domingo, 6 de setembro de 2009

Passatempo

(Escrito durante uma aula que tinha tudo para ser muito boa, exceto o professor)

E eis a sublime arte da picaretagem, meus caros!

Almanaque Abril, Wikipédia e chamada ao final da aula em pleno terceiro ano de faculdade. Oh, céus. Estaria eu por acaso no terceiro ano do ensino fundamental e não sei?

Francamente.

O melhor a se fazer é, então, escrever para passar o tempo, não?

Ferro de passar roupa, tomada, eletricidade, água, tábua.

Tempo se passa com vinco ou sem vinco?

Droga, minha mãe sempre me disse que eu precisava aprender a passar roupa, não tempo.

Uma borrifada d'água aqui, uma dobradinha ali; não deve ser assim tão difícil, afinal. Só é preciso muito cuidado para não queimar, tempo queimado cheira mal, causa estresse e bolhas nos pés.

Lá lá lá, e, voilá!, um tempinho passadinho rapidinho!

...

Bah. E que faço eu agora com todo o tempo que ainda está por passar?

Tenho a impressão de que ele ficaria muitíssimo melhor passado se eu não estivesse assistindo à essa aula "nem um pouco" picareta.

Sim, de fato.

Sinta o gosto dele, realmente está muito mal-passado, não?

Quase cru, eu diria; veja só todo o sangue que ainda escorre.

E nem adianta deixar mais um pouco no fogo, tempo mal passado é imutável, permanece assim para sempre, como cinza de lembrança.

Para que o tempo fique bem passado é necessário que assim seja desde o início, como você bem deve saber.

Desde o início.

E o quê seria o início?

Ora, o início do tempo relativo é relativo, o início do tempo absoluto é absoluto.

Agora, o que de fato seria tempo, relativo, absoluto e, conseqüentemente, o início, "decifra-me ou te devoro", a resposta para todas as perguntas não passa de um pedaço de queijo suíço com quarenta e dois buracos de diferentes tamanhos. E tamancos brancos. Francos. Aos prantos.

...

"Já houve um tempo em que o tempo parou de passar/ E o tal do Homo sapiens não soube disso aproveitar"

sábado, 11 de julho de 2009

A Lagartixa Raio De Sol - Parte III

O Sol se aproximava do horizonte quando a Lagartixa Raio de Sol finalmente chegou aos pés dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Davam Para Lugar Nenhum.

Um sentimento de missão quase cumprida e contentamento quase pleno apoderou-se dela enquanto estava a observar aqueles imponentes portais de madeira esburacada e dobradiças de aço enferrujado com os olhinhos castanhos marejados de emoção.

— Finalmente... — murmurou a Lagartixa avançando lentamente em direção aos Portões — Vou ser a primeira Lagartixa a descobrir o que diabos tem do Outro Lado dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum... o que será que verei? — continuou, encostando as frias patas na madeira velha do portal.

Hesitou ao empurrá-las.

— Por que será que ninguém nunca quis saber disso antes? — perguntou-se.

Então uma onda crescente de pânico começou a tomar lugar em seu peito, corroendo a sensação de missão quase cumprida e esburacando o sentimento de contentamento quase pleno.

E se fosse melhor não saber o que havia do outro lado? E se ela não estivesse preparada para o que cargas d’água poderia haver ali? E se fosse justamente esse o motivo de terem fechado os portões e de ninguém se atrever a ver o que se passava do lado de lá? E se tudo não passasse de uma árvore de maçãs carregada de frutas-do-conde?

— Não entre em pânico, não entre em pânico, NÃO ENTRE EM PÂNICO, PORRA!! — dizia uma vozinha histérica em sua cabeça.

Raio de Sol respirou fundo e retirou de seu bolso a pequena fruta-do-conde que o Mini-Canguru-Dos-Campos lhe jogara na cabeça. Ficou alguns instantes a observá-la, reparando em todos os gominhos esquisitos dispostos em sua casca, pensando o quê diabos Deus estaria pensando quando criou aquela fruta, ou quando criou o kiwi, quando criou o ornitorrinco, quando criou ela mesma.

Voltou novamente o olhar para os Grandiosos Portões.

— E seu Deus não tiver nada a ver com isso? — pensou.

Fechando os olhos, resolveu começar a abri-los lentamente. Quando havia uma pequena fresta aberta, jogou sua fruta-do-conde para o outro lado e fechou-o rapidamente. Esperou, escutando. Não ouviu nada, e sua curiosidade aumentou.

— Que seja o que tiver que ser — pensou, dando de ombros — Afinal, que é que eu tenho a perder?

Empurrou os pedaços de madeira velha com toda a sua força. Eles estalaram e se abriram com um estrondo, deixando uma lagartixa antes assustada completamente estupefata com o que viu.

Era igual.

Exatamente igual.

O outro lado se compunha das mesmas montanhas que ela conhecia desde pequena e que existiam do lado de cá. Eram os mesmos campos verdejantes, as mesmas macieiras que davam frutas-do-conde. O Sol brilhava do mesmo jeito dos dois lados, o céu continuava a ser azul, vermelho e dourado no pôr-do-sol, as nuvens continuavam a ser de algodão doce.

— Eu falei que não tinha nada, não falei? — disse o Mini-Canguru-Dos-Campos, surgido sabe-se-lá de onde.

— Ora — disse a lagartixa — Tem, sim. Muita coisa, aliás. E agora eu sei — respondeu a lagartixa, precipitando-se pelo portal e apanhando a fruta-do-conde que jogara para o outro lado — Tome — entregou-a ao Mini-Canguru-Dos-Campos — Pode ser útil.

Raio de Sol fechou novamente os portões e voltou alegre e contente para o Vilarejo Tranqüilo, assobiando uma bela canção.

[FIM]

domingo, 5 de julho de 2009

A Lagartixa Raio De Sol - Parte II

Após muito caminhar pela Estrada Que Levava Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Davam Para Lugar Nenhum — estrada esta construída muito, muito tempo antes das Lagartixas Que Se Diziam Modernas E Inteligentes assumirem o poder e proclamarem que os Antigos Portões Construídos Sabe-se Lá Por Quem não davam para lugar nenhum e que seguir por aquela estrada era completa perda de tempo e dinheiro — Raio de Sol resolveu parar para descansar debaixo de uma macieira.

E lá estava ela, de olhos fechados e coração aberto aproveitando a brisa fresca vinda do oeste quando, de repente, uma grande e gorda fruta-do-conde caiu pesadamente em sua cabeça, dando-lhe então o ponto de partida para a hoje tão difundida teoria da relatividade, cuja base antiga foi, justamente, como diabos uma fruta-do-conde poderia cair pesadamente na cabeça de uma lagartixa que se encontrava não debaixo de uma árvore — ou seja lá pé de quê frutas-do-conde gostam de nascer — de frutas-do-conde, mas, sim, debaixo de uma macieira.

A lagartixa Raio de Sol levantou-se cambaleando e olhou em volta. A alguns metros de onde estava havia um Mini-Canguru-Dos-Campos com a cabeça cor-de-abóbora enfiada numa moita e uma sacola cheia de frutas-do-conde segura nas patas.

— Ei, carinha! — disse a lagartixa coçando a cabeça — O que você está fazendo aí?

Silêncio.

— Oi! — continuou Raio de Sol — Eu estou falando com você...?

Mais silêncio.

— Ah... oi? — repetiu a lagartixa, dessa vez cutucando o Mini-Canguru-Dos-Campos.

— AHHH! — gritou o Mini-Canguru-Dos-Campos tirando a cabeça de dentro da moita com um movimento brusco.

— AHHHHHH!!! — gritou Raio de Sol sem saber exatamente por que.

— AAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! — gritou de novo o canguru.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! — berrou a plenos pulmões a lagartixa.

— AAHHH... ah... por quê diabos estamos gritando? — disse o canguru.

— Putaqueopariuvaisefoderfilhodaputa!! — resmungou Raio de Sol enquanto se recuperava do susto — Eu é que pergunto, pombas! Você...

— Ah, sim! Como foi que você me achou? Eu estava escondido, droga.

— Como assim como foi que eu te achei? Só a sua cabeça estava escondida, o resto...

— Era a parte mais importante a ser escondida, não? Digo, como você pode me ver, se eu não vejo você?

— ...

— Você deve ter sétimo sentido... não?

— ...

— Em todo o caso, o que faz uma Lagartixa Tranqüila perambulando sozinha pela Estrada Que Leva Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum? Isso não é coisa de lagartixas. É coisa de Mini-Cangurus-Dos-Campos.

— E jogar frutas-do-conde nas cabeças das lagartixas tranqüilas que resolvem perambular sozinhas pela Estrada Que Leva Até Os Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum também é coisa de Mini-Cangurus-Dos-Campos?

— É claro que é. Todo mundo sabe disso. Mas o que importa é: você está a procura dos Grandiosos Portões Que Teoricamente Não Dão Para Lugar Nenhum?

— Ah... é... é, é sim, estou, sim.

— Pois então desista, pequena lagartixa. Não tem nada do lado de lá. Eu já vi, meus companheiros Mini-Cangurus também já viram. É perda de tempo.

— Hum. Ora, se você viu que não há nada do lado de lá, significa que alguma coisa há para se ver, nem que essa coisa seja o nada, concorda?

— Bem... de que importa, também? Tome, leve uma fruta-do-conde com você. Pode ser importante. Ou não — disse o Mini-Canguru-Dos-Campos, entregando-lhe uma fruta e pulando para longe logo em seguida — Até mais, pequena lagartixa! Só não vá se perder por aí! — gritou ele um pouco antes de sumir por entre as folhagens do bosque próximo à estrada.

— Cada um... — pensou Raio de Sol, continuando sua jornada.

(Continua)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Lagartixa Raio De Sol - Parte I

Há muito tempo atrás, numa terra distante, além do bosque dos gnomos cor-de-abóbora, bem depois das planícies geladas do sul, lá por onde os animais ainda falam e as nuvens são feitas de algodão-doce vivia alegremente no tranqüilo Vilarejo Tranqüilo uma linda e meiga lagartixa chamada Raio de Sol.

Raio de Sol não era uma lagartixa qualquer, daquelas que acordavam todos os dias às sete horas da manhã para ver o que seu vizinho estaria fazendo acordado àquela hora da manhã e passavam o resto de seus dias tranquilamente fazendo coisas tranqüilas no Vilarejo Tranqüilo.

Ah, não.

Em primeiro lugar, Raio de Sol era filha de lagartixas hippies. Como qualquer um sabe, ser filho de lagartixas hippies implica em nomes mágicos, bolos de aniversário temperados e poucos amigos na infância.

Em segundo lugar, ela era a única em todo o Vilarejo que se perguntava se existiria alguma coisa para além dos muros da cidadela. Todos os outros assumiam a postura do “se não posso ver é porque não preciso saber” e continuavam a mexer a massa dos seus bolinhos de girassol.

Um belo dia Raio de Sol acordou às sete horas da manhã com a claridade do dia entrando pela sua janela aberta, calçou suas botas vermelhas de andarilho, deixou um bilhete para seus pais — que estavam dormindo na sala completamente chapados — e resolveu ir descobrir por conta própria o que haveria para além dos muros do seu vilarejo, possibilitando, para felicidade de seus vizinhos, que as conversas destes finalmente girassem em torno de algum assunto mais empolgante do que a consistência das massas de seus bolinhos de girassol.

(Continua)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Divagação

Ao observarmos a imensidão negra do céu à noite vemos nada mais nada menos do que pálidos reflexos do fogo de titânicas constelações muitas delas extintas há milênios.

Ao observarmos o espelho...

...

O que você vê?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Pensamentos Livres e Idéias Intraduzíveis

Um mundo de idéias passeava pelo meu cérebro.

Pensamentos dançantes saracoteavam sem pudores por todos os lados, despidos de toda e qualquer regra gramatical ou coerência verbal.

Eram simples idéias existindo, pulsando, dançando a Macarena.

Pensamentos intraduzíveis vestidos de piratas jogando dominó.

Pensamentos apalavreados bebendo Dinamites Pangalácticas e cantando Roberto Carlos.

Pensamentos livres.

Pensamentos pura e simplesmente livres.

Tive então a ousadia de sentar-me à frente do computador para escrevê-los.

Forcei-os a parar, enfileirei-os, etiquetei-os.

Tentei persuadi-los a se submeterem à gramática, às letras, às palavras.

Mas eles eram livres.

Eram meus pensamentos livres e minhas idéias intraduzíveis.

Se os explicasse e os transformasse em palavras eles não mais seriam meus, não mais seriam livres.

Acabariam por se tornar apenas outra idéia jogada na prateleira do supermercado de idéias, comum, barata e empoeirada.

Não teriam mais a menor graça!

Resolvi então deixar que eles continuassem a fazer o que quer que um pensamento livre gosta de fazer com uma idéia intraduzível altas horas da madrugada e ir procurar por vida inteligente na mancha verde de mofo que surgiu no pedaço de pizza esquecido na geladeira desde o mês passado.

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Matemática?!

Não, não adianta.

Os números não vão com a minha cara.

Nem com chantagem, suborno ou reza braba.

E eu juro que não é culpa minha.

Já tentei socializar com eles, chamando-os humildemente para tomar algumas xícaras de berguelotes feitos na hora em Manskaoosin. Servi-os em porcelana chinesa e bandeja de prata, mandei meu cozinheiro Pierre Pierrô preparar as melhores receitas de biscoitos recheados que ele pudesse imaginar, coloquei discos de música clássica para tocar, até penteei meu cabelo.

Nada disso adiantou.

Eles foram arrogantes, olharam-me com expressões de descaso, beberam meus berguelotes fazendo careta, zombaram dos biscoitos recheados do meu cozinheiro, apontaram mil defeitos na disposição das minhas terras e na arquitetura do meu castelo, chutaram meu dragão de estimação dizendo que ele não existia e que nada daquilo ali existia e foram embora carrancudos e cochichando entre si.

- Ela nem ao menos penteia os cabelos! - ouvi um deles dizer.

É.

Desde então a única coisa relacionada à matemática que eu de fato tenho certeza de estar calculando corretamente é o troco do dinheiro da cerveja.

Ok.

Às vezes nem isso.

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre o Universo

O Universo é grande. Grande mesmo. Não dá pra acreditar o quanto ele é desmesuradamente inconcebivelmente estonteantemente grande.
[Guia do Mochileiro das Galáxias]

...

Matriculei-me em uma aula de Introdução à Astronomia no começo desse semestre.

Para aqueles que não sabem, eu faço faculdade de História.

Pois bem, o quê diabos Astronomia tem a ver com História?

Nada, de fato.

Mas fez-me pensar sobre algumas questões pseudo-filosóficas e, como sou uma pessoa que adora compartilhar seus pensamentos pseudo-filosóficos, compartilhá-los-ei com vocês — ou com aqueles que tiverem a santa paciência de ler.

Enfim.

Estou a fim de escrever sobre o Universo.

Não sei se você sabe, mas ele é grande. Muito grande. Desmesurada, inconcebível e estonteantemente grande.

Para se ter uma idéia, os astrônomos dignos desse título conhecem menos de 30% da totalidade da massa do Universo.

Cerca de 4% dessa massa, de acordo com eles, é composta pela junção de todas as galáxias conhecidas, enquanto 23% é composta do que eles chamam de “Matéria Escura”, uma “coisa” que não se sabe exatamente o que é mas que se sabe que existe porque causa uma certa distorção quando um objeto é observado através dela.
Os outros 73% ninguém faz a mínima idéia do quê diabos pode ser, apesar de alguns acreditarem ser um tipo de “Energia Escura” que meio que serviria para fazer a ligação entre todas as coisas do Universo.

Ou seja, de toda a alucinante totalidade do Universo só se conhece realmente 4% do que existe por aí, uma vez que os outros 23% são “alguma coisa que eu sei que tá ali porque faz com que a galáxia ali atrás fique distorcida, mas, ah!, que pena, não sei o quê diabos ela é” e o resto é um tipo de “energia escura” que ligaria todas as coisas mas, “ah!, que pena de novo, não fazemos a mínima idéia do quê cargas d’água isso pode ser”.

De fato, há muito mais coisas até mesmo no próprio céu do que pode supor a nossa vã filosofia.

O que seriam essas tais “Matérias Escuras”?
O que seria essa tal “Energia Escura”?
Será que um dia chegaremos a compreender do que elas são compostas, para que servem, o que fazem?

É claro que com o decorrer da evolução humana conseguimos conhecer cada vez mais o céu, os planetas, as galáxias; com o passar do tempo conseguimos compreender cada vez mais esse gigante misterioso que nos cerca.

Entretanto, eu não consigo imaginar que um dia chegaremos à ciência de tudo o que existe por aí afora.

Acho que talvez possamos chegar ao nível de compreensão avançada de toda a nossa galáxia ou quem sabe até da nossa vizinha Andrômeda.

Mas, o Universo inteiro?

Ah, cara.

Na minha concepção a total compreensão do Universo está completamente fora dos padrões humanos de conhecimento.

Isso porque, em primeiro lugar, esses padrões estariam vinculados ao que eu — e o Guia do Mochileiro das Galáxias — chamaria de “filtro”, que serviria para impossibilitar que nossos cérebros se rebelassem e saíssem derretidos pelas nossas orelhas a fim de beber uma xícara de café ao tomarem consciência do quão ínfimos nós somos em relação a este Universo tão desmesurada, inconcebível e estonteantemente grande.

Depois, eu não sei nem se estaríamos preparados para conhecer a totalidade da Vida, do Universo e Tudo o Mais.

E se não fosse nada do que estávamos esperando?
E se fosse justamente o que estávamos esperando?
E se tudo se resumisse a um grande pedaço de abóbora moranga?

...

Acho que existem coisas que devem permanecer quietas debaixo do tapete até o dia da grande faxina.
Seria ela em 2012?

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“Júpiter and Saturn, Oberon, Miranda and Titanium. Neptune, Titan; stars can frighten..."

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Objetivo de vida:

Ser tão foda no quê diabos eu resolver fazer da vida a ponto de poder ir trabalhar de pantufas de garras de dinossauro laranjas, tiara de anteninhas brilhantes e uma ressaca féladaputa e todo mundo achar isso a coisa mais bacana do mundo.

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Blá blá blá

Muito, muito tempo depois do último post eis que esta que aqui vos escreve resolve que vai voltar às suas atividades pseudo-literárias.

Dei até uma mudada na foto do layout pra ver se me animo de novo com isso aqui, vocês viram?

Blé.

O fato é que atualmente minhas palavras deram para se organizar em frases soltas, assim, e só; a idéia de juntá-las em uma só história lhes parece abominável.

Sacumé, né?

Eu não sei.

De qualquer forma, decidi que é melhor escrevê-las. Se é só assim que essas teimosas dão as caras, que assim seja.

(Quem sabe assim elas ficam animadinhas umas com as outras e resolvem dar uma grande festa cheia de palavras de todos os tipos em uma só organização?)

...

segunda-feira, 30 de março de 2009

De uma Vontade de escrever

Estou com vontade de escrever.
Entretanto não é aquela vontade a qual se pode controlar, sabe?
Não gosta de amarras, essa minha vontade.
Nunca gostou.
E está se recusando terminantemente a me ajudar com o final da história da Inspiração.
Na verdade eu acho que ela está com ciúmes.
Sim, é por todos sabido que Vontades e Inspirações têm suas rixas pessoais.
Isso ocorre desde os tempos imemoriais em que os animais falavam e as nuvens eram feitas de algodão-doce.
Até hoje não superaram essa desavença, pobrezinhas.
E quem sai perdendo com isso sou eu.

(Ou vocês, que eu tenho certeza de que estão fervendo de curiosidade para saber o que aconteceu quando fui resgatar minha Inspiração naquela cadeia perdida de Roshgrangeon U.U”)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Em Busca Da Inspiração Perdida - Parte I

Era uma noite como outra qualquer e lá estava eu, esticada em minha cama, as janelas do quarto escancaradas e o ventilador de teto ligado no máximo em uma vã tentativa de espantar o calor ridiculamente excessivo dessa época do ano.

Não conseguia dormir. Olhei no relógio, passava das quatro da manhã.

— Ah. Como eu adoro passar calor — resmunguei enquanto levantava da cama e buscava em minha estante alguma coisa para ler — Hum, poderia ir tomar um banho gelado, talvez isso me fizesse bem — continuei dizendo, talvez para o desenho da Princesa da Babilônia que me espiava da capa do livro do Voltaire jogado em cima do meu criado-mudo, enquanto caminhava em direção à porta.

— Nevermore! — gritou alguma coisa às minhas costas.

Nevermore.

Sim, isso era, afinal, um som muito natural de se ouvir às quatro horas da manhã em meu apartamento.

Ainda se fosse no alto de uma torre sombria, durante uma noite escura, tempestuosa e gelada, ouvindo as ondas do mar chocarem-se com fúria nas pedras lá em baixo e lendo, à luz de uma única e parcialmente derretida vela, Edgar Allan Poe, vá lá.

Mas em uma madrugada de calor infernal no oitavo andar de um prédio amarelo e cor-de-rosa erguido há uns vinte e poucos anos num bairro afastado da cidade de São Paulo?

Sim, muito natural.

Virei-me lentamente, sem saber exatamente se queria ou não saber o que diabos teria gritado “Nevermore!” do beiral da minha janela.

E qual foi o meu espanto, então, ao ver um belíssimo pássaro vermelho e dourado com o rabo de lindas plumas coloridas e um bico curvo de marfim a me observar com olhos negros estranhamente opacos emoldurados por óculos de aro-de-tartaruga empoleirado entre as grades da minha janela.

Não que eu estivesse exatamente esperando um corvo negro caindo aos pedaços pousado em cima de um busto de pedra, mas...

— Nevermore!

Bem, com certeza aquilo deveria ser ainda mais natural.

— Olá — comecei eu, e parei. Ótimo, já estava começando a falar com pássaros bizarros surgidos sabe-se lá de onde empoleirados sabe-se lá por quê no beiral da minha janela.

Eu devia começar a fazer análise.

— Hã! Quê? Ah! Olá! — respondeu o pássaro num pulo, piscando assustado e olhando em volta.

— Ah...

— Oh, puxa, que coisa, dormi no serviço de novo! — exclamou a ave abrindo as enormes asas e se ajeitando novamente — Perdoe-me, cara Carolina, mas, sabe como é, vida de Fênix não anda fácil nesses tempos modernos, a gente anda sempre pra lá e pra cá mandando mensagens e salvando vidas e ninguém acredita que a gente existe de verdade e a gente tem que se explicar e fazer e acontecer e na hora de alguém dizer alguma coisa a respeito nunca dizem “ah, foi a Fênix que me ajudou”, não, é claro que não; é sempre o herói, a princesa, o mago ou qualquer um desses humanos imbecis quem salvou o mundo e merece todas as honras e a Fênix, quem é essa tal Fênix?, esses bichos nem existem de verdade, é tudo de mentirinha, você ainda acredita em conto-de-fadas?, ah, mas que coisa, aí eu fico tão cansada, não tenho tempo nem para comprar umas lentes de contato, e... — parou para tomar fôlego e olhou para mim com olhos lacrimosos — Ah, tudo o que eu queria era poder ser um corvo preto.

Pisquei, aturdida com aquela enxurrada de palavras saídas do bico da tal Fênix.

— Hum — comecei eu. Não tinha tanta certeza de que deveria encorajá-la a falar de novo, a mim parecia ser ela um daqueles tipos de pessoas – ou aves – que preferia monólogos ao invés de diálogos. Em todo o caso, minha curiosidade falou mais alto do que o meu amor pelos meus ouvidos, e continuei — Então você - o senhor - a senhora - estava dormindo...?

— Ah, estava, sim! Viagens longas me deixam por demais cansada, sabe? Vai ver você não reparou porque eu desenvolvi uma técnica – rê rê rê não conta isso pra ninguém se não eu vou acabar demitida – de tirar uns cochilos com os olhos abertos, sabe, coisa bem fácil quando você é uma Fênix maravilhosa como eu e pode fazer praticamente qualquer coisa, mas, então, se descobrirem isso eu posso perder fácil o meu emprego, e... Ah! É! O meu emprego! É claro que eu não vim até aqui à toa, tenho coisas a lhe dizer! Puxa vida, que grande charlatã eu sou!

Ah. Ela tinha coisas a me dizer, então. É claro que tinha. Várias. A questão era, será que eu queria mesmo escutar?

— Eu já estava perdendo o fio da meada, você viu só como eu sou? Desculpa, nem todas as Fênix são assim, é que eu ando meio atarefada, sabe, e—

— Você disse que tinha coisas do seu trabalho a me dizer... — interrompi-a.

— Ah, é verdade! Então — disse, retirando um pedacinho amarelado de papel do meio de suas penas e começando a lê-lo — “Olá, Carol. Venho por meio desta (e espero do fundo do meu coração que esse estrupício penado consiga entregar-lhe esta mensagem...” Ei, eu não sou um estrupício penado! Sou uma grandiosa e imponente fênix, um animal mitológico muito raro e em extinção e...

— Hum, talvez você pudesse me entregar o bilhete...? — tentei.

— É, talvez eu até pudesse, mas acho que estrupícios penados não conseguem sequer entregar bilhetes para as outras pessoas, ou será que conseguem?

— Na verdade eu acho que conseguem, sim.

— Ora! — disse a Fênix, estalando o bico, amarrando a cara e entregando-me de muito mal gosto o tal pedaço de papel amarelado.

“Olá, Carol.

Venho por meio desta (e espero do fundo do meu coração que esse estrupício penado consiga entregar-lhe esta mensagem) avisar-lhe que uma Inspiração de cabelos azuis vestida com roupas coloridas e óculos escuros vermelhos foi encontrada jogada, completamente bêbada, em uma sarjeta da cidade de Roshgrangeon por um guarda decididamente mal-encarado que resolveu trancá-la em uma das duas celas da Nem Tão Grande Assim Prisão Quase Nunca Utilizada de Roshgrangeon. Como soube que sua Inspiração andava desaparecida e as características daquela encontrada assemelham-se muito com as dela, imaginei que talvez você quisesse vir procurá-la. Estou no momento em busca de algumas ervas mágicas na Grande Floresta Verde de Gorgafroom, que faz divisa com Roshgrangeon, qualquer coisa entre em contato.
Fique em paz.

Profeta Zé Apocalipse.”

— É — pensei, ao terminar de ler o bilhete — Acho melhor ir buscar minha toalha.

(Continua, obviamente. Quero dizer, pelo menos eu espero continuar, encontrando minha Inspiração onde o Profeta Zé Apocalipse disse que ela poderia estar.)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sobre as coisas como elas não são

Ao amanhecer de uma noite ligeiramente ébria estava esta que aqui vos escreve sentada num dos bancos azuis do fundo de um Terminal Capelinha, olhando pela janela sem realmente ver o que se passava por trás do vidro e ouvindo o álbum Division Bell, do Pink Floyd.

Não pensava em nada em específico, só ouvia a música e lutava contra o insistente sono.

Em uma das paradas do ônibus, eis que sobe no veículo uma senhora baixa, meio gorducha, de cabelos gritantemente vermelhos e roupas que combinavam muito bem: calças amarelo marca-texto e uma camisa azul-marinho com bolotas coloridas.

Não tive como não reparar. Talvez se ela tivesse pendurado uma melancia no pescoço o visual ficasse ligeiramente mais apresentável, mas, em todo o caso, o fato foi que aquela explosão de cores fez-me pensar sobre algumas coisas.

Não, não foi que talvez a pobre mulher não tivesse dinheiro o suficiente para possuir um espelho de corpo inteiro em casa ou em como o mundo poderia ser muito mais esteticamente agradável se fosse possível adquirir um concentrado de Senso de Ridículo em qualquer farmácia.

Lá, sentada num dos últimos bancos azuis do ônibus, observando com ligeiro ar de riso aquela explosão de cores que se materializava na gorducha senhora ridiculamente vestida, pensamentos obscuros sobre a relatividade das coisas começaram a dançar uma ciranda na varanda do meu cérebro.

A vermelhidão do cabelo da senhora, por exemplo.

Será que aquela cor intensa e vívida que eu enxergava com meus míopes e astigmáticos olhos castanhos era a mesma cor que o garoto de boné postado em frente à porta via quando olhava para aquela mulher?

Será que o vermelho que eu vejo é o mesmo vermelho que ele vê, que você vê, que qualquer um vê?

Se uma pessoa, desde que se entende por gente, acostuma-se a dizer que a cor do céu é azul, a cor do céu, para aquela pessoa, será azul, mesmo que o que ela veja seja o que eu chamaria de verde. Estando ela acostumada a chamar o que eu chamaria de verde de azul, o verde, para aquela pessoa, seria azul.

Ou não.

As relatividades e as dependências dos pontos de vista para qualquer situação são um tanto quanto frustrantes, não são?

Digo, até hoje não tenho a certeza absoluta de que aqueles que me cercam existem realmente.

Talvez vocês todos sejam apenas um fruto da minha imaginação.

Talvez eu mesma seja um fruto da minha imaginação.

Como posso ter a certeza de que alguma coisa é realmente alguma coisa, seja lá que alguma coisa essa alguma coisa gostaria de ser, se é da minha percepção que irei me valer ao analisar essa alguma coisa?

O que eu quero dizer – se é que quero mesmo dizer alguma coisa e não simplesmente escrever palavras a esmo numa página em branco do Blogger – é que esse é o tipo de coisa sobre a qual o melhor a se fazer é varrê-la para debaixo do tapete e ir assistir à uma partida de bocha alienígena bebendo vodkas Alkällesiahnas.

Ou não, também.

42.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Da Gaveta do Meu Cérebro

Certa vez abri uma gaveta do meu cérebro e de dentro dela pulou um gato listrado de óculos escuros que fumava um charuto cubano.

Ele olhou para mim com seus olhos que mudavam de cor e disse:

“Ande sempre com a chave! Nunca se sabe quando será preciso trancar a porta.”

Foi então que tudo finalmente fez sentido pra mim: um arco-íris desbotado brilhou num céu de caleidoscópio e eu pude ouvir as guitarras distorcidas dos guardiões de um paraíso que não existe.

Mas aí, no segundo seguinte, quando o silêncio imperou, o tudo se fez nada; o gato sumiu numa nuvem de fumaça e o sentido de todas as coisas do mundo fugiu de mim como as areias de uma ampulheta quebrada.

...

(É. É velho. Quase todos os que frequentam - agora sem meu querido trema - o meu humilde blog já o conheciam. Mas, e daí? Minha Inspiração ainda não voltou da farra do Ano Novo. Deve estar bêbada e perdida em algum lugar psicodélico e isolado da civilização. Se alguém a vir, por favor, entre em contato. E feliz começo de ano para todos.)