Lugar Nenhum — estrada esta construída muito, muito tempo antes das Lagartixas Que Se Diziam Modernas E Inteligentes assumirem o poder e proclamarem que os Antigos Portões Construídos Sabe-se Lá Por Quem não davam para lugar nenhum e que seguir por aquela estrada era completa perda de tempo e dinheiro — Raio de Sol resolveu parar para descansar debaixo de uma macieira.<br /><br />E lá estava ela, de olhos fechados e coração aberto aproveitando a brisa fresca vinda do oeste quando, de repente, uma grande e gorda fruta-do-conde caiu pesadamente em sua cabeça, dando-lhe então o ponto de partida para a hoje tão difundida teoria da relatividade, cuja base antiga foi, justamente, como diabos uma fruta-do-conde poderia cair pesadamente na cabeça de uma lagartixa que se encontrava não debaixo de uma árvore — ou seja lá pé de quê frutas-do-conde gostam de nascer — de frutas-do-conde, mas, sim, debaixo de uma macieira.<br /><br />A lagartixa Raio de Sol levantou-se cambaleando e olhou em volta. A alguns metros de onde estava havia um Mini-Canguru-Dos-Campos com a cabeça cor-de-abóbora enfiada numa moita e uma sacola cheia de frutas-do-conde segura nas patas.<br /><br />— Ei, carinha! — disse a lagartixa coçando a cabeça — O que você está fazendo aí?<br /><br />Silêncio.<br /><br />— Oi! — continuou Raio de Sol — Eu estou falando com você...?<br /><br />Mais silêncio.<br /><br />— Ah... oi? — repetiu a lagartixa, dessa vez cutucando o Mini-Canguru-Dos-Campos.<br /><br />— AHHH! — gritou o Mini-Canguru-Dos-Campos tirando a cabeça de dentro da moita com um movimento brusco.<br /><br />— AHHHHHH!!! — gritou Raio de Sol sem saber exatamente por que.<br /><br />— AAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! — gritou de novo o canguru.<br /><br />— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! — berrou a plenos pulmões a lagartixa.<br /><br />— AAHHH... ah... por quê diabos estamos gritando? — disse o canguru.<br /><br />— Putaqueopariuvaisefoderfilhodaputa!! — resmungou Raio de Sol enquanto se recuperava do susto — Eu é que pergunto, pombas! Você...<br /><br />— Ah, sim! Como foi que você me achou? Eu estava escondido, droga.<br /><br />— Como assim como foi que eu te achei? Só a sua cabeça estava escondida, o resto...<br /><br />— Era a parte mais importante a ser escondida, não? Digo, como você pode me ver, se eu não vejo você?<br /><br />— ...<br /><br />— Você deve ter sétimo sentido... não?<br /><br />— ...<br /><br />— Em todo o caso, o que faz uma Lagartixa Tranqüila perambulando sozinha pela Estrada Que Leva Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum? Isso não é coisa de lagartixas. É coisa de Mini-Cangurus-Dos-Campos.<br /><br />— E jogar frutas-do-conde nas cabeças das lagartixas tranqüilas que resolvem perambular sozinhas pela Estrada Que Leva Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum também é coisa de Mini-Cangurus-Dos-Campos?<br /><br />— É claro que é. Todo mundo sabe disso. Mas o que importa é: você está a procura dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum?<br /><br />— Ah... é... é, é sim, estou, sim.<br /><br />— Pois então desista, pequena lagartixa. Não tem nada do lado de lá. Eu já vi, meus companheiros Mini-Cangurus também já viram. É perda de tempo.<br /><br />— Hum. Ora, se você viu que não há nada do lado de lá, significa que alguma coisa há para se ver, nem que essa coisa seja o nada, concorda?<br /><br />— Bem... de que importa, também? Tome, leve uma fruta-do-conde com você. Pode ser importante. Ou não — disse o Mini-Canguru-Dos-Campos, entregando-lhe uma fruta e pulando para longe logo em seguida — Até mais, pequena lagartixa! Só não vá se perder por aí! — gritou ele um pouco antes de sumir por entre as folhagens do bosque próximo à estrada.<br /><br />— Cada um... — pensou Raio de Sol, continuando sua jornada.<br /><br />(Continua)Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-42064116259289725952009-06-29T21:53:00.001-03:002009-06-29T21:54:43.179-03:00A Lagartixa Raio De Sol - Parte IHá muito tempo atrás, numa terra distante, além do bosque dos gnomos cor-de-abóbora, bem depois das planícies geladas do sul, lá por onde os animais ainda falam e as nuvens são feitas de algodão-doce vivia alegremente no tranqüilo Vilarejo Tranqüilo uma linda e meiga lagartixa chamada Raio de Sol.<br /><br />Raio de Sol não era uma lagartixa qualquer, daquelas que acordavam todos os dias às sete horas da manhã para ver o que seu vizinho estaria fazendo acordado àquela hora da manhã e passavam o resto de seus dias tranquilamente fazendo coisas tranqüilas no Vilarejo Tranqüilo.<br /><br />Ah, não.<br /><br />Em primeiro lugar, Raio de Sol era filha de lagartixas hippies. Como qualquer um sabe, ser filho de lagartixas hippies implica em nomes mágicos, bolos de aniversário temperados e poucos amigos na infância.<br /><br />Em segundo lugar, ela era a única em todo o Vilarejo que se perguntava se existiria alguma coisa para além dos muros da cidadela. Todos os outros assumiam a postura do “se não posso ver é porque não preciso saber” e continuavam a mexer a massa dos seus bolinhos de girassol.<br /><br />Um belo dia Raio de Sol acordou às sete horas da manhã com a claridade do dia entrando pela sua janela aberta, calçou suas botas vermelhas de andarilho, deixou um bilhete para seus pais — que estavam dormindo na sala completamente chapados — e resolveu ir descobrir por conta própria o que haveria para além dos muros do seu vilarejo, possibilitando, para felicidade de seus vizinhos, que as conversas destes finalmente girassem em torno de algum assunto mais empolgante do que a consistência das massas de seus bolinhos de girassol.