quinta-feira, 24 de abril de 2008

O fusca cor-de-rosa


Era um fusca cor-de-rosa.
Nada de mais, apenas um fusca. Um fusca dor-de-rosa.
Foi encontrado no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
O estofado era branco, assim como a direção.
E as janelas eram pequenininhas.
No mais, era um só fusca.
Só que um fusca cor-de-rosa.
Era um fusca cor-de-rosa.
E o que tinha de tão especial este fusca cor-de-rosa?
Bem...
Ele era cor-de-rosa.
Ora, era um fusca cor-de-rosa!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Epifania

Uma cidade, uma bairro, uma rua.
Gente, fumaça, barulho, carro, ônibus, caminhão, prédio, ponte, avião, muro.
Pessoas cabisbaixas, isoladas em seus mundos particulares, apreensivas, apressadas, tristes, bravas, correndo, correndo, correndo.
Uma escadaria suja, poças líquidas com procedência desconhecida, alguma palavra ilegível pintada na parede.
Cinza, chumbo, asfalto, branco, preto, marrom, amarelado, esverdeado, desbotado, cor-de-rosa.
Cor-de-rosa?
Flores cor-de-rosa chapadas num céu incolor, emolduradas por estruturas acinzentadas, seguras por cordas emborrachadas e observadas por mentalidades metálicas.
Tudo pareceu fazer sentido, ficar colorido, ser desigualmente igual, anormalmente perfeito e perfeitamente anormal.
Segundos de uma visão única, muito movimentada e completamente parada, destoante, deslumbrante, desoladoramente fugaz.
No momento seguinte era só um mais um ipê cor-de-rosa florescendo em meio a prédios e carros na cidade de São Paulo.

...

"Você é bem grandinho, já pode se cuidar/ Ir seguindo seu caminho, sempre errando até um dia acertar"

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Episódio de Coração Gelado

. Coração Gelado estava apoiado na grade de sua varanda circular, no alto da Gloriosa Torre de Marfim, fumando um cigarro e observando, melancólico, a paisagem ao seu redor.
. - Coração Gelado!! – gritou-lhe uma voz vinda do jardim. Era Sigmund Solfieri, Jardineiro-Mor dos Castelos de Manskaoosin.
. - Sigmund!
. - Coração Gelado! Disseram as más línguas que o senhor havia derretido.
. - Pois é. Endureci, de novo. O passado se repetiu, a Rotina se instalou na minha poltrona favorita... E eu cansei – acrescentou, soltando anéis de fumaça.
. - Hum. Posso fazer alguma coisa pelo senhor?
. - Na verdade pode, sim. Suba aqui, acompanhe-me numa bebedeira.
. - Ora, com todo o prazer!


"Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades..."