segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os Gambás com Trouxas Coloridas III - Le Grand Finale

Gambás.
Trouxas coloridas.
Rum?


0000Acordei em um estabelecimento nauseantemente rosa, com plumas salmão, paetês prateados e sedas coloridas.
0000- Ah, bom dia, Bela Adormecida! - disse Dalton, o gambá gênio-incompreendido - Dormiu bem?
0000- Você tá falando sério? - perguntei, esfregando a cabeça - Que tipo de pessoa leva outra por livre e espontânea obrigação - com o auxílio de uma marreta, diga-se de passagem - para um lugar xis...
0000- Gambás.
0000- Ah.
0000Olhei em volta. Nunca antes havia imaginado que gambás pudessem viver em locais tão "simpatizantes" quanto aquele.
0000- Pois bem. Agora que faz parte de nossa tripulação - disse Dalton - creio que devo informar-lhe o motivo de encontrar-se aqui.
0000- Sim, eu... tripulação?
0000- Você tem a honra de ser a primeira humana a embarcar no glorioso Didelphis Ship, o mais terrível, mais veloz...
0000- E único - interrompeu um esquilo de moicano e tapa-olho rosa pink saindo de trás de um barril coberto com lantejoulas.
0000- ...navio pirata animal da atualidade - terminou Dalton e, virando-se para o esquilo, continuou - Ovídio! Não enche! Nem didelphídeo você é. Ponha-se no seu lugar e lembre-se de que só está aqui porque eu gostava da sua mãe.
0000- Bah, grande coisa. Odeio tudo isso.
0000Ah, sim, agora tudo começava a fazer sentido. Eu estava num navio animal gay com um gambá metido a intelectual e um esquilo rebelde que falava português. Sim, nada mais natural. Águas de São Pedro não é uma cidade perdida no meio do mato caipira, não, de jeito nenhum! É uma cidade praiana. E gambás têm navios. Navios gays. E, como eu não sabia disso?, todos eles falam português.
0000- Hã... desculpe a intromissão, mas... - comecei - é... achei que só o Dalton soubesse falar português.
0000- Pfffff! - riu-se o esquilo Ovídio - Ele é o único gambá que sabe. Gambás são burros. Não são como os esquilos. Esquilos são beeeeem mais inteligentes. E falam português fluentemente. Até gíria eu sei, tá ligada?
0000- Tô. Ligadérrima...
0000- Aaaara, chega de blá blá blá inútil. Ainda não contei para nossa convidada o porquê de sua presença - e, apanhando uma garrafa de rum de dentro de um armário florido, continuou - Aceita uma bebida?
0000- Nem precisa perguntar - respondi, agarrando a garrafa das garrinhas dele e virando uns três goles - E aí?
0000- No princípio, não havia nada. Então Deus disse: "Faça-se a luz!", e a luz se fez. Então...
0000- Francamente, Daltô! - interrompeu outra vez Ovídio - Vamos fazer uma versão compacta, aí, sim? Se não ela vai precisar do teu estoque inteiro de rum.
0000- Bah! Tá certo. Então, é o seguinte: Minha família, aqueles simpáticos gambás que você já conheceu...
0000- Simpaticíssimos!
0000- ...moraram a vida inteira no Grande Palácio Luminoso Do Capitão Do Didelphis Ship...
0000- O forro da casa da minha avó.
0000- ...e tinham uma vida saudável e feliz por lá, até que, numa noite terrível, o Malvado Ser De Óculos e Bengala...
0000- Meu avô?
0000- ...criou o Escabroso Ruído Fritador de Mentes Gambíticas...
0000- Aquele aparelhinho elétrico para espantar ratos?
0000- ...fazendo com que todos eles encafifassem que precisavam chegar até Paris e se tornarem mini-cheffs da cozinha francesa do Mestre Gusteau.
0000- !!!
0000- Por conta disso, armaram-se com as Trouxas Coloridas da Sabedoria - elemento indispensável para qualquer gambá que necessite de ajuda espiritual - e saíram mundo afora, totalmente perdidos e bitolados com a situação.
0000- Eu disse que gambás eram burros - comentou Ovídio.
0000- A sorte deles foi que, no momento em que estavam se preparando para tal empreitada, eu, enquanto bebia rum recostado no meu sofá de pelúcia pink, tive a estranha sensação de que precisava consultar minha Trouxa Colorida da Sabedoria. Ela, então, avisou-me o que eles pretendiam, e eu, como todo bom Irmão Que Sustenta a Família deveria fazer, vim em seu auxílio.
0000- Huuum, sei - eu disse, bebendo outros três goles de rum - E eu estou aqui porque...
0000- Bem, acontece que você nos viu indo em busca Daquilo Que Os Gambás Mais Querem...
0000- A parada do Mini Cheff na França? - perguntei - Mas isso não era por conta do aparelhinho contra ratos, digo, do Ruído Fazedor de Ovas-Fritas?
0000- Sim, sim. Mas independente disto, era o que Os Gambás Mais Queriam no momento, então o Código precisa ser aplicado - respondeu Dalton, pegando sua Trouxa Colorida - E é Escabroso Ruído Fritador de Mentes Gambíticas.
0000- Ok. E o código diz...?
0000- Que devemos... - começou ele, retirando uma faca gigantesca de dentro da trouxa.
0000Aimeudeusiagoraelevaimematarqueporraeufaçoprasairdessapelamordezeus?!
0000- ... lhe ofecer um pedaço de pizza de calabreza - terminou, puxando também uma pizza enorme de dentro da trouxa e fatiando os pedaços com a faca.
0000- Ah, sim, hê! hê! hê! - suspirei, virando o resto do rum que havia na minha garrafa - Obrigada, eu...
0000- Essa não! Vem comigo! - gritou o esquilo que chamava Ovídio, subindo por uma escada luminosa.
0000- Hã? Por quê? É só uma pizza de calabreza...
0000- VEM!!!!!
0000Diante de tão grande desespero, subi correndo a escada em seu encalço, deixando para trás um Dalton atônito e seus pedaços de pizza de calabreza cheios de muzzarela.
0000Ao chegar no patamar superior, percebi que o navio cor-de-rosa no qual eu estava encontrava-se ancorado na represa de Águas - para os que não estão familiarizados com aquele fim de mundo, uma pequena porção de água cercada de mato por todos os lados - e Ovídio lutava com cordas amarelas para baixar na água um pequeno bote pintado com as cores do arco-íris.
0000- É... Ovídio, o quê...
0000- Depois eu explico! Me ajuda aqui! Vai logo!
0000Juntos, baixamos o bote na água e remamos rapidamente até a borda, ouvindo ao longe os gritos desapontados de Dalton.
0000- Ahhh! Volta!!! São só pedaços de pizza!!! Volta!!! VOLTAAAAAAA!!!!
0000- E então? - perguntei, enquanto corríamos ladeira acima - Por quê... arre! Pára um pouco, minhas costelas estão doendo!
0000- Tudo bem - disse ele, parando e me encarando com uma expressão terrível- Você nunca, NUNCA deve aceitar um pedaço de pizza de calabreza de um gambá. NUNCA, entendeu? Principalmente se ele for pirata!!!
0000- Ah! Nossa, eu não sabia! Por quê?
0000- Eu não sei - continou ele, voltando a caminhar - ninguém nunca aceitou, não é mesmo?
0000- ...
0000- Vamos embora.
0000E então voltei para casa de vovó, em companhia de Ovídio, O Esquilo Rebelde. Nunca mais ouvi falar dos gambás, principalmente de Dalton, o Gambá Intelectual Capitão do Navio Gambá Gay. Quanto ao Ovídio, bem, o sonho dele sempre fora ser maestro de uma sinfonia húngara, então no dia seguinte ele se foi, em companhia de uma borboleta russa, buscar a fama nas estradas.
0000E eu, bem, eu voltei a dormir. Que mais poderia fazer?

FIM!
xD


"Yo-ho! Yo-ho! A pirate´s life for me!"

3 comentários:

Caranguejo Excêntrico disse...

Caaaara.
Ficou grande, né?
Me empolguei.
xD

Anônimo disse...

Ficou, é? Nem reparei... XD


Adorei!!! hiuahaiuahiauhaiua!!!!

É... XP... Sem imaginação pra nada mais inteligente... Mas a questão é dizer que li e adorei. Certo?

Mariana Leutwiler disse...

*depois de uma viajem ao tédio bem grande, cá estou eu novamente!*
Por Zeus, Ka... "disculp'eu" por ficar tanto tempo sem vir aqui...

mas então... adorei a história dos gambás... pra mim esse tipo de história só vem de 6 em 6 meses em ano que não é bissexto...

;*