<br /><br /><span style="font-style:italic;">(Continua)</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-79407019688177564602009-06-23T02:23:00.006-03:002009-06-23T02:43:19.514-03:00DivagaçãoAo observarmos a imensidão negra do céu à noite vemos nada mais nada menos do que pálidos reflexos do fogo de titânicas constelações muitas delas extintas há milênios.<br /><br />Ao observarmos o espelho...<br /><br />...<br /><br />O que você vê?Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-3564510764356878652009-06-03T03:27:00.002-03:002009-06-03T03:55:34.899-03:00Pensamentos Livres e Idéias IntraduzíveisUm mundo de idéias passeava pelo meu cérebro.<br /><br />Pensamentos dançantes saracoteavam sem pudores por todos os lados, despidos de toda e qualquer regra gramatical ou coerência verbal.<br /><br />Eram simples idéias existindo, pulsando, dançando a Macarena.<br /><br />Pensamentos intraduzíveis vestidos de piratas jogando dominó.<br /><br />Pensamentos apalavreados bebendo Dinamites Pangalácticas e cantando Roberto Carlos.<br /><br />Pensamentos livres.<br /><br />Pensamentos pura e simplesmente livres.<br /><br />Tive então a ousadia de sentar-me à frente do computador para escrevê-los.<br /><br />Forcei-os a parar, enfileirei-os, etiquetei-os.<br /><br />Tentei persuadi-los a se submeterem à gramática, às letras, às palavras.<br /><br />Mas eles eram livres.<br /><br />Eram meus pensamentos livres e minhas idéias intraduzíveis.<br /><br />Se os explicasse e os transformasse em palavras eles não mais seriam meus, não mais seriam livres.<br /><br />Acabariam por se tornar apenas outra idéia jogada na prateleira do supermercado de idéias, comum, barata e empoeirada.<br /><br />Não teriam mais a menor graça!<br /><br />Resolvi então deixar que eles continuassem a fazer o que quer que um pensamento livre gosta de fazer com uma idéia intraduzível altas horas da madrugada e ir procurar por vida inteligente na mancha verde de mofo que surgiu no pedaço de pizza esquecido na geladeira desde o mês passado.<br /><br />...Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-71328481153003646732009-05-20T19:57:00.006-03:002009-06-03T03:21:07.551-03:00Matemática?!Não, não adianta.<br /><br />Os números não vão com a minha cara.<br /><br />Nem com chantagem, suborno ou reza braba.<br /><br />E eu juro que não é culpa minha.<br /><br />Já tentei socializar com eles, chamando-os humildemente para tomar algumas xícaras de berguelotes feitos na hora em Manskaoosin. Servi-os em porcelana chinesa e bandeja de prata, mandei meu cozinheiro Pierre Pierrô preparar as melhores receitas de biscoitos recheados que ele pudesse imaginar, coloquei discos de música clássica para tocar, até penteei meu cabelo.<br /><br />Nada disso adiantou.<br /><br />Eles foram arrogantes, olharam-me com expressões de descaso, beberam meus berguelotes fazendo careta, zombaram dos biscoitos recheados do meu cozinheiro, apontaram mil defeitos na disposição das minhas terras e na arquitetura do meu castelo, chutaram meu dragão de estimação dizendo que ele não existia e que nada daquilo ali existia e foram embora carrancudos e cochichando entre si.<br /><br />- Ela nem ao menos penteia os cabelos! - ouvi um deles dizer.<br /><br />É.<br /><br />Desde então a única coisa relacionada à matemática que eu de fato tenho certeza de estar calculando corretamente é o troco do dinheiro da cerveja.<br /><br />Ok.<br /><br />Às vezes nem isso.<br /><br />...Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-4149978474203308552009-05-12T03:35:00.002-03:002009-05-12T03:38:00.456-03:00Sobre o Universo<span style="font-style: italic;">O Universo é grande. Grande mesmo. Não dá pra acreditar o quanto ele é desmesuradamente inconcebivelmente estonteantemente grande.</span><br /><span style="font-style: italic;">[Guia do Mochileiro das Galáxias]</span><br /><br />...<br /><br />Matriculei-me em uma aula de Introdução à Astronomia no começo desse semestre.<br /><br />Para aqueles que não sabem, eu faço faculdade de História.<br /><br />Pois bem, o quê diabos Astronomia tem a ver com História?<br /><br />Nada, de fato.<br /><br />Mas fez-me pensar sobre algumas questões pseudo-filosóficas e, como sou uma pessoa que adora compartilhar seus pensamentos pseudo-filosóficos, compartilhá-los-ei com vocês — ou com aqueles que tiverem a santa paciência de ler.<br /><br />Enfim.<br /><br />Estou a fim de escrever sobre o Universo.<br /><br />Não sei se você sabe, mas ele é grande. Muito grande. Desmesurada, inconcebível e estonteantemente grande.<br /><br />Para se ter uma idéia, os astrônomos dignos desse título conhecem menos de 30% da totalidade da massa do Universo.<br /><br />Cerca de 4% dessa massa, de acordo com eles, é composta pela junção de todas as galáxias conhecidas, enquanto 23% é composta do que eles chamam de “Matéria Escura”, uma “coisa” que não se sabe exatamente o que é mas que se sabe que existe porque causa uma certa distorção quando um objeto é observado através dela.<br />Os outros 73% ninguém faz a mínima idéia do quê diabos pode ser, apesar de alguns acreditarem ser um tipo de “Energia Escura” que meio que serviria para fazer a ligação entre todas as coisas do Universo.<br /><br />Ou seja, de toda a alucinante totalidade do Universo só se conhece realmente 4% do que existe por aí, uma vez que os outros 23% são “<span style="font-style: italic;">alguma coisa que eu sei que tá ali porque faz com que a galáxia ali atrás fique distorcida, mas, ah!, que pena, não sei o quê diabos ela é</span>” e o resto é um tipo de “energia escura” que ligaria todas as coisas mas, “<span style="font-style: italic;">ah!, que pena de novo, não fazemos a mínima idéia do quê cargas d’água isso pode ser</span>”.<br /><br />De fato, há muito mais coisas até mesmo no próprio céu do que pode supor a nossa vã filosofia.<br /><br />O que seriam essas tais “Matérias Escuras”?