domingo, 5 de julho de 2009

A Lagartixa Raio De Sol - Parte II

Após muito caminhar pela Estrada Que Levava Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Davam Para Lugar Nenhum — estrada esta construída muito, muito tempo antes das Lagartixas Que Se Diziam Modernas E Inteligentes assumirem o poder e proclamarem que os Antigos Portões Construídos Sabe-se Lá Por Quem não davam para lugar nenhum e que seguir por aquela estrada era completa perda de tempo e dinheiro — Raio de Sol resolveu parar para descansar debaixo de uma macieira.

E lá estava ela, de olhos fechados e coração aberto aproveitando a brisa fresca vinda do oeste quando, de repente, uma grande e gorda fruta-do-conde caiu pesadamente em sua cabeça, dando-lhe então o ponto de partida para a hoje tão difundida teoria da relatividade, cuja base antiga foi, justamente, como diabos uma fruta-do-conde poderia cair pesadamente na cabeça de uma lagartixa que se encontrava não debaixo de uma árvore — ou seja lá pé de quê frutas-do-conde gostam de nascer — de frutas-do-conde, mas, sim, debaixo de uma macieira.

A lagartixa Raio de Sol levantou-se cambaleando e olhou em volta. A alguns metros de onde estava havia um Mini-Canguru-Dos-Campos com a cabeça cor-de-abóbora enfiada numa moita e uma sacola cheia de frutas-do-conde segura nas patas.

— Ei, carinha! — disse a lagartixa coçando a cabeça — O que você está fazendo aí?

Silêncio.

— Oi! — continuou Raio de Sol — Eu estou falando com você...?

Mais silêncio.

— Ah... oi? — repetiu a lagartixa, dessa vez cutucando o Mini-Canguru-Dos-Campos.

— AHHH! — gritou o Mini-Canguru-Dos-Campos tirando a cabeça de dentro da moita com um movimento brusco.

— AHHHHHH!!! — gritou Raio de Sol sem saber exatamente por que.

— AAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! — gritou de novo o canguru.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! — berrou a plenos pulmões a lagartixa.

— AAHHH... ah... por quê diabos estamos gritando? — disse o canguru.

— Putaqueopariuvaisefoderfilhodaputa!! — resmungou Raio de Sol enquanto se recuperava do susto — Eu é que pergunto, pombas! Você...

— Ah, sim! Como foi que você me achou? Eu estava escondido, droga.

— Como assim como foi que eu te achei? Só a sua cabeça estava escondida, o resto...

— Era a parte mais importante a ser escondida, não? Digo, como você pode me ver, se eu não vejo você?

— ...

— Você deve ter sétimo sentido... não?

— ...

— Em todo o caso, o que faz uma Lagartixa Tranqüila perambulando sozinha pela Estrada Que Leva Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum? Isso não é coisa de lagartixas. É coisa de Mini-Cangurus-Dos-Campos.

— E jogar frutas-do-conde nas cabeças das lagartixas tranqüilas que resolvem perambular sozinhas pela Estrada Que Leva Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum também é coisa de Mini-Cangurus-Dos-Campos?

— É claro que é. Todo mundo sabe disso. Mas o que importa é: você está a procura dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum?

— Ah... é... é, é sim, estou, sim.

— Pois então desista, pequena lagartixa. Não tem nada do lado de lá. Eu já vi, meus companheiros Mini-Cangurus também já viram. É perda de tempo.

— Hum. Ora, se você viu que não há nada do lado de lá, significa que alguma coisa há para se ver, nem que essa coisa seja o nada, concorda?

— Bem... de que importa, também? Tome, leve uma fruta-do-conde com você. Pode ser importante. Ou não — disse o Mini-Canguru-Dos-Campos, entregando-lhe uma fruta e pulando para longe logo em seguida — Até mais, pequena lagartixa! Só não vá se perder por aí! — gritou ele um pouco antes de sumir por entre as folhagens do bosque próximo à estrada.

— Cada um... — pensou Raio de Sol, continuando sua jornada.

(Continua)

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