quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Inspiração

*Batidas na porta*

- Inspiração? Você tá aí?
- Não tô, não.
- Ahh, Inspiração, vem cá falar comigo!
- Já disse que não tô.
- Mas você tá me respondendo!
- Não tô, não. Isso é uma gravação.

*Alguns minutos e uma xícara de café depois*

- Inspiraçã-ão?!!
Iu-hu?!!
Cadê você-êê!?
Vem cá com a titia, vem?
Hum, hum?

- Patético - diz a Inspiração, saindo de sua Toca.

- Inspiração?
Oi!
Resolveu sair pra conversar comigo?
Inspiração?
Foge não, Inspiração!
Volta aqui, eu preciso de você!
Inspiração!
INSPIRAÇÃÃÃÃÃÃO!!??

*Silêncio*

Droga.
Ela fugiu, de novo.

...

"Faz parte do meu show"

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

"Isso"

Não.
Não queria falar sobre isso.
Mas ia falar sobre o quê, se não sobre isso?
Hum, pensando bem, há muitas coisas sobre as quais eu poderia falar.
Sim, como, por exemplo, o porquê das joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estarem sumindo ou a maneira pela qual os alienígenas pretendem invadir a Terra.
Mas o fato é que não sei ao certo o porquê das joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estarem sumindo nem a maneira pela qual os alienígenas pretendem invadir a Terra.
Dizem as más línguas que as joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estão sumindo porque estão em extinção e os alienígenas vão nos matar quando invadirem a Terra.
Dizem as boas línguas que as joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estão sumindo porque estão em extinção e os alienígenas vão nos ajudar quando invadirem a Terra.
Diz a minha língua que ninguém sabe a verdade, na verdade, de verdade.
Então, de que adianta falar sobre alguma coisa sobre a qual ninguém sabe?
Bem... sendo assim, imagino que devo abster-me de escrever sobre qualquer assunto.
Inclusive sobre isso.
...

"An I forget jus why I taste/ Oh, yeah, I guess it makes me smile"...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os Gambás com Trouxas Coloridas III - Le Grand Finale

Gambás.
Trouxas coloridas.
Rum?


