domingo, 14 de dezembro de 2008

Aurora Cor-de-rosa

Amanhecia.
Cor-de-rosa.
O céu de São Paulo amanhecia cor-de-rosa.
As ruas estavam vazias, estranhamente mais coloridas.
Os passarinhos cantavam o que aos meus ouvidos soava como as músicas dos clássicos da Disney.
O Sol surgia sonolento por entre as nuvens e prédios cinzentos, derramando vermelho e dourado a cada bocejo.
Amanhecia.
Cor-de-rosa.
A minha alma amanhecia cor-de-rosa.

...

"Babe, babe... I love you"

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Primeiro Beijo

(Nota: Remexendo em gavetas velhas e mofadas em busca de alguma coisa da qual não me lembro mais o que era, encontrei alguns textos por mim escritos nos idos anos de 2004 e 2005.
Um deles é este aqui, escrito para uma aula de redação.
Como ficou bonitinho e estou meio sem criatividade ultimamente, resolvi postá-lo como memória aos tempos de colegial.
E é isso aí.)


***

A garota permanecia parada no jardim, as mãos pequeninas suando frio e as pernas ligeiramente tortas tremendo levemente. Percebia as figuras imóveis à sua volta, bancos e mesas misturando-se às plantas na escuridão iluminada apenas pela lâmpada elétrica acima da sua cabeça. Ouvia os risinhos femininos abafados vindo por todos os lados, mas fingia não saber do que se tratava.

Enfiou às pressas uma bala de menta na boca, enquanto tentava o mais dissimuladamente possível controlar os pensamentos frenéticos que lhe assaltavam o cérebro. Esperava por aquele momento há tanto tempo e, finalmente, aquele seria o dia! Por tantas vezes havia visto nos filmes e novelas aqueles beijos dos casais apaixonados, sonhando com o dia em que... e ela já era quase uma moça, havia acabado de completar seus doze anos!

Aquela festinha não fora por acaso. Tivera todo o cuidado de planejá-la com antecedência, com a ajuda de suas melhores amigas, para que caísse no dia certo em que ele pudesse comparecer. Arranjaram CDs de música para se dançar pertinho, fizeram bailinho, tudo conforme o figurino. Ela se arrumara como quase nunca fazia, passando batom, repartindo o cabelo encaracolado em duas tranças, escolhendo sua melhor roupinha. Até então ia tudo de acordo, eles já haviam dançado, já haviam conversado, suas amigas já haviam falado com os amigos dele...

E ali estava ele, bem à sua frente.

Seu pequeno pé batia insistentemente no chão, acompanhando o descompasso acelerado de seu coração. Começou a brincar com o cabelo numa vã tentativa de esconder a timidez, pensando em alguma coisa para dizer-lhe enquanto tentava tomar coragem para olhar bem diretamente para aqueles olhos tão bonitos e tão simpáticos. Sua voz, porém, parecia ter tirado férias, enquanto seus olhos pareciam ter sido hipnotizados pelo botão amarelo da camiseta do garoto.

Endireitou sua blusinha cor-de-rosa, então, percebendo que seu acompanhante, prendendo a respiração, dava um passo em sua direção. Olhou para o lado, enrubescendo, seu hálito de hortelã se misturando com o perfume cítrico do menino. Via que suas cabeças agora se aproximavam cada vez mais, estavam a cada segundo mais perto. Estavam cada vez mais perto, cada vez mais perto... podia contar as sardas do rosto dele, se quisesse... mas, obviamente, ela preferiu fazer outra coisa.

...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Considerações sobre o futuro de Caranguejo Excêntrico

Era por volta das três horas da madrugada e lá estava Caranguejo Excêntrico no alto de sua agora não tão inatingível – pelo menos para uma certa pessoa em particular – Torre de Marfim, sentada em sua poltrona verde favorita e observando despreocupadamente o Mundo Real com seu telescópio mágico tecido de sonho.

Tentava imaginar, apesar do aperto que aquilo lhe causava, o quê diabos estaria fazendo naquele exato momento dali a uns quatro ou cinco anos.

Ela sempre se arrependia quando começava a voltar seus pensamentos para esse tipo de coisa, era como se um balde de gelo fosse virado em seu estômago e um pelicano gigante fizesse ninho na sua cabeça. Mas agora não havia como voltar atrás, observar o distante Mundo Real empurrara suas já irrefreadas idéias para este caminho e elas sempre foram muito teimosas para que ela conseguisse reconduzi-las rápido o suficiente para um terreno seguro. Só lhe restava, então, pensar no que quer que suas idéias quisessem pensar, até que numa hora ou outra o pensamento se cansasse desse tema em específico e voltasse a atenção para coisas mais agradáveis.