<br />O que seria essa tal “Energia Escura”?<br />Será que um dia chegaremos a compreender do que elas são compostas, para que servem, o que fazem?<br /><br />É claro que com o decorrer da evolução humana conseguimos conhecer cada vez mais o céu, os planetas, as galáxias; com o passar do tempo conseguimos compreender cada vez mais esse gigante misterioso que nos cerca.<br /><br />Entretanto, eu não consigo imaginar que um dia chegaremos à ciência de tudo o que existe por aí afora.<br /><br />Acho que talvez possamos chegar ao nível de compreensão avançada de toda a nossa galáxia ou quem sabe até da nossa vizinha Andrômeda.<br /><br />Mas, o Universo inteiro?<br /><br />Ah, cara.<br /><br />Na minha concepção a total compreensão do Universo está completamente fora dos padrões humanos de conhecimento.<br /><br />Isso porque, em primeiro lugar, esses padrões estariam vinculados ao que eu — e o Guia do Mochileiro das Galáxias — chamaria de “filtro”, que serviria para impossibilitar que nossos cérebros se rebelassem e saíssem derretidos pelas nossas orelhas a fim de beber uma xícara de café ao tomarem consciência do quão ínfimos nós somos em relação a este Universo tão desmesurada, inconcebível e estonteantemente grande.<br /><br />Depois, eu não sei nem se estaríamos preparados para conhecer a totalidade da Vida, do Universo e Tudo o Mais.<br /><br />E se não fosse nada do que estávamos esperando?<br />E se fosse justamente o que estávamos esperando?<br />E se tudo se resumisse a um grande pedaço de abóbora moranga?<br /><br />...<br /><br />Acho que existem coisas que devem permanecer quietas debaixo do tapete até o dia da grande faxina.<br />Seria ela em 2012?<br /><br />...<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Júpiter and Saturn, Oberon, Miranda and Titanium. Neptune, Titan; stars can frighten..."</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-8033894120801463152009-05-11T14:05:00.004-03:002009-05-11T14:14:21.408-03:00Objetivo de vida:Ser tão foda no quê diabos eu resolver fazer da vida a ponto de poder ir trabalhar de pantufas de garras de dinossauro laranjas, tiara de anteninhas brilhantes e uma ressaca <span style="font-style: italic;">féladaputa</span> e todo mundo achar isso a coisa mais bacana do mundo.<br /><br />...Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-91008497919212646422009-05-06T22:36:00.006-03:002009-05-06T22:49:48.892-03:00Blá blá bláMuito, muito tempo depois do último post eis que esta que aqui vos escreve resolve que vai voltar às suas atividades pseudo-literárias.<br /><br />Dei até uma mudada na foto do layout pra ver se me animo de novo com isso aqui, vocês viram?<br /><br />Blé.<br /><br />O fato é que atualmente minhas palavras deram para se organizar em frases soltas, assim, e só; a idéia de juntá-las em uma só história lhes parece abominável.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Sacumé</span>, né?<br /><br />Eu não sei.<br /><br />De qualquer forma, decidi que é melhor escrevê-las. Se é só assim que essas teimosas dão as caras, que assim seja.<br /><br />(Quem sabe assim elas ficam animadinhas umas com as outras e resolvem dar uma grande festa cheia de palavras de todos os tipos em uma só organização?)<br /><br />...Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-70315799870740125892009-03-30T03:10:00.001-03:002009-03-30T03:14:58.210-03:00De uma Vontade de escreverEstou com vontade de escrever.<br />Entretanto não é aquela vontade a qual se pode controlar, sabe?<br />Não gosta de amarras, essa minha vontade.<br />Nunca gostou.<br />E está se recusando terminantemente a me ajudar com o final da história da Inspiração.<br />Na verdade eu acho que ela está com ciúmes.<br />Sim, é por todos sabido que Vontades e Inspirações têm suas rixas pessoais.<br />Isso ocorre desde os tempos imemoriais em que os animais falavam e as nuvens eram feitas de algodão-doce.<br />Até hoje não superaram essa desavença, pobrezinhas.<br />E quem sai perdendo com isso sou eu.<br /><br /><span style="font-style:italic;">(Ou vocês, que eu tenho certeza de que estão fervendo de curiosidade para saber o que aconteceu quando fui resgatar minha Inspiração naquela cadeia perdida de Roshgrangeon U.U”)</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-58108847266162263812009-01-29T18:09:00.002-02:002009-01-29T18:11:21.526-02:00Em Busca Da Inspiração Perdida - Parte IEra uma noite como outra qualquer e lá estava eu, esticada em minha cama, as janelas do quarto escancaradas e o ventilador de teto ligado no máximo em uma vã tentativa de espantar o calor ridiculamente excessivo dessa época do ano.<br /><br />Não conseguia dormir. Olhei no relógio, passava das quatro da manhã.<br /><br />— Ah. Como eu adoro passar calor — resmunguei enquanto levantava da cama e buscava em minha estante alguma coisa para ler — Hum, poderia ir tomar um banho gelado, talvez isso me fizesse bem — continuei dizendo, talvez para o desenho da Princesa da Babilônia que me espiava da capa do livro do Voltaire jogado em cima do meu criado-mudo, enquanto caminhava em direção à porta.<br /><br />— Nevermore! — gritou alguma coisa às minhas costas.<br /><br />Nevermore.<br /><br />Sim, isso era, afinal, um som muito natural de se ouvir às quatro horas da manhã em meu apartamento.<br /><br />Ainda se fosse no alto de uma torre sombria, durante uma noite escura, tempestuosa e gelada, ouvindo as ondas do mar chocarem-se com fúria nas pedras lá em baixo e lendo, à luz de uma única e parcialmente derretida vela, Edgar Allan Poe, vá lá.<br /><br />Mas em uma madrugada de calor infernal no oitavo andar de um prédio amarelo e cor-de-rosa erguido há uns vinte e poucos anos num bairro afastado da cidade de São Paulo?<br /><br />Sim, muito natural.