Um mundo de idéias passeava pelo meu cérebro.
Pensamentos dançantes saracoteavam sem pudores por todos os lados, despidos de toda e qualquer regra gramatical ou coerência verbal.
Eram simples idéias existindo, pulsando, dançando a Macarena.
Pensamentos intraduzíveis vestidos de piratas jogando dominó.
Pensamentos apalavreados bebendo Dinamites Pangalácticas e cantando Roberto Carlos.
Pensamentos livres.
Pensamentos pura e simplesmente livres.
Tive então a ousadia de sentar-me à frente do computador para escrevê-los.
Forcei-os a parar, enfileirei-os, etiquetei-os.
Tentei persuadi-los a se submeterem à gramática, às letras, às palavras.
Mas eles eram livres.
Eram meus pensamentos livres e minhas idéias intraduzíveis.
Se os explicasse e os transformasse em palavras eles não mais seriam meus, não mais seriam livres.
Acabariam por se tornar apenas outra idéia jogada na prateleira do supermercado de idéias, comum, barata e empoeirada.
Não teriam mais a menor graça!
Resolvi então deixar que eles continuassem a fazer o que quer que um pensamento livre gosta de fazer com uma idéia intraduzível altas horas da madrugada e ir procurar por vida inteligente na mancha verde de mofo que surgiu no pedaço de pizza esquecido na geladeira desde o mês passado.
...
3 comentários:
há.
eu odeio isso, mas sabe? em algum lugar do passado, antes de eu descobrir o cigarro eu descobri um vício MUITO pior. o verbalizar. eu verbalizo até o que não existe palavra pra verbalizar.
(é por isso que eu escrevo textos quase forçadamente. leio, odeio, e deixo. e, depois que o pensamento foi dar em outra freguesia, eu gosto. porque eu já nem lembro do fresco que era a idéia-idéia, olha só. e aí qualquer porcaria já serve)
[aí, tá vendo? eu PRECISAVA ter dito tudo isso? pre-ci-sava?)
É o vício de escrever que faz mal (ou bem) para a própria escrita. Porque não importa o que a gente vai escrever, o importante é escrever, apenas isso.
E sabe de uma coisa? Já sinto que passou da hora da Rainha Desvairada de Renorah aparecer com notícias. Ou não. Ou sei lá.
É. Sei lá me parece mais conciso.
Postar um comentário