Pois bem, o que seria de Caranguejo Excêntrico dali a uns cinco anos? Teria a Síndrome de Peter Pan ido embora? Poderia ela vestir-se com seus panos sóbrios e adultos sem precisar despir-se dos leves e coloridos véus da inocente fantasia infantil que tanto idolatrava? Conseguiria ela por fim estabilizar-se sem contudo cair na armadilha terrível e hedionda da estagnação? Estaria ela, pois, simplesmente feliz?

Caranguejo Excêntrico balançou a cabeça e serviu-se de uma xícara quadriculada de Berguelotes fresquinhos, apontando seu telescópio para suas psicodélicas e verdejantes terras de Manskaoosin.

Aquele, sim, era o lugar ideal para se viver. Em seu maravilhoso e surreal reino particular de Manskaoosin Caranguejo Excêntrico poderia ser exatamente quem gostaria de ser. Poderia conviver apenas com aquelas pessoas das quais ela apreciava a companhia, poderia ouvir apenas o tipo de música que lhe apetecia, poderia estudar precisamente o que lhe agradava. Ali ela era a Imperatriz. Ali, era única.

Mas ela sabia que seu lindo e confortável mundo paralelo não lhe era acessível senão nas poucas horas durante as quais o poderoso Sol deixava-se cair irresistivelmente hipnotizado pelos mistérios obscuros da sedutora Lua. E, mesmo que pudesse permanecer ali para sempre, será que seria realmente bom? Será que toda aquela sua fantasia maravilhosa não era perfeita demais justamente porque não passava, porque não poderia passar de fantasia?

Manskaoosin havia sido criada para que nela Caranguejo Excêntrico pudesse recarregar suas baterias, arejar seus pensamentos, enlouquecer sem de fato ficar louca. Era seu refúgio. E não havia como ser mais do que isso.

Caranguejo Excêntrico fechou os olhos, já irritantemente cheios d’água, e respirou profundamente algumas vezes.

Precisava tomar coragem para mergulhar de cabeça naquele tal Mundo Real, entretanto o último concentrado desse tipo parecia ter sido entregue ao Leão Covarde pelo Mágico de Oz há algum tempo e andava em falta nos mercados-vermelhos dos mundos paralelos.

— Bem, quem sabe um genérico funcione, não é? — disse para si mesma, espreguiçando-se preguiçosamente enquanto seus pensamentos começavam a entoar um sonolento mantra manskaoosinista e perdiam-se completamente daquele assunto desconfortável do início — Acho que vou tentar fazer bolhas quadradas de sabão, então.

...


“I'm gonna love you ‘till the stars fall from the sky for you and I”.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Insonho

Sonhos!
Sono?
Insone.
Sony!
Sono.
Sonhos?
Insônia...
Sônia...
Sonha.
Sono!
Sem som?
Sem sono?
Sem sonho.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Devaneios no Metrô

Metrô de São Paulo, linha que leva nada a lugar nenhum, sete horas da noite.

Estava eu praticando meu esporte predileto nesse tipo de situação – esporte este que consiste em observar e analisar descaradamente as pessoas à minha volta – quando notei, bem à minha frente, sentado em um dos bancos reservado para idosos e deficientes, um homem barrigudo de cabelos grisalhos que lia um livrinho fino de aparência comum.

Gutembergomaníaca que sou, pus-me então a tentar decifrar qual livro aquele tal seria.

Um livro de auto-ajuda, talvez? Do tipo “Como perder 10 kg em uma semana”? Sua pequena barriga certamente acharia um desses muito útil.

Poderia também ser um daqueles livros melosos e românticos de banca-de-jornal, tipo Sabrina, Stéphanie, Paola... não, não; quem costuma ler esses livros são garotinhas fúteis e velhinhas frustradas. (!)

Ah! E se fosse um livro erótico daqueles “Kama-Sutra para iniciantes” ou “Livros para se ler com uma mão só”? Hohoho, isso seria interessante; poderia aquele distinto senhor barrigudo ser um tiozão pervertido que—
Hum. Deixa pra lá.

Finalmente o homem pousou o livro em seu protuberante abdome, de capa virada, permitindo-me então que lesse o título: “O porquê do himem – Este é um livro que deve ser lido! Todos os homens e mulheres que foram adolescentes na década de 1960 devem ler este livro para aprender como ter de volta tudo aquilo que o Diabo roubou. O amor livre foi o pior erro dessa geração, as conseqüências disso são o grande numero de divórcios—

Fiquei alguns instantes em choque. Precisei virar-me de costas e me esconder entre alguns pares de braços e mãos para não rir abertamente e correr o risco de ouvir um sermão inflamado do homem barrigudo dono do livro sobre o “porquê do himem”.