<br /><br />Virei-me lentamente, sem saber exatamente se queria ou não saber o que diabos teria gritado “Nevermore!” do beiral da minha janela.<br /><br />E qual foi o meu espanto, então, ao ver um belíssimo pássaro vermelho e dourado com o rabo de lindas plumas coloridas e um bico curvo de marfim a me observar com olhos negros estranhamente opacos emoldurados por óculos de aro-de-tartaruga empoleirado entre as grades da minha janela.<br /><br />Não que eu estivesse exatamente esperando um corvo negro caindo aos pedaços pousado em cima de um busto de pedra, mas...<br /><br />— Nevermore!<br /><br />Bem, com certeza aquilo deveria ser ainda mais natural.<br /><br />— Olá — comecei eu, e parei. Ótimo, já estava começando a falar com pássaros bizarros surgidos sabe-se lá de onde empoleirados sabe-se lá por quê no beiral da minha janela.<br /><br />Eu devia começar a fazer análise.<br /><br />— Hã! Quê? Ah! Olá! — respondeu o pássaro num pulo, piscando assustado e olhando em volta.<br /><br />— Ah...<br /><br />— Oh, puxa, que coisa, dormi no serviço de novo! — exclamou a ave abrindo as enormes asas e se ajeitando novamente — Perdoe-me, cara Carolina, mas, sabe como é, vida de Fênix não anda fácil nesses tempos modernos, a gente anda sempre pra lá e pra cá mandando mensagens e salvando vidas e ninguém acredita que a gente existe de verdade e a gente tem que se explicar e fazer e acontecer e na hora de alguém dizer alguma coisa a respeito nunca dizem “ah, foi a Fênix que me ajudou”, não, é claro que não; é sempre o herói, a princesa, o mago ou qualquer um desses humanos imbecis quem salvou o mundo e merece todas as honras e a Fênix, quem é essa tal Fênix?, esses bichos nem existem de verdade, é tudo de mentirinha, você ainda acredita em conto-de-fadas?, ah, mas que coisa, aí eu fico tão cansada, não tenho tempo nem para comprar umas lentes de contato, e... — parou para tomar fôlego e olhou para mim com olhos lacrimosos — Ah, tudo o que eu queria era poder ser um corvo preto.<br /><br />Pisquei, aturdida com aquela enxurrada de palavras saídas do bico da tal Fênix.<br /><br />— Hum — comecei eu. Não tinha tanta certeza de que deveria encorajá-la a falar de novo, a mim parecia ser ela um daqueles tipos de pessoas – ou aves – que preferia monólogos ao invés de diálogos. Em todo o caso, minha curiosidade falou mais alto do que o meu amor pelos meus ouvidos, e continuei — Então você - o senhor - a senhora - estava dormindo...?<br /><br />— Ah, estava, sim! Viagens longas me deixam por demais cansada, sabe? Vai ver você não reparou porque eu desenvolvi uma técnica – rê rê rê não conta isso pra ninguém se não eu vou acabar demitida – de tirar uns cochilos com os olhos abertos, sabe, coisa bem fácil quando você é uma Fênix maravilhosa como eu e pode fazer praticamente qualquer coisa, mas, então, se descobrirem isso eu posso perder fácil o meu emprego, e... Ah! É! O meu emprego! É claro que eu não vim até aqui à toa, tenho coisas a lhe dizer! Puxa vida, que grande charlatã eu sou!<br /><br />Ah. Ela tinha coisas a me dizer, então. É claro que tinha. Várias. A questão era, será que eu queria mesmo escutar?<br /><br />— Eu já estava perdendo o fio da meada, você viu só como eu sou? Desculpa, nem todas as Fênix são assim, é que eu ando meio atarefada, sabe, e—<br /><br />— Você disse que tinha coisas do seu trabalho a me dizer... — interrompi-a.<br /><br />— Ah, é verdade! Então — disse, retirando um pedacinho amarelado de papel do meio de suas penas e começando a lê-lo — “Olá, Carol. Venho por meio desta (e espero do fundo do meu coração que esse estrupício penado consiga entregar-lhe esta mensagem...” Ei, eu não sou um estrupício penado! Sou uma grandiosa e imponente fênix, um animal mitológico muito raro e em extinção e... <br /><br />— Hum, talvez você pudesse me entregar o bilhete...? — tentei.<br /><br />— É, talvez eu até pudesse, mas acho que estrupícios penados não conseguem sequer entregar bilhetes para as outras pessoas, ou será que conseguem?<br /><br />— Na verdade eu acho que conseguem, sim.<br /><br />— Ora! — disse a Fênix, estalando o bico, amarrando a cara e entregando-me de muito mal gosto o tal pedaço de papel amarelado.<br /><br />“Olá, Carol.<br /><br />Venho por meio desta (e espero do fundo do meu coração que esse estrupício penado consiga entregar-lhe esta mensagem) avisar-lhe que uma Inspiração de cabelos azuis vestida com roupas coloridas e óculos escuros vermelhos foi encontrada jogada, completamente bêbada, em uma sarjeta da cidade de Roshgrangeon por um guarda decididamente mal-encarado que resolveu trancá-la em uma das duas celas da Nem Tão Grande Assim Prisão Quase Nunca Utilizada de Roshgrangeon. Como soube que sua Inspiração andava desaparecida e as características daquela encontrada assemelham-se muito com as dela, imaginei que talvez você quisesse vir procurá-la. Estou no momento em busca de algumas ervas mágicas na Grande Floresta Verde de Gorgafroom, que faz divisa com Roshgrangeon, qualquer coisa entre em contato.<br />Fique em paz.<br /><br />Profeta Zé Apocalipse.”<br /><br />— É — pensei, ao terminar de ler o bilhete — Acho melhor ir buscar minha toalha.<br /><br /><span style="font-style:italic;">(Continua, obviamente. Quero dizer, pelo menos eu espero continuar, encontrando minha Inspiração onde o Profeta Zé Apocalipse disse que ela poderia estar.)</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-75973483909979118032009-01-15T04:05:00.003-02:002009-01-15T04:10:58.323-02:00Sobre as coisas como elas não sãoAo amanhecer de uma noite ligeiramente ébria estava esta que aqui vos escreve sentada num dos bancos azuis do fundo de um Terminal Capelinha, olhando pela janela sem realmente ver o que se passava por trás do vidro e ouvindo o álbum Division Bell, do Pink Floyd.