segunda-feira, 31 de março de 2008

Besteirol

Ó, céus!!
Por quê cargas d'água eu fico completamente sem inspiração nesta época do ano?
Estive lendo alguns textos meus dos últimos anos. Por algum motivo obscuro - mais ou menos parecido com aquele que explicaria o porquê do poste de luz que há ao lado da estação de metrô do Campo Limpo sempre apagar (ou acender, se antes da minha gloriosa passagem ele estivesse aceso) quando estou passando alegre e saltitante (bem, às vezes nem tão alegre e saltitante assim) por baixo dele, bem como fazia antigamente o poste de luz da rodoviária de São Pedro - fico em crise pelos meses de Março e Abril.
Sei lá, vai ver as energias astrais não me são criativamente favoráveis.
Energias astrais...
Vai ver são as minhas energias astrais que acendem ou apagam os postes de luz!
Isso, grande Karol!
Você deveria ganhar um prêmio Nobel por isso, e... hum.
Energias astrais não seriam aquelas vindas dos astros?
Hum, devem ser as minhas energias VITAIS, então.
Vital vem de Vida, não é?
Então pronto, são as minhas Energias Vitais que fazem os postes acenderem ou apagarem.
E por quê, então, não são todos os postes de luz os afetados?
Ah, vai ver que as minhas Energia Vitais são muito seletivas, preferindo influenciar somente aqueles postes que consideram Especiais.
Obviamente eu não sei seu critério de seleção; é algo por demais importante para que minhas Energias fiquem divulgando por aí.
Sabe como é, se tal informação vazasse todos os postes iriam se portar como os Especiais, aí nenhum seria mais verdadeiramente Especial; Especiais seriam aqueles que fossem exatamente o oposto do conceito de Especial.
Isso geraria um caos tão profundo, tão denso, que acabaria por criar um novo Universo, fazendo com que o nosso Universo se desintegrasse, uma vez que não é permitido, de acordo com a Lei Universal do Universo, que dois ou mais Universos coexistam em uma mesma dimensão.
Tendo nosso Universo se desintegrado nessa suposição, o novo Universo, criado a partir do Caos gerado pelo conceito de Especial-Não Especial dos postes de luz que haviam em NOSSO Universo, acabaria por desintegrar-se alguns segundos depois, visto que o impulso gerador de seu Universo não existiria mais.
É claro que poderia haver uma fusão entre o nosso e o novo Universo, mas isso acabaria por gerar um ciclo de criação-destruição que só poderia cessar com o sacrifício de um humano, e, como todo o mundo sabe, humanos não são muito favoráveis a esse tipo de coisa, apesar de gostarem de se matar uns aos outros de vez em quando.
É, pois é.
Hum.
Assumindo que são minhas Energias Vitais que acendem/apagam os postes de luz indefesos, devem ser elas as responsáveis pela minha falta de inspiração nesta época do ano.
Talvez esses meses sejam seu período de hibernação, para que recarreguem as baterias. Eu devo fazê-las trabalhar muito durante o ano.
Ou, então, estão ocupadas demais atualizando seu conceito de Postes Especiais e não podem me dar a devida atenção.
É.
Pode ser.
Ou não.
Ah...
Alguém quer alguns amendoins?

"Minha força não é bruta/ Não sou freira nem sou puta"

sábado, 15 de março de 2008

Sinos

St Piter's H2O.
Quase nove horas da noite.
Vontade de não-sei-o-quê.


Abriu a janela e sentiu os últimos raios de Sol tocarem-lhe a fronte.
O céu estava cor-de-rosa, dourado, vermelho, violeta, azul, anil.
Um caleidoscópio de imagens invadiu seus olhos, dissolvendo-se num maremoto de formas coloridas.
Ouvia sinos.


Já era noite.
A Lua, crescente e canceriana, observava o mundo com a nostalgia dos Loucos.
O latido longínqüo dos cachorros e o cricilar tímido de alguns grilos eram os únicos sons que se ouviam naquela pequena cidade do interior.
E os sinos.
Os irritantes e insistentes sinos.


A madrugada ia solta.
Ela corria sem rumo pela ruas desertas e esburacadas da cidade, sob o olhar alaranjadamente desaprovador das lâmpadas elétricas.
O som dos sinos ficava cada vez maior, as badaladas ecoavam assustadoramente altas em seus ouvidos.
E ela corria.