0000Acordei em um estabelecimento nauseantemente rosa, com plumas salmão, paetês prateados e sedas coloridas.
0000- Ah, bom dia, Bela Adormecida! - disse Dalton, o gambá gênio-incompreendido - Dormiu bem?
0000- Você tá falando sério? - perguntei, esfregando a cabeça - Que tipo de pessoa leva outra por livre e espontânea obrigação - com o auxílio de uma marreta, diga-se de passagem - para um lugar xis...
0000- Gambás.
0000- Ah.
0000Olhei em volta. Nunca antes havia imaginado que gambás pudessem viver em locais tão "simpatizantes" quanto aquele.
0000- Pois bem. Agora que faz parte de nossa tripulação - disse Dalton - creio que devo informar-lhe o motivo de encontrar-se aqui.
0000- Sim, eu... tripulação?
0000- Você tem a honra de ser a primeira humana a embarcar no glorioso Didelphis Ship, o mais terrível, mais veloz...
0000- E único - interrompeu um esquilo de moicano e tapa-olho rosa pink saindo de trás de um barril coberto com lantejoulas.
0000- ...navio pirata animal da atualidade - terminou Dalton e, virando-se para o esquilo, continuou - Ovídio! Não enche! Nem didelphídeo você é. Ponha-se no seu lugar e lembre-se de que só está aqui porque eu gostava da sua mãe.
0000- Bah, grande coisa. Odeio tudo isso.
0000Ah, sim, agora tudo começava a fazer sentido. Eu estava num navio animal gay com um gambá metido a intelectual e um esquilo rebelde que falava português. Sim, nada mais natural. Águas de São Pedro não é uma cidade perdida no meio do mato caipira, não, de jeito nenhum! É uma cidade praiana. E gambás têm navios. Navios gays. E, como eu não sabia disso?, todos eles falam português.
0000- Hã... desculpe a intromissão, mas... - comecei - é... achei que só o Dalton soubesse falar português.
0000- Pfffff! - riu-se o esquilo Ovídio - Ele é o único gambá que sabe. Gambás são burros. Não são como os esquilos. Esquilos são beeeeem mais inteligentes. E falam português fluentemente. Até gíria eu sei, tá ligada?
0000- Tô. Ligadérrima...
0000- Aaaara, chega de blá blá blá inútil. Ainda não contei para nossa convidada o porquê de sua presença - e, apanhando uma garrafa de rum de dentro de um armário florido, continuou - Aceita uma bebida?
0000- Nem precisa perguntar - respondi, agarrando a garrafa das garrinhas dele e virando uns três goles - E aí?
0000- No princípio, não havia nada. Então Deus disse: "Faça-se a luz!", e a luz se fez. Então...
0000- Francamente, Daltô! - interrompeu outra vez Ovídio - Vamos fazer uma versão compacta, aí, sim? Se não ela vai precisar do teu estoque inteiro de rum.
0000- Bah! Tá certo. Então, é o seguinte: Minha família, aqueles simpáticos gambás que você já conheceu...
0000- Simpaticíssimos!
0000- ...moraram a vida inteira no Grande Palácio Luminoso Do Capitão Do Didelphis Ship...
0000- O forro da casa da minha avó.
0000- ...e tinham uma vida saudável e feliz por lá, até que, numa noite terrível, o Malvado Ser De Óculos e Bengala...
0000- Meu avô?
0000- ...criou o Escabroso Ruído Fritador de Mentes Gambíticas...
0000- Aquele aparelhinho elétrico para espantar ratos?
0000- ...fazendo com que todos eles encafifassem que precisavam chegar até Paris e se tornarem mini-cheffs da cozinha francesa do Mestre Gusteau.
0000- !!!
0000- Por conta disso, armaram-se com as Trouxas Coloridas da Sabedoria - elemento indispensável para qualquer gambá que necessite de ajuda espiritual - e saíram mundo afora, totalmente perdidos e bitolados com a situação.
0000- Eu disse que gambás eram burros - comentou Ovídio.
0000- A sorte deles foi que, no momento em que estavam se preparando para tal empreitada, eu, enquanto bebia rum recostado no meu sofá de pelúcia pink, tive a estranha sensação de que precisava consultar minha Trouxa Colorida da Sabedoria. Ela, então, avisou-me o que eles pretendiam, e eu, como todo bom Irmão Que Sustenta a Família deveria fazer, vim em seu auxílio.
0000- Huuum, sei - eu disse, bebendo outros três goles de rum - E eu estou aqui porque...
0000- Bem, acontece que você nos viu indo em busca Daquilo Que Os Gambás Mais Querem...
0000- A parada do Mini Cheff na França? - perguntei - Mas isso não era por conta do aparelhinho contra ratos, digo, do Ruído Fazedor de Ovas-Fritas?
0000- Sim, sim. Mas independente disto, era o que Os Gambás Mais Queriam no momento, então o Código precisa ser aplicado - respondeu Dalton, pegando sua Trouxa Colorida - E é Escabroso Ruído Fritador de Mentes Gambíticas.
0000- Ok. E o código diz...?
0000- Que devemos... - começou ele, retirando uma faca gigantesca de dentro da trouxa.
0000Aimeudeusiagoraelevaimematarqueporraeufaçoprasairdessapelamordezeus?!
0000- ... lhe ofecer um pedaço de pizza de calabreza - terminou, puxando também uma pizza enorme de dentro da trouxa e fatiando os pedaços com a faca.
0000- Ah, sim, hê! hê! hê! - suspirei, virando o resto do rum que havia na minha garrafa - Obrigada, eu...
0000- Essa não! Vem comigo! - gritou o esquilo que chamava Ovídio, subindo por uma escada luminosa.
0000- Hã? Por quê? É só uma pizza de calabreza...
0000- VEM!!!!!
0000Diante de tão grande desespero, subi correndo a escada em seu encalço, deixando para trás um Dalton atônito e seus pedaços de pizza de calabreza cheios de muzzarela.
0000Ao chegar no patamar superior, percebi que o navio cor-de-rosa no qual eu estava encontrava-se ancorado na represa de Águas - para os que não estão familiarizados com aquele fim de mundo, uma pequena porção de água cercada de mato por todos os lados - e Ovídio lutava com cordas amarelas para baixar na água um pequeno bote pintado com as cores do arco-íris.
0000- É... Ovídio, o quê...
0000- Depois eu explico! Me ajuda aqui! Vai logo!
0000Juntos, baixamos o bote na água e remamos rapidamente até a borda, ouvindo ao longe os gritos desapontados de Dalton.
0000- Ahhh! Volta!!! São só pedaços de pizza!!! Volta!!! VOLTAAAAAAA!!!!
0000- E então? - perguntei, enquanto corríamos ladeira acima - Por quê... arre! Pára um pouco, minhas costelas estão doendo!
0000- Tudo bem - disse ele, parando e me encarando com uma expressão terrível- Você nunca, NUNCA deve aceitar um pedaço de pizza de calabreza de um gambá. NUNCA, entendeu? Principalmente se ele for pirata!!!
0000- Ah! Nossa, eu não sabia! Por quê?
0000- Eu não sei - continou ele, voltando a caminhar - ninguém nunca aceitou, não é mesmo?
0000- ...
0000- Vamos embora.
0000E então voltei para casa de vovó, em companhia de Ovídio, O Esquilo Rebelde. Nunca mais ouvi falar dos gambás, principalmente de Dalton, o Gambá Intelectual Capitão do Navio Gambá Gay. Quanto ao Ovídio, bem, o sonho dele sempre fora ser maestro de uma sinfonia húngara, então no dia seguinte ele se foi, em companhia de uma borboleta russa, buscar a fama nas estradas.
0000E eu, bem, eu voltei a dormir. Que mais poderia fazer?