<br /><br />Não pensava em nada em específico, só ouvia a música e lutava contra o insistente sono.<br /><br />Em uma das paradas do ônibus, eis que sobe no veículo uma senhora baixa, meio gorducha, de cabelos gritantemente vermelhos e roupas que combinavam muito bem: calças amarelo marca-texto e uma camisa azul-marinho com bolotas coloridas.<br /><br />Não tive como não reparar. Talvez se ela tivesse pendurado uma melancia no pescoço o visual ficasse ligeiramente mais apresentável, mas, em todo o caso, o fato foi que aquela explosão de cores fez-me pensar sobre algumas coisas.<br /><br />Não, não foi que talvez a pobre mulher não tivesse dinheiro o suficiente para possuir um espelho de corpo inteiro em casa ou em como o mundo poderia ser muito mais esteticamente agradável se fosse possível adquirir um concentrado de Senso de Ridículo em qualquer farmácia.<br /><br />Lá, sentada num dos últimos bancos azuis do ônibus, observando com ligeiro ar de riso aquela explosão de cores que se materializava na gorducha senhora ridiculamente vestida, pensamentos obscuros sobre a relatividade das coisas começaram a dançar uma ciranda na varanda do meu cérebro.<br /><br />A vermelhidão do cabelo da senhora, por exemplo.<br /><br />Será que aquela cor intensa e vívida que eu enxergava com meus míopes e astigmáticos olhos castanhos era a mesma cor que o garoto de boné postado em frente à porta via quando olhava para aquela mulher?<br /><br />Será que o vermelho que eu vejo é o mesmo vermelho que ele vê, que você vê, que qualquer um vê?<br /><br />Se uma pessoa, desde que se entende por gente, acostuma-se a dizer que a cor do céu é azul, a cor do céu, para aquela pessoa, será azul, mesmo que o que ela veja seja o que eu chamaria de verde. Estando ela acostumada a chamar o que eu chamaria de verde de azul, o verde, para aquela pessoa, seria azul.<br /><br />Ou não.<br /><br />As relatividades e as dependências dos pontos de vista para qualquer situação são um tanto quanto frustrantes, não são?<br /><br />Digo, até hoje não tenho a certeza absoluta de que aqueles que me cercam existem realmente.<br /><br />Talvez vocês todos sejam apenas um fruto da minha imaginação.<br /><br />Talvez eu mesma seja um fruto da minha imaginação.<br /><br />Como posso ter a certeza de que alguma coisa é realmente alguma coisa, seja lá que alguma coisa essa alguma coisa gostaria de ser, se é da minha percepção que irei me valer ao analisar essa alguma coisa?<br /><br />O que eu quero dizer – se é que quero mesmo dizer alguma coisa e não simplesmente escrever palavras a esmo numa página em branco do Blogger – é que esse é o tipo de coisa sobre a qual o melhor a se fazer é varrê-la para debaixo do tapete e ir assistir à uma partida de bocha alienígena bebendo vodkas Alkällesiahnas.<br /><br />Ou não, também.<br /><br />42.Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-52054511878111047782009-01-13T00:18:00.003-02:002009-01-13T00:25:35.336-02:00Da Gaveta do Meu CérebroCerta vez abri uma gaveta do meu cérebro e de dentro dela pulou um gato listrado de óculos escuros que fumava um charuto cubano.<br /><br />Ele olhou para mim com seus olhos que mudavam de cor e disse:<br /><br />“Ande sempre com a chave! Nunca se sabe quando será preciso trancar a porta.”<br /><br />Foi então que tudo finalmente fez sentido pra mim: um arco-íris desbotado brilhou num céu de caleidoscópio e eu pude ouvir as guitarras distorcidas dos guardiões de um paraíso que não existe.<br /><br />Mas aí, no segundo seguinte, quando o silêncio imperou, o tudo se fez nada; o gato sumiu numa nuvem de fumaça e o sentido de todas as coisas do mundo fugiu de mim como as areias de uma ampulheta quebrada.<br /><br />...<br /><br /><span style="font-style: italic;">(É. É velho. Quase todos os que frequentam - agora sem meu querido trema - o meu humilde blog já o conheciam. Mas, e daí? Minha Inspiração ainda não voltou da farra do Ano Novo. Deve estar bêbada e perdida em algum lugar psicodélico e isolado da civilização. Se alguém a vir, por favor, entre em contato. E feliz começo de ano para todos.)</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-13160136550223215962008-12-14T22:43:00.002-02:002008-12-14T22:45:59.295-02:00Aurora Cor-de-rosaAmanhecia.<br />Cor-de-rosa.<br />O céu de São Paulo amanhecia cor-de-rosa.<br />As ruas estavam vazias, estranhamente mais coloridas.<br />Os passarinhos cantavam o que aos meus ouvidos soava como as músicas dos clássicos da Disney.<br />O Sol surgia sonolento por entre as nuvens e prédios cinzentos, derramando vermelho e dourado a cada bocejo.<br />Amanhecia.<br />Cor-de-rosa.<br />A minha alma amanhecia cor-de-rosa.<br /><br />...<br /><span style="font-style:italic;"><br />"Babe, babe... I love you"</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-54776265774225527872008-12-09T03:19:00.003-02:002008-12-09T03:26:07.422-02:00O Primeiro Beijo<span style="font-style:italic;">(Nota: Remexendo em gavetas velhas e mofadas em busca de alguma coisa da qual não me lembro mais o que era, encontrei alguns textos por mim escritos nos idos anos de 2004 e 2005.<br />Um deles é este aqui, escrito para uma aula de redação.<br />Como ficou bonitinho e estou meio sem criatividade ultimamente, resolvi postá-lo como memória aos tempos de colegial.<br />E é isso aí.)</span><br /><br />***<br /><br />A garota permanecia parada no jardim, as mãos pequeninas suando frio e as pernas ligeiramente tortas tremendo levemente. Percebia as figuras imóveis à sua volta, bancos e mesas misturando-se às plantas na escuridão iluminada apenas pela lâmpada elétrica acima da sua cabeça. Ouvia os risinhos femininos abafados vindo por todos os lados, mas fingia não saber do que se tratava.<br /><br />Enfiou às pressas uma bala de menta na boca, enquanto tentava o mais dissimuladamente possível controlar os pensamentos frenéticos que lhe assaltavam o cérebro. Esperava por aquele momento há tanto tempo e, finalmente, aquele seria o dia! Por tantas vezes havia visto nos filmes e novelas aqueles beijos dos casais apaixonados, sonhando com o dia em que... e ela já era quase uma moça, havia acabado de completar seus doze anos!<br /><br />Aquela festinha não fora por acaso. Tivera todo o cuidado de planejá-la com antecedência, com a ajuda de suas melhores amigas, para que caísse no dia certo em que ele pudesse comparecer. Arranjaram CDs de música para se dançar pertinho, fizeram bailinho, tudo conforme o figurino. Ela se arrumara como quase nunca fazia, passando batom, repartindo o cabelo encaracolado em duas tranças, escolhendo sua melhor roupinha. Até então ia tudo de acordo, eles já haviam dançado, já haviam conversado, suas amigas já haviam falado com os amigos dele...<br /><br />E ali estava ele, bem à sua frente.<br /><br />Seu pequeno pé batia insistentemente no chão, acompanhando o descompasso acelerado de seu coração. Começou a brincar com o cabelo numa vã tentativa de esconder a timidez, pensando em alguma coisa para dizer-lhe enquanto tentava tomar coragem para olhar bem diretamente para aqueles olhos tão bonitos e tão simpáticos. Sua voz, porém, parecia ter tirado férias, enquanto seus olhos pareciam ter sido hipnotizados pelo botão amarelo da camiseta do garoto.<br /><br />Endireitou sua blusinha cor-de-rosa, então, percebendo que seu acompanhante, prendendo a respiração, dava um passo em sua direção. Olhou para o lado, enrubescendo, seu hálito de hortelã se misturando com o perfume cítrico do menino. Via que suas cabeças agora se aproximavam cada vez mais, estavam a cada segundo mais perto. Estavam cada vez mais perto, cada vez mais perto... podia contar as sardas do rosto dele, se quisesse... mas, obviamente, ela preferiu fazer outra coisa.<br /><br />...Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-6720519354450869292008-11-27T02:26:00.001-02:002008-11-27T02:33:20.366-02:00Considerações sobre o futuro de Caranguejo ExcêntricoEra por volta das três horas da madrugada e lá estava Caranguejo Excêntrico no alto de sua agora não tão inatingível – pelo menos para uma certa pessoa em particular – Torre de Marfim, sentada em sua poltrona verde favorita e observando despreocupadamente o Mundo Real com seu telescópio mágico tecido de sonho.<br /><br />Tentava imaginar, apesar do aperto que aquilo lhe causava, o quê diabos estaria fazendo naquele exato momento dali a uns quatro ou cinco anos.<br /><br />Ela sempre se arrependia quando começava a voltar seus pensamentos para esse tipo de coisa, era como se um balde de gelo fosse virado em seu estômago e um pelicano gigante fizesse ninho na sua cabeça. Mas agora não havia como voltar atrás, observar o distante Mundo Real empurrara suas já irrefreadas idéias para este caminho e elas sempre foram muito teimosas para que ela conseguisse reconduzi-las rápido o suficiente para um terreno seguro. Só lhe restava, então, pensar no que quer que suas idéias quisessem pensar, até que numa hora ou outra o pensamento se cansasse desse tema em específico e voltasse a atenção para coisas mais agradáveis.<br /><br />Pois bem, o que seria de Caranguejo Excêntrico dali a uns cinco anos? Teria a Síndrome de Peter Pan ido embora? Poderia ela vestir-se com seus panos sóbrios e adultos sem precisar despir-se dos leves e coloridos véus da inocente fantasia infantil que tanto idolatrava? Conseguiria ela por fim estabilizar-se sem contudo cair na armadilha terrível e hedionda da estagnação? Estaria ela, pois, simplesmente feliz?<br /><br />Caranguejo Excêntrico balançou a cabeça e serviu-se de uma xícara quadriculada de Berguelotes fresquinhos, apontando seu telescópio para suas psicodélicas e verdejantes terras de Manskaoosin.<br /><br />Aquele, sim, era o lugar ideal para se viver. Em seu maravilhoso e surreal reino particular de Manskaoosin Caranguejo Excêntrico poderia ser exatamente quem gostaria de ser. Poderia conviver apenas com aquelas pessoas das quais ela apreciava a companhia, poderia ouvir apenas o tipo de música que lhe apetecia, poderia estudar precisamente o que lhe agradava. Ali ela era a Imperatriz. Ali, era única.<br /><br />Mas ela sabia que seu lindo e confortável mundo paralelo não lhe era acessível senão nas poucas horas durante as quais o poderoso Sol deixava-se cair irresistivelmente hipnotizado pelos mistérios obscuros da sedutora Lua. E, mesmo que pudesse permanecer ali para sempre, será que seria realmente bom? Será que toda aquela sua fantasia maravilhosa não era perfeita demais justamente porque não passava, porque não poderia passar de fantasia?<br /><br />Manskaoosin havia sido criada para que nela Caranguejo Excêntrico pudesse recarregar suas baterias, arejar seus pensamentos, enlouquecer sem de fato ficar louca. Era seu refúgio. E não havia como ser mais do que isso.<br /><br />Caranguejo Excêntrico fechou os olhos, já irritantemente cheios d’água, e respirou profundamente algumas vezes.<br /><br />Precisava tomar coragem para mergulhar de cabeça naquele tal Mundo Real, entretanto o último concentrado desse tipo parecia ter sido entregue ao Leão Covarde pelo Mágico de Oz há algum tempo e andava em falta nos mercados-vermelhos dos mundos paralelos.<br /><br />— Bem, quem sabe um genérico funcione, não é? — disse para si mesma, espreguiçando-se preguiçosamente enquanto seus pensamentos começavam a entoar um sonolento mantra manskaoosinista e perdiam-se completamente daquele assunto desconfortável do início — Acho que vou tentar fazer bolhas quadradas de sabão, então.<br /><br />...<br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">“I'm gonna love you ‘till the stars fall from the sky for you and I”.</span>Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-81878293212853560312008-11-24T04:15:00.002-02:002008-11-24T04:18:22.513-02:00InsonhoSonhos!<br />Sono?<br />Insone.<br />Sony!<br />Sono.<br />Sonhos?<br />Insônia...<br />Sônia...<br />Sonha.<br />Sono!<br />Sem som?<br />Sem sono?<br />Sem sonho.Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-4750570012838811942008-11-11T02:03:00.003-02:002008-11-11T02:11:37.688-02:00Devaneios no MetrôMetrô de São Paulo, linha que leva nada a lugar nenhum, sete horas da noite.<br /><br />Estava eu praticando meu esporte predileto nesse tipo de situação – esporte este que consiste em observar e analisar descaradamente as pessoas à minha volta – quando notei, bem à minha frente, sentado em um dos bancos reservado para idosos e deficientes, um homem barrigudo de cabelos grisalhos que lia um livrinho fino de aparência comum.<br /><br />Gutembergomaníaca que sou, pus-me então a tentar decifrar qual livro aquele tal seria.<br /><br />Um livro de auto-ajuda, talvez? Do tipo “Como perder 10 kg em uma semana”? Sua <span style="font-style:italic;">pequena</span> barriga certamente acharia um desses muito útil.<br /><br />Poderia também ser um daqueles livros melosos e românticos de banca-de-jornal, tipo Sabrina, Stéphanie, Paola... não, não; quem costuma ler esses livros são garotinhas fúteis e velhinhas frustradas. (!)<br /><br />Ah! E se fosse um livro erótico daqueles “Kama-Sutra para iniciantes” ou “Livros para se ler com uma mão só”? Hohoho, isso seria interessante; poderia aquele distinto senhor barrigudo ser um tiozão pervertido que—<br />Hum. Deixa pra lá.<br /><br />Finalmente o homem pousou o livro em seu protuberante abdome, de capa virada, permitindo-me então que lesse o título: <span style="font-style:italic;">“O porquê do himem – Este é um livro que deve ser lido! Todos os homens e mulheres que foram adolescentes na década de 1960 devem ler este livro para aprender como ter de volta tudo aquilo que o Diabo roubou. O amor livre foi o pior erro dessa geração, as conseqüências disso são o grande numero de divórcios—</span><br /><br />Fiquei alguns instantes em choque. Precisei virar-me de costas e me esconder entre alguns pares de braços e mãos para não rir abertamente e correr o risco de ouvir um sermão inflamado do homem barrigudo dono do livro sobre o “porquê do himem”.<br /><br />Voltei a observar o tal senhor. Cabelos grisalhos, rugas de expressão, olhos escuros e fundos. Quantos anos teria? Uns sessenta? Teria ele sido jovem durante a liberação sexual do meio do século XX? Teria ele ouvido Beatles, usado LSD e sido hippie naquela época? Estaria ele passando por dificuldades no casamento e, não sabendo mais em quê se apoiar, voltando-se para a religião, resolveu colocar a culpa em coisas que aconteceram há quase cinqüenta anos atrás, com o agravante de ter sido levado pelo diabo?<br /><br />É, não sei como ainda me surpreendo com certos exemplares da minha espécie. Muito mais fácil pôr a culpa no demônio do que arcar com as conseqüências dos próprios atos.<br /><br />Sim, é claro, porque foi justamente isso. O Diabo que roubou a moral e a decência dos adolescentes dos anos 60, por isso tem tanta gente se divorciando hoje em dia.<br /><br />Obviamente; nada mais natural. E foi nisso que fiquei pensando enquanto voltava para casa e colocava-me a escrever sobre o ocorrido.<br /><br />Deveríamos ainda casar todas virgens, os garotos sendo iniciados por prostitutas, uma vez que precisavam chegar ao casamento sabendo <span style="font-style:italic;">desse tipo de coisa</span>. <br /><br />Deveríamos continuar com um casamento, por mais infeliz e perturbado que fosse, apenas para manter as aparências, porque a igreja e a sociedade diziam ser o casamento uma união única e indissolúvel.<br /><br />É, deveríamos mesmo voltar a viver como famílias do século XIX; naquela época não havia tanto divórcio, não é? Mas isso significa necessariamente que as pessoas eram mais felizes?<br /><br />Nada contra o casamento ou a virgindade, desde que a pessoa tenha optado por isso por livre e espontânea vontade em busca da própria felicidade. Acontece que foi justamente só depois das revoluções culturais da década de sessenta que foi possível ao indivíduo escolher. E se Deus é amor e quer o bem à Sua criação, privilegiando-a até mesmo com o próprio Livre-Arbítrio, não entendo qual o problema em se ter a possibilidade de escolher, não entre o pecado e a pureza, mas sim entre a felicidade e a frustração.<br /><br />E não me venham com discursos prontos de <span style="font-style:italic;">felicidade da matéria X felicidade do espírito</span>, não acredito que se possa ser verdadeiramente feliz sem que haja equilíbrio entre as duas.<br /><br />E... e chega, que cansei de escrever.Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2913915837089049192.post-43265115791730126962008-10-30T01:46:00.003-02:002008-10-30T02:33:51.222-02:00Tutorial de Como Matar Uma Mariposa GiganteEstávamos nós, eu e Thiago, calmamente sentados no sofá da casa da minha avó em Águas de São Pedro, altas horas da madrugada, assistindo ao Novo Tele Curso – que, aliás, é realmente muito novo, diga-se de passagem; as placas dos carros que passavam na gravação ainda eram amarelas, os ônibus eram brancos com uma linha vermelha no meio e as pessoas usavam aqueles penteados cheios lindos do começo dos anos 90 e aquelas calças de cintura alta coloridas – quando, de repente, eis que essa que aqui vos escreve nota alguma coisa muito preta e muito nojenta delicadamente (?!) pousada no vidro da janela.<br /><br />— Thi... Aquilo ali é uma barata ou uma borboleta? — perguntei, temendo a resposta.<br /><br />Como todos bem sabem, eu tenho um certo, hum, como poderia dizer?, receio de borboletas.<br />Na verdade, não é bem um receio.<br />É medo, mesmo.<br />Pavor.<br />E não tem explicação nenhuma pra isso, exceto que minha avó também tem.<br />Já me disseram que, de acordo com a psicanálise, pode ser que esse meu pé atrás em relação às borboletas (escrever aqui “meu pavor de” seria mais correto, mas faria com que me sentisse idiota, então, deixa pra lá) e qualquer coisa que voe de maneira geral seja porque eu tenho inveja da liberdade que esses animais têm por poderem voar.<br />Talvez.<br />Mas se voar for mesmo só uma questão de errar o chão, então...<br />Ah, deixa pra lá.<br />Voltando ao que aconteceu.<br /><br />— Thi... Aquilo ali é uma barata ou uma borboleta?<br /><br />— Acho que é uma borboleta... ai, não, acho que é uma mariposa!<br /><br />Foi o tempo de processar a palavra “mariposa” e ligar o nome ao bicho que os dois corajosos urbaninhos puseram-se de pé num pulo e foram refugiar-se no extremo oposto da sala, quase que atrás da mesa.<br /><br />— E agora? Você vai matar? — perguntei, em meu desespero crescente.<br /><br />— Matar isso aí? Ai. Tem SBP? Ai.<br /><br />Bom ter um namorado que tem tanto medo de mariposa quanto eu.<br />Lá foi a garota do cabelo roxo desbotado em busca da salvação e do alívio que se materializavam em um vidro de SBP.<br /><br />— Olha, tá aqui. E o pano. — eu disse, entregando-lhe as armas, assumindo uma expressão de “eu confio que você vai voltar vivo” digna de esposa de soldado em véspera de batalha e tratando de sair rapidinho dali.<br /><br />Pobre Thiago. Foi-se chegando de mansinho ali perto da janela, entrincheirando-se atrás do sofá, as armas em punho, uma expressão de determinação no rosto. Engatilhou o vidro de SBP e disparou uma, duas, três vezes, dando um passo para trás a cada vez que a mariposa esboçava qualquer sinal de tentar se mexer.<br /><br />— Ô Thi... acho que você tem que espirrar mais em cima dela, não? — balbuciei do meu esconderijo na cozinha.<br /><br />— Tô tentando!! — disse ele, e espirrou uma quarta vez. Oh, céus. Para quê. E não foi que a mariposa maldita resolveu levantar vôo?<br /><br />Não deu nem uns três segundos e eu já estava escondida atrás da porta da lavanderia, com um cachorro poddle preto com cara de sono a me observar desaprovadoramente e um sentimento nada propício de que não deveria ter deixado meu pobre namorado lutando sozinho com aquele monstro.<br />Cadê sua coragem, Carolina!<br />Juntei minhas forças, ou o que sobrara delas, e voltei para o campo de batalha.<br /><br />— Thi?<br /><br />— É melhor você ficar aí. Ela tava voando; agora tá pendurada no sofá.<br /><br />— Ai. Vou tentar abrir a porta pra ela sair!<br /><br />Brilhante idéia, Carolina. Brilhante. Como você pretendia fazer aquilo sem passar por aquele monstro mutante?<br />Mas lá fui eu, exemplo da coragem feminina, pulando a qualquer tremida de asas da mariposa, abrir a porta. E consegui sair ilesa da missão, vivas para mim! Entretanto, quem não quis entrar na brincadeira foi a mariposa. Lá ela continuou, pousada no sofá, parece que zombando das nossas tentativas frustradas de fazê-la ir embora.<br /><br />— Taca mais SBP! — eu disse.<br /><br />Acabamos com o vidro de SBP; nada. Busquei outro. No que o Thiago abriu o frasco aquele demônio alado, talvez prevendo outra tentativa homicida da nossa parte, abriu suas enormes asas negras e amareladas e partiu para cima do coitado.<br /><br />— AH! AHHH! ELA TÁ ME ATACANDO!!!<br /><br />— AAAAHHHHH!!!!<br /><br />Corremos para a cozinha. De lá, observávamos a astúcia da mariposa, voando calmamente pela sala. Depois de algum tempo, ela se escondeu em baixo da mesa.<br /><br />— É agora! — eu disse — Mais SBP!<br /><br />Espirramos mais SBP naquela mutação genética, que começou a se debater freneticamente. Esboçou mais algumas tentativas de vôo, frustradas pelo veneno, e pôs-se a cambalear pelo chão da sala.<br /><br />— Ah, agora fica mais fácil, né? — eu disse.<br /><br />— É, né... — respondeu o Thiago, e ficou me olhando — Mas ela ainda tá fugindo.<br /><br />Depois de algumas tentativas frustradas de tiro ao alvo com meus chinelos, eis que Thiago teve a brilhante idéia de jogar o pano em cima da mariposa.<br /><br />— Você joga — falei.<br /><br />E ele jogou. Acertou em cheio as asonas pretas e nojentas da mariposa.<br />E lá ficou, aquele monstro diabólico e perverso, debatendo-se debaixo do pano de chão sujo.<br /><br />— Você vai pegar a bichinha? — perguntei, suplicante, mas já sabendo a resposta.<br /><br />— Há. De jeito nenhum. Deixa ela aí!<br /><br />Mas eu não podia deixá-la ali.<br />Ela se debatia, o pano mexia, começava a me dar uma agonia danada de ver a agonia da pobrezinha.<br />Sim, ela era um monstro vindo direto do inferno, mas, ainda assim, a hora da morte de qualquer ser vivo deve ser respeitada.<br />E foi por isso, por piedade, que eu não tive dúvidas e pisei em cima do pano. Uma, duas, três vezes. Dancei um sapateado romeno em cima da bicha, até ter certeza de que ela não iria se mexer mais.<br /><br />— Pronto. Agora você pega? — perguntei.<br /><br />— Eu, heim!! — respondeu Thiago se afastando.<br /><br />Então, como não havia mais jeito, fiz eu o trabalho sujo de me livrar do corpo. Deitei-o no jardim, com pano e tudo, da maneira mais rápida e limpa que pude encontrar.<br /><br />E foi assim que se deu a batalha épica de dois urbaninhos guerreiros e extremamente corajosos com um terrível monstro alado saído direto dos últimos círculos do inferno.<br />Por favor, crianças, não tentem isso em casa. Um negócio desses pode causar danos psicológicos irreversíveis...<br /><br />E fim.Caranguejo Excêntricohttp://www.blogger.com/profile/13144373782729624041noreply@blogger.com74