Começara a chover.
A imagem da grande igreja gótica iluminou seus olhos por alguns instantes, e ela parou.
A água escorria dos seus cabelos, seus sapatos estavam encharcados, ela tremia de frio.
Subiu a escadaria da igreja e abriu com estrondo a grande porta de entrada, quebrando a corrente que a mantinha fechada.
E os sinos, os desesperadores e insistentes sinos, continuavam a tocar.


No dia seguinte a policia local encontrou a garota no altar da pequena capela da cidade.
Uma poça de sangue a circundava, havia talhos em seus pulsos.
Sua expressão era serena.
E os sinos, os alegres e simpáticos sinos, finalmente pararam de tocar.


***

"I have become a confortably numb"

sábado, 8 de março de 2008

Olívia.

0000Três horas da manhã. Olívia revirava-se nos lençóis sem conseguir dormir. Pensamentos desconexos assaltavam-lhe a mente, um mais peculiar que o outro, um mais absurdo que o outro. Um mais doce que o outro.
0000- Maldita insônia! - pensou, levantando-se e dirigindo-se à varanda.
0000Acendeu um cigarro. Ridículo pseudo-refúgio da timidez e do nervosismo. Mas e daí?
0000Do seu esconderijo no milésimo andar podia espiar, sem ser notada, toda a vida noturna e secreta de uma cidade insone, incapaz de parar, incapaz de descansar, incapaz de...
0000- Assim como eu - pensou, dando uma longa tragada no cigarro.
0000O céu e a terra haviam invertido os papéis, ela pensava. As estrelas haviam caído e se alojado nas lâmpadas elétricas que se estendiam pelo horizonte, enquanto a Lua brilhava sozinha no firmamento, minguante e Capricorniana.
0000As frustrações todas de sua curta vida dançavam tango com os momentos de êxtase e felicidade num compasso dolorido e envolvente, paranóico, assustadoramente delicioso.
0000Passou a pensar em tudo o que poderia ter sido e não foi, em tudo o que não poderia ter sido e foi, em tudo o que poderia ser e foi.
0000Deu outro longo trago no cigarro e apagou-o no cinzeiro de cristal falso. Olhou para o céu e desejou viver uma grande aventura, digna de livro de ficção; algo pelo qual pudesse ser lembrada, algo que lhe permitisse ter boas histórias para contar.
0000Será que ela estava no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa? Ou será que foi justamente o contrário?
0000Ninguém nunca saberá.
0000O que se sabe é que Olívia nunca mais foi a mesma.

(Continua, um dia - não necessariamente no próximo post...)

"Here we are, now! Entertain us!"
xD

domingo, 2 de março de 2008

O Barquinho de Papel Vermelho da Banheira

(Ao som de Pink Floyd - The Wall 1 e 2)

Havia um barquinho de papel vermelho na banheira.
Ele navegava feliz, imaginando ser aquele o oceano.
Seus horizontes estendiam-se aos azulejos cirurgicamente brancos do banheiro e ao pequeno quadrado azul de céu que aparecia pela janela.
Seu único companheiro era um patinho de borracha amarelo e mudo.
Juntos, subiam e desciam pelas quase ondas e estavam certos de que aquilo era tudo o que se poderia existir.
Um dia, tiraram a tampa do ralo e o barquinho desceu pelo esgoto.
Em seu trajeto pelo submundo, descobriu que havia muito mais para se conhecer do que jamais pudera imaginar, e refletiu sobre como pôde ter passado tanto tempo acreditando que o mundo se reduzia a azulejos brancos e um pequeno quadrado de céu azul.
Quando deu por si, porém, já não era mais um barquinho de papel vermelho, era um composto amassado de sujeira marrom.
E isso não fez a menor diferença.

...

(Só pra constar, não sabia que lagartas listradas apareciam todas ao mesmo tempo.
Será que elas são listradas mesmo ou minha turva visão regida pela Lua é que projeta-lhes listras coloridas?
Fruto das frustrações com as pseudo-flores-coloridas-sem-cor, eu suponho.
De qualquer forma, espero não derramar o suco de beterraba no vestido outra vez; a mancha demora demais para sair.)


"Hey, you! Don't tell me there´s no hope at all/ Together we stand, divided we fall"