FIM!
xD


"Yo-ho! Yo-ho! A pirate´s life for me!"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Os Gambás com Trouxas Coloridas II

Gambá, segundo a Wikipédia, vem de "guámbá, o ventre aberto, a barriga oca por causa da bolsa onde cria os filhos (- in Silveira Bueno - Vocabulário Tupi-Guarani/Português). É o nome popular dos maiores marsupiais da família dos didelfídeos, pertencentes ao gênero Didelphis, que habitam do sul do Canadá à Argentina e são onívoros."
Sim, é claro.
Mas e as trouxas coloridas?


0000Lá estava eu, então, como aqueles que leram o post anterior devem saber, encarando nada menos do que sete gambás enormes, com focinhos finos e narizes cor-de-rosa.
0000Ligeiramente intrigada pelo fato de estarem aqueles peculiares gambás portando trouxinhas coloridas, decidi, após pensar intensamente no assunto por alguns instantes, que aquilo não me importava e que a coisa mais sensata a se fazer era entrar no quarto o mais rápido possível e me trancar lá dentro, deixando que os gambás fizessem em paz seja lá o que gambás com trouxas coloridas fazem na calada da noite.
0000Mas não fui rápida o bastante. No momento em que tomava minha sensata decisão e esticava a perna para adentrar o quarto uma daquelas (não tão) simpáticas criaturinhas saltou à minha frente, empinou-se nas patas traseiras e falou:
0000- Crrrr gggrrrmm huhh shh gggggggwhmrrrrrrrrr!!!
0000Ah, ótimo. Maldita hora em que resolvi cabular as aulas de gambês para beber cerveja.
0000- Eu – disse, apontando para mim mesma – não – falei, abanando a cabeça – entendo você – apontei finalmente para o bicho de pé à minha frente.
0000- Gworrrc chrrrrzp gmrrrrrrrhk! – disse outro gambá, que possuía marcas escuras parecidas com o aro de um óculos redondo ao redor dos olhos, rosnando para o primeiro – Desculpe meu irmão. Você deve falar português, certo? – continuou o marsupial, olhando para mim.
0000- É... é. – balbuciei, sem saber o que mais dizer.
0000Obviamente existem gambás que falam português. Completamente normal, totalmente natural, não é mesmo; não entre em pânico, Karol, NÃO ENTRE EM PÂNICO, PORRA!!!
0000- Sim, é claro. Bem, como você deve saber, gambás geralmente não falam língua humana nenhuma, mas eu, como você também deve ter percebido, sou um caso excepcional de inteligência gambística. Possuo um poder de assimilação raríssimo na espécie, o que deveria propiciar-me o devido respeito e admiração, porque, modéstia à parte, sou único, não é mesmo?, mas, infelizmente, meu dom não é reconhecido no meio devido à falta de comunicação entre humanos e animais, visto que os primeiros não se importam com ninguém além deles mesmos, não é verdade?
0000- Ah... é...
0000- Enfim, sem mais enrolação, preciso dizer-lhe que você deve vir conosco.
0000- Quê?!
0000Puta-que-o-pariu!!! Não entre em pânico o caralho!!! E agora?
0000- Então, senhor gambá...
0000- Meu nome é Dalton.
0000Dalton?!?
0000- Então, senhor Dalton, receio que não vou poder acompanhá-los, uma vez que...
0000- Não, não foi um convite. Foi uma intimação. – Dalton virou-se para os outros e continuou – Gwrrrrshzzz gwoogczczcz ksksksksks!
0000Vi sete gambás nada amigáveis aproximando-se rapidamente de mim e, antes que pudesse esboçar qualquer reação, não vi mais nada.

(Continua!!)

"Todo o dia a isônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito"