quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ah, Futuro!

Ah, Futuro!
Por que me olhas assim, meio de lado, com esse sorriso enigmático?
Tens realmente que abrir a cortina por meio segundo e depois fugir, em teu cavalo alado, rindo histericamente aquele riso gelado?
Não, não te quero conhecer, Futuro.
Não, não me venhas com essas brincadeiras fugidias, cortejando-me como a uma prostituta do século XIX, bebendo vinho barato em uma taberna cheia de ratos engravatados.
Não, eu já disse que não quero saber.
Eu não quero.
Deixa-me terminar em paz meu último cigarro e beber meu último gole de vinho.
E não te demores, quando a hora finalmente chegar.
Porque o que tiver que ser, inevitavelmente, será.

...

"Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores canibais"

domingo, 20 de julho de 2008

Borboleta Cor-de-rosa

O grande senhor de bigodes negros acordou no meio da noite, com uma dor-de-cabeça terrível.
Levantou-se vagarosamente, apertando as têmporas com suas mãos gordas e, piscando seus lacrimejantes olhos castanhos, cambaleou até a cozinha cirurgicamente limpa, onde, então, tomou duas aspirinas muito brancas e muito redondas.
Estivera sonhando com o quê, mesmo?
Parecia algo relacionado a borboletas, mas ele não estava muito certo. A única coisa da qual se lembrava era um par de asas cor-de-rosa, mas isso não fazia muito sentido. Fazia?
Dirigiu-se para a sala-de-estar e deixou-se afundar pesadamente nas almofadas de uma poltrona de veludo vermelho, muito fofa e muito alta.
Parecia, por algum motivo inexplicável, ser de vital importância que se lembrasse do quê diabos estivera sonhando.
Fechou os olhos e tentou se lembrar.
Um par de asas de borboleta cor-de-rosa. Sim. Era cor-de-rosa, disso tinha certeza. E também que era um par de asas. E não haveria por acaso um jardim? Não, achava que o que havia era um castelo. Sim, um castelo de cristal, não era? Ou era uma bola de cristal? Havia mesmo alguma coisa de cristal? Agora ele não tinha sequer tanta certeza de que as asas eram mesmo cor-de-rosas... será que eram, mesmo, asas?
Levantou-se irritado e resolveu procurar pelo controle remoto da televisão.
- Que diabos, Nogueira! - reclamou consigo mesmo - Você é um homem de negócios tão bem-sucedido, vive se gabando de que nunca nenhum mínimo detalhe, de qualquer coisa que seja, lhe passou despercebido; e agora não consegue sequer se lembrar do que estava sonhando!?
Deu um pontapé dolorido em sua mesinha de centro, fazendo com que alguma coisa bem pequenina saísse voando dalí.
- Uma... uma borboleta?
A pequena borboleta cor-de-rosa voou alegre e indiferente por todo o recinto, pousando delicadamente, após alguns instantes, em cima de um cinzeiro de cristal.
Aquela borboleta, por conta de alguma coisa daquelas que nunca se sabe nem nunca se vai saber o que exatamente é, ocasionou no senhor Nogueira uma avalanche de pensamentos e lembranças que lhe atingiu como um soco no estômago, fazendo-o cair, completamente entorpecido, com um baque surdo no chão.
Ele, aquele que nunca precisou de ninguém pra alcançar o sucesso que possuía hoje, aquele que se vangloriava por haver conquistado tudo às custas de um trabalho duro e esforçado, aquele que se achava independente e auto-suficiente; agora estava caído no chão, completamente sozinho, ao lado de móveis antiqüíssimos e caríssimos, de eletroeletrônicos de última geração e de tapetes e cortinas de luxo, chorando feito um bebê.
- O que será... por quê... eu... só sei... liberdade... - balbuciava.
Ergueu a cabeça do chão e olhou, por sobre a mesa, a pequena borboleta cor-de-rosa, imóvel, ainda pousada em cima do cinzeiro de cristal. Ficou assim pelo que pareceram horas, completamente parado, apenas observando.
Finalmente levantou-se com cuidado e dirigiu-se até ela.
Observou-a durante mais alguns instantes; ela continuava imóvel.
Prendendo a respiração, com uma expressão indefinível no olhar, decidiu-se. Levantou uma de suas grandes e gordas mãos e baixou-a, num golpe rápido e pesado, esmagando a borboleta cor-de-rosa antes mesmo que ela tivesse tempo de perceber o que estava se passando.
Lançando uma última olhada para a poça vermelha e rosa que sobrara em seu cinzeiro de cristal, virou as costas e dirigiu-se para o seu quarto.
Agora não importava mais o que iria ou não sonhar.
Sua dor-de-cabeça havia passado.

...

"Trancado dentro de mim mesmo eu sou um canceriano sem lar"

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mero recado:

Os Duendes Espaciais Ordenhadores das Vacas Sagradas da Via-Láctea vêm por meio desta avisar que a autora dos textos dessa coisa que vocês, meros terráqueos, chamam de blog encontra-se temporariamente ausente do que parece ser o Reino Virtual por motivos de greve, não por parte dela, mas sim por conta de seu essencial assistente Roger, O Computador.

Fiquem em paz, e lembrem-se de que o Fim está próximo.

Atenciosamente,
Abelardo
(Duende Espacial Ordenhador das Vacas Sagradas da Via-Láctea, Ordem 7, N° 1248856)