Voltei a observar o tal senhor. Cabelos grisalhos, rugas de expressão, olhos escuros e fundos. Quantos anos teria? Uns sessenta? Teria ele sido jovem durante a liberação sexual do meio do século XX? Teria ele ouvido Beatles, usado LSD e sido hippie naquela época? Estaria ele passando por dificuldades no casamento e, não sabendo mais em quê se apoiar, voltando-se para a religião, resolveu colocar a culpa em coisas que aconteceram há quase cinqüenta anos atrás, com o agravante de ter sido levado pelo diabo?

É, não sei como ainda me surpreendo com certos exemplares da minha espécie. Muito mais fácil pôr a culpa no demônio do que arcar com as conseqüências dos próprios atos.

Sim, é claro, porque foi justamente isso. O Diabo que roubou a moral e a decência dos adolescentes dos anos 60, por isso tem tanta gente se divorciando hoje em dia.

Obviamente; nada mais natural. E foi nisso que fiquei pensando enquanto voltava para casa e colocava-me a escrever sobre o ocorrido.

Deveríamos ainda casar todas virgens, os garotos sendo iniciados por prostitutas, uma vez que precisavam chegar ao casamento sabendo desse tipo de coisa.

Deveríamos continuar com um casamento, por mais infeliz e perturbado que fosse, apenas para manter as aparências, porque a igreja e a sociedade diziam ser o casamento uma união única e indissolúvel.

É, deveríamos mesmo voltar a viver como famílias do século XIX; naquela época não havia tanto divórcio, não é? Mas isso significa necessariamente que as pessoas eram mais felizes?

Nada contra o casamento ou a virgindade, desde que a pessoa tenha optado por isso por livre e espontânea vontade em busca da própria felicidade. Acontece que foi justamente só depois das revoluções culturais da década de sessenta que foi possível ao indivíduo escolher. E se Deus é amor e quer o bem à Sua criação, privilegiando-a até mesmo com o próprio Livre-Arbítrio, não entendo qual o problema em se ter a possibilidade de escolher, não entre o pecado e a pureza, mas sim entre a felicidade e a frustração.

E não me venham com discursos prontos de felicidade da matéria X felicidade do espírito, não acredito que se possa ser verdadeiramente feliz sem que haja equilíbrio entre as duas.

E... e chega, que cansei de escrever.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tutorial de Como Matar Uma Mariposa Gigante

Estávamos nós, eu e Thiago, calmamente sentados no sofá da casa da minha avó em Águas de São Pedro, altas horas da madrugada, assistindo ao Novo Tele Curso – que, aliás, é realmente muito novo, diga-se de passagem; as placas dos carros que passavam na gravação ainda eram amarelas, os ônibus eram brancos com uma linha vermelha no meio e as pessoas usavam aqueles penteados cheios lindos do começo dos anos 90 e aquelas calças de cintura alta coloridas – quando, de repente, eis que essa que aqui vos escreve nota alguma coisa muito preta e muito nojenta delicadamente (?!) pousada no vidro da janela.

— Thi... Aquilo ali é uma barata ou uma borboleta? — perguntei, temendo a resposta.

Como todos bem sabem, eu tenho um certo, hum, como poderia dizer?, receio de borboletas.
Na verdade, não é bem um receio.
É medo, mesmo.
Pavor.
E não tem explicação nenhuma pra isso, exceto que minha avó também tem.
Já me disseram que, de acordo com a psicanálise, pode ser que esse meu pé atrás em relação às borboletas (escrever aqui “meu pavor de” seria mais correto, mas faria com que me sentisse idiota, então, deixa pra lá) e qualquer coisa que voe de maneira geral seja porque eu tenho inveja da liberdade que esses animais têm por poderem voar.
Talvez.
Mas se voar for mesmo só uma questão de errar o chão, então...
Ah, deixa pra lá.
Voltando ao que aconteceu.

— Thi... Aquilo ali é uma barata ou uma borboleta?

— Acho que é uma borboleta... ai, não, acho que é uma mariposa!

Foi o tempo de processar a palavra “mariposa” e ligar o nome ao bicho que os dois corajosos urbaninhos puseram-se de pé num pulo e foram refugiar-se no extremo oposto da sala, quase que atrás da mesa.

— E agora? Você vai matar? — perguntei, em meu desespero crescente.

— Matar isso aí? Ai. Tem SBP? Ai.

Bom ter um namorado que tem tanto medo de mariposa quanto eu.
Lá foi a garota do cabelo roxo desbotado em busca da salvação e do alívio que se materializavam em um vidro de SBP.

— Olha, tá aqui. E o pano. — eu disse, entregando-lhe as armas, assumindo uma expressão de “eu confio que você vai voltar vivo” digna de esposa de soldado em véspera de batalha e tratando de sair rapidinho dali.

Pobre Thiago. Foi-se chegando de mansinho ali perto da janela, entrincheirando-se atrás do sofá, as armas em punho, uma expressão de determinação no rosto. Engatilhou o vidro de SBP e disparou uma, duas, três vezes, dando um passo para trás a cada vez que a mariposa esboçava qualquer sinal de tentar se mexer.

— Ô Thi... acho que você tem que espirrar mais em cima dela, não? — balbuciei do meu esconderijo na cozinha.

— Tô tentando!! — disse ele, e espirrou uma quarta vez. Oh, céus. Para quê. E não foi que a mariposa maldita resolveu levantar vôo?

Não deu nem uns três segundos e eu já estava escondida atrás da porta da lavanderia, com um cachorro poddle preto com cara de sono a me observar desaprovadoramente e um sentimento nada propício de que não deveria ter deixado meu pobre namorado lutando sozinho com aquele monstro.
Cadê sua coragem, Carolina!
Juntei minhas forças, ou o que sobrara delas, e voltei para o campo de batalha.

— Thi?

— É melhor você ficar aí. Ela tava voando; agora tá pendurada no sofá.

— Ai. Vou tentar abrir a porta pra ela sair!

Brilhante idéia, Carolina. Brilhante. Como você pretendia fazer aquilo sem passar por aquele monstro mutante?
Mas lá fui eu, exemplo da coragem feminina, pulando a qualquer tremida de asas da mariposa, abrir a porta. E consegui sair ilesa da missão, vivas para mim! Entretanto, quem não quis entrar na brincadeira foi a mariposa. Lá ela continuou, pousada no sofá, parece que zombando das nossas tentativas frustradas de fazê-la ir embora.

— Taca mais SBP! — eu disse.

Acabamos com o vidro de SBP; nada. Busquei outro. No que o Thiago abriu o frasco aquele demônio alado, talvez prevendo outra tentativa homicida da nossa parte, abriu suas enormes asas negras e amareladas e partiu para cima do coitado.

— AH! AHHH! ELA TÁ ME ATACANDO!!!

— AAAAHHHHH!!!!

Corremos para a cozinha. De lá, observávamos a astúcia da mariposa, voando calmamente pela sala. Depois de algum tempo, ela se escondeu em baixo da mesa.

— É agora! — eu disse — Mais SBP!

Espirramos mais SBP naquela mutação genética, que começou a se debater freneticamente. Esboçou mais algumas tentativas de vôo, frustradas pelo veneno, e pôs-se a cambalear pelo chão da sala.

— Ah, agora fica mais fácil, né? — eu disse.

— É, né... — respondeu o Thiago, e ficou me olhando — Mas ela ainda tá fugindo.

Depois de algumas tentativas frustradas de tiro ao alvo com meus chinelos, eis que Thiago teve a brilhante idéia de jogar o pano em cima da mariposa.

— Você joga — falei.

E ele jogou. Acertou em cheio as asonas pretas e nojentas da mariposa.
E lá ficou, aquele monstro diabólico e perverso, debatendo-se debaixo do pano de chão sujo.

— Você vai pegar a bichinha? — perguntei, suplicante, mas já sabendo a resposta.

— Há. De jeito nenhum. Deixa ela aí!

Mas eu não podia deixá-la ali.
Ela se debatia, o pano mexia, começava a me dar uma agonia danada de ver a agonia da pobrezinha.
Sim, ela era um monstro vindo direto do inferno, mas, ainda assim, a hora da morte de qualquer ser vivo deve ser respeitada.
E foi por isso, por piedade, que eu não tive dúvidas e pisei em cima do pano. Uma, duas, três vezes. Dancei um sapateado romeno em cima da bicha, até ter certeza de que ela não iria se mexer mais.

— Pronto. Agora você pega? — perguntei.

— Eu, heim!! — respondeu Thiago se afastando.

Então, como não havia mais jeito, fiz eu o trabalho sujo de me livrar do corpo. Deitei-o no jardim, com pano e tudo, da maneira mais rápida e limpa que pude encontrar.

E foi assim que se deu a batalha épica de dois urbaninhos guerreiros e extremamente corajosos com um terrível monstro alado saído direto dos últimos círculos do inferno.
Por favor, crianças, não tentem isso em casa. Um negócio desses pode causar danos psicológicos irreversíveis...

E fim.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre a tal Federação da Luz

Uma australiana chamada Blosson Goodchild afirma veementemente que desde algum tempo anda se comunicando com entidades extraterrenas que se autodenominam Federação da Luz.

Segundo a moça, dia 14 de outubro de 2008 essa tal Federação da Luz tornará visível no céu do Hemisfério Sul do nosso querido planeta azul praticamente inofensivo uma ou algumas de suas naves gigantescas, e assim permanecerão, descaradamente visíveis a qualquer criatura que se digne a levantar a cabeça e olhar para cima, por três dias e três noites.

A mensagem desses extraterrestres luminosos, segundo a tal Blossom, é de amor, paz, iluminação e aquilo tudo que gente de sucesso escreve em livros de auto-ajuda para ganhar mais dinheiro às custas daqueles pobres coitados que têm uma auto-estima tão grande quanto um grãozinho de poeira jogado no vento.

Só.

O mais legal é que eu deveria agora estar fazendo o fichamento de um livro sobre o Estado Novo e, ao invés disso, aqui estou, gastando latim pra escrever sobre alienígenas.

Um fichamento de um livro de cento e sessenta páginas, para terça-feira.

E adivinha quanto vale esse trabalho?

Um absurdo de 15% da nota.

Estou me matando aqui por míseros um ponto e meio.

Um ponto e meio estes que, se bobear, não valerão mais nada ao final desta semana, uma vez que a tal Federação da Luz está para sobrevoar nosso lindo planeta justamente nesta terça-feira e alterar completamente a noção de prioridade de qualquer um.

Ô, beleza.

Hum.

Dia 14 de outubro cai numa terça-feira.

O dia em que os tais da Federação da Luz irão mostrar-se visíveis é uma terça-feira.

É, justamente, essa terça-feira.

Segundo o mais importante livro até hoje nunca escrito - obviamente o Guia do Mochileiro das Galáxias - foi justamente numa terça-feira que os Vogons - os seres mais burocráticos do Universo e os últimos que você chamaria para tomar uma xícara de chá - vieram destruir a Terra para a construção de uma via inter-espacial no lugar.

É...
É melhor eu ir separar a minha toalha.
E três canecas de chope.
E um pacote de amendoins.

...

Se as naves da tal Federação da Luz forem amarelas e você não possuir um sinalizador eletrônico subeta, pode começar a se desesperar.


(Se alguém se interessar, o blog da tal Blossom: http://www.blossomgoodchild.com/index.html?page=BGoct14.html )

domingo, 5 de outubro de 2008

A Criação

No início, era a Água.
Não havia sensação alguma, apenas Água.
Aos poucos, formou-se no horizonte um pequeno ponto brilhante.
Não que aquele fosse, realmente, o Horizonte, ou que o pequeno ponto brilhante fosse, exatamente, um pequeno ponto brilhante.
Mas era alguma coisa; alguma coisa que abalava a estaticidade da Água.
E aumentava.
Cada vez maior, cada vez mais brilhante.
Cada vez mais perto.
Um som surdo, absurdamente alto e quase que completamente imperceptível, começou a tomar forma.
Era o Som do Silêncio.
O Som do Silêncio Vivo.
A Água agitava-se.
Tons de azul e violeta tomavam lugar na transparência das bolhas que se formavam.
Um frio metálico foi sentido.
A Água, então, passou a sentir.
O que antes era um pequeno ponto brilhante agora já se tornara uma imensa e ofuscante bola de luz branca.
E foi então que aconteceu.
A imensa e ofuscante bola de luz branca chocou-se estrondosamente com a Água.
E foi então que, da explosão de cores e sons jamais imaginados e nunca mais vistos que tal impacto causou, surgiu o Tudo-O-Que-Conhecemos-E-Ou-Não-Temos-A-Mínima-Idéia-Do-Que-Seja-Hoje-Em-Dia.

...

"Amanheceu um lindo dia, cheirando alegria"...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

...

Bah.
Ia dormir faz tempo, mas estou sem sono.
Ia fazer um vídeo de presente de aniversário para meu avô, mas o Movie Maker travou.
Ia assistir a outro episódio do House, mas já está muito tarde (ou talvez cedo?) para começar.
Ia escrever alguma coisa mais útil, mas a idéia escorreu pelo ralo junto com os últimos M&Ms amarelos.

...

Alguém viu a Inspiração por aí?
A última vez que a vi, estava jogando buraco com a Rotina, enchendo a cara de conhaque. Deve ter ficado bêbada e esquecido o caminho de casa...
Por favor, se a virem, entrem em contato.

Au revoir!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pen Samen Tosjo Gado SP Oraí

Fujam, fujam para os promontórios!
As cascas dos ovos das gansas albinas dos Alpes estão nevando de novo!
Cuidado com o que desejam aos três-quartos dos ventos, às vezes moinhos são só dragões ao relento.

Um duende de barba branca me disse que eu deveria dizer que não dizia nada que dissesse alguma coisa dita. Mas, de qualquer forma, não consigo me lembrar direito do que foi que ele falou.

Alguém quer morangos?
Ambrósio era um bom rapaz, até que começou a comer morangos. Sua vida nunca mais foi a mesma...

Só.
E uma vida aos brindes simples das coisas.

...

"Mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar"

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

08.08.08 IV - Finalmente Final

- Hum, pelo jeito ela sabe mais do que a gente imaginava – disse Tod enquanto dava uma longa tragada no cigarro – Sente-se, Carol – continuou, encarando-me – E pegue mais uma Heineken. Acho que temos muito que conversar.

Sentei-me num pufe colorido, retirando uma revista da Turma da Mônica que ali estava e apossando-me de mais uma garrafa da Heineken.
Tentei colocar meus pensamentos em ordem, o que era tarefa difícil, uma vez que três seres bastante peculiares ainda me observavam com seus grandes olhos coloridos.

Bebi alguns goles da cerveja.

Certo. Aqueles eram os famosos (ou não tão famosos assim) Sacanas Que Controlam O Destino Da Humanidade. Chamavam-se Tod, Bob e Zod. Bebiam Heinkens, jogavan Play Station, liam histórias em quadrinhos e não deviam ser muito chegados numa faxina.
Sim, aquilo explicava muita coisa sobre o destino da humanidade.

- Então, Carol - começou Tod - Nós somos Aqueles Que Foram Criados Antes Mesmo Da Criação, entende?

- Há quem diga que nós mesmos nos criamos - disse Bob - Mas eu não tenho tanta certeza disso, visto que não nos lembramos de como fizemos isso.

- Sim, o que é uma pena - falou Zod - Você pode imaginar o que é passar uma eternidade só com esses dois marmanjos aí?

- Hum... deve ser... - tentei dizer.

- Um saco - completou o ser com moicano - Por isso as Heinekens, as revistas, o vídeo-game...

Aquilo começava a me soar extremamente interessante. Explicava muitas coisas, aliás.
Bebi mais cerveja.

- Pois é - disse Tod - Foi então que, durante um dia frio e cinzento, daqueles em que nada se tem e nada se pensa pra fazer...

- E que resolvemos chamar de Domingo - complementou Zod.

- ...decidimos que continuar a viver daquele jeito não ia dar. Precisávamos urgentemente de alguma coisa que nos entretesse, sabe, que nos tirasse daquela monotonia...

- ...e então eu resolvi ir até a janela tomar um pouco de ar - disse Bob - porque o Zod acendia um cigarro atrás do outro - continuou, virando para o amigo e fazendo fazendo uma careta - e meu pulmão não é cinzeiro, saca...

- ...aí - disse Tod acendendo outro cigarro e soltando a fumaça na cara de Bob - essa bicha aí virou, empolgadíssimo, para mim e para o Zod e disse...

- Humanidade!

- Eu perguntei, obviamente - disse Zod - que porra era aquela que ele estava gritando...

- E eu respondi que não sabia, também, mas que tinha jeito de chamar "humanidade".

Eu precisava urgentemente de mais uma garrafa de Heineken.

- O que o Bob, aí, chamou de "Humanidade" - disse Tod - Eram serezinhos muito peculiares, bem parecidos com você, aliás...

- Só que beeeem mais peludos - interviu Zod.

- ... e que vieram, como soubemos depois de analisar um deles atenciosamente, da mistura das cinzas dos meus cigarros e da terra do nosso vaso de petúnias com um pouco da nossa saliva e da cerveja que o Bob desperdiçou porque estava bêbado e jogou a garrafa pela janela.

- Por quê cargas d'água essa mistura bizarra resultou em serezinhos tão divertidos eu não tenho a mínima idéia - falou Bob - Mas vocês tinham uma cara de "Humanidade" a primeira vez que os vi... eu sabia que esse nome ia pegar.

Eu estava embasbacada com aquilo que havia acabado de ouvir. Tentei pronunciar alguma coisa, mas minha voz entrara em greve por melhores condições de trabalho e encontrava-se no momento acampada em minha laringe segurando um cartazinho em branco e comendo pipocas.
Abri mais uma garrafa de Heineken.

- Aí acho que você já sacou o que aconteceu depois - começou Zod - O Bob teve a brilhante idéia da gente influenciar a vida da "humanidade" e ver o que acontecia com eles. Isso nos propiciou séculos e mais séculos de diversão...

- É bem verdade que algumas vezes eles fugiam do nosso controle - disse Tod - E se matavam uns aos outros sem que nós mandássemos...

- Mas temos que admitir que isso dava um sabor a mais para a diversão - completou Zod piscando o olho.

- Agora eu só queria saber o quê diabos você está fazendo aqui - disse Bob arqueando as sobrancelhas.

Ah, como se eu soubesse!

- É, então - comecei a dizer - Eu também gostaria de saber. A última coisa da qual me lembro é estar debaixo de uma samambaia com meu Guru Espiritual, o Profeta Zé Apocalipse...

- Ah, sim, seu amigo barbudo! - exclamou Zod - Gente boa, ele. As vezes dá um pulo aqui em cima pra gente beber uma breja, ou um café.

- Devíamos ter imaginado que era coisa dele - comentou Tod - Ainda está se escondendo d'ELES?

- Sim, sim - eu disse - o Zé está sempre se escondendo d'ELES...

- E é a melhor coisa que ele faz - disse Bob.

Nesse momento uma nuvem de fumaça púrpura tomou o aposento e surgiu, de dentro dela, meu queridíssimo Guru Espiritual Zé Apocalipse e sua inseparável toalha cor-de-laranja.

- Saudações, rapazes - disse ele - Espero que não tenha causado contrangimento o fato de ter deixado minha protegida aqui com os senhores sem tê-los avisado previamente.

- Ah, relaxa, Zé - disse Bob - Ficamos com receio no começo, mas cê tá ligado que adoramos conversar com alguém, né?

- Principalmente se for um daqueles lá - completou Zod.

- Muito que bem - disse o Zé - Eu precisei resolver alguns assuntos com a abertura do Portal de Órion e era extremamente necessário que ela ficasse em segurança. Bom, acho que é hora de irmos, não acha, Carolina?

- É, acho que sim... - respondi, meio aérea.

- Bem, até a próxima Zé! Foi um prazer conhecê-la, Carol. Sempre que quiser beber uma breja com a gente esteja a vontade, viu?

- Obrigada...

- Até mais - disse Zé, pegando alguma coisa dentro de sua bolsa - e obrigado pelos peixes!

Mais uma vez aquela sensação de estar sendo sugada por um cano bem menor do que meu corpo acometeu meus sentidos e, no instante seguinte, estava eu em casa novamente, totalmente sozinha - e ligeiramente bêbada.


(FIM - finalmente xD)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

08.08.08 III - Os Sacanas Que Ficam Brincando Com O Destino Da Humanidade

- Meu - disse um deles - Acho que ela é um daqueles lá.

Fiquei a observar, completamente sem reação, aqueles peculiares seres de olhos grandes e rostos compridos, sem ter a mínima idéia do que diabos aquilo queria dizer.

Por que cargas d’água o Zé sempre some nessas horas?

- Sóóóó... – falou o do moicano verde, cujo nome, pelo que estava escrito em sua camiseta, devia ser Zod – E agora? – continuou, bebendo um longo gole do líquido da garrafa azul.

- Hum... ah... – comecei – Er... Oi, eu... é... sou a Carol, e... hã...

- Tá vendo! – exclamou Bob, o que usava um boné de beisebol – É aquela lá!!

- Sabemos quem você é – disse Tod, o dos óculos de aro preto.

- Ah! – falei – Vocês sabem quem eu sou... – repeti, tentando compreender alguma coisa além do fato de que eu estava mais perdida do que um historiador fefelechento na Daslu. Talvez se me oferecessem uma Heineken, ou um gole daquela garrafa azul...

- Opa, pegue uma Heineken, Carol – disse Tod, entregando-me uma lata – Talvez ela ajude a pôr os pensamentos em ordem.

Ai, caramba! Eles lêem os meus pensamentos?! O Zé bem que me avisou dos chapéus de alumínio; quem mandou ser tão esquecida, Carolina!?!

- Ih, relaxa, moça; só lemos os pensamentos que você nos permite ler – disse Tod acendendo um cigarro preto – E o chapéu de alumínio do seu amigo Zé de nada iria adiantar, de qualquer forma.

Abri a latinha e tomei um longo gole.

Utilizando um método antigo e prático de Oclumancia, método este passado de geração para geração na Antiga Civilização de Bähbd e que o Zé, sabe Zeus como, aprendeu e me ensinou há algum tempo para que meus pensamentos não fossem ouvidos por cabeças alheias, pus-me a conjecturar:

Quem seriam esses caras?
Quem seriam os “aqueles lá” dos quais eu fazia parte?
Que maldito lugar era aquele?
Aonde o Zé teria se enfiado?
O que haveria naquela garrafa azul?
Que horas seriam agora?
Por que as joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estão desaparecendo?
Quem seriam os sacanas que ficam brincando com o destino da humanidade?

*Clique!*

- Os Sacanas que ficam brincando com o destino da Humanidade! – exclamei de repente, virando o resto da cerveja goela a baixo e encarando-os.

- Quem? – disse Zod.

- Vocês! – eu disse, pegando outra Heineken e bebendo quase tudo em um gole só – Vocês são os caras que daqui de cima controlam a humanidade toda lá em baixo e ficam se divertindo às nossas custas!!

- Humanidade! – disse Bob, empolgado – Eu sabia que esse nome ia pegar!

- Hum, pelo jeito ela sabe mais do que a gente imaginava – disse Tod enquanto dava uma longa tragada no cigarro – Sente-se, Carol – continuou, encarando-me – E pegue mais uma Heineken. Acho que temos muito que conversar.


(Continua, de novo... juro que a próxima é o final xD)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

08.08.08 II - Através do Portal

Saudações, caros e insanos freqüentadores do Idéias Mirabolantes!

Como havia escrito no post anterior, Profeta Zé Apocalipse avisou-me da abertura do Portal de Órion.

Estava eu, confortavelmente sentada em minha poltrona azul-marinho, preparadíssima para a abertura do Portal de Órion, que, segundo o Zé, ocorreria exatamente às 08 horas e 08 minutos daquele dia quando, tendo eu caído em um ligeiro cochilo, eis que surge a figura já conhecida de meu guru despenteado adentrando espalhafatosamente pela porta da varanda.

- Carolina! - dizia ele - Acorde, Carolina! São oito horas e cinco minutos!

- Hã? Ah! Oi, Zé! E aí?

- Pois então, Carolina! Preparou-se adequadamente para a abertura do Portal?

- Você acha que ainda precisa de mais alguma coisa? - perguntei, mostrando-lhe a toalha, o saco de pipocas, a lanterna e as pilhas.

- Não, acho que não. De qualquer forma, não temos mais tempo! Venha, acho que o melhor lugar para se estar durante a abertura é ao pé de uma samambaia.

- Ao pé de uma samambaia? Mas...

- Em baixo de uma também serve. Venha.

Pegando-me pelo braço, levou-me até o hall de entrada do prédio, aonde havia uma pequena samambaia pendurada na parede.

- Oito horas, sete minutos e cinqüenta segundos. Dentro de alguns instantes...

Foi então que aconteceu.

Primeiro tudo a minha volta parou, depois as cores ficaram ridiculamente mais intensas. Uma névoa púrpura começou a sair do vasinho de samambaia e Shine On Your Crazy Diamond começou a tocar, sabe-se lá de onde.

- Zé... - eu comecei a dizer.

- Shh! Tá funcionando! Vê? Depois dessa névoa púrpura encontram-se...

E então, quando eu menos esperava, aquela sensação básica de estar sendo sugada por um aspirador de pó gigante acometeu meu corpo, e tudo ficou escuro.

***

Quando finalmente resolvi que a situação parecia ter-se normalizado - na medida do possível - abri meus olhos.

O Zé havia sumido, e eu me encontrava em uma sala circular, enorme, com incontáveis janelas, poltronas e almofadas coloridas. Haviam telescópios posicionados em todas as janelas. Latinhas de Pringles estavam espalhadas pelo chão, ao lado de várias revistas-em-quadrinhos; um vídeo-game de realidade virtual estava conectado a um grande televisor de plasma, várias garrafas vazias de Heineken estavam jogadas por aí - e muitas outras cheias estavam empilhadas em um canto - e três seres indefiníveis observavam-me com sincero interesse.

- Hum. Oi? - tentei.

Os três eram figuras bem interessantes. Eram bem altos e bem magros, com a cabeça oval meio puxada para trás e olhos realmente grandes.

Um deles tinha os cabelos compridos e claros, e deixava-os soltos. Usava óculos de aro preto e grosso envolvendo os olhos azulados e uma camiseta listrada aonde se lia “Tod”.

O outro, que segurava uma garrafa azulada com o líquido pela metade, tinha um moicano verde e olhos púrpuras. Vestia uma blusa vermelha onde estava escrito “Zod” em letras de grafitti.

O último, que estava mais à frente dos outros, tinhas olhos castanho-avermelhados, usava um boné de beisebol e uma camiseta branca com o nome “Bob”, em vermelho, e uma seta apontando para cima.

- Meu - disse um deles - Acho que ela é um daqueles lá.


(Continua...)


"A verdade do Universo é prestação que vai vencer"

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

08.08.08

O Profeta Zé Apocalipse, meu intergaláctico guru espiritual, disse-me agora a pouco:

Hoje, caríssima Mestra Carolina, abrir-se-á o Portal de Órion, exatamente às 08 horas e 08 minutos da manhã.

Deste magnânimo portal emanarão as justiceiras energias do o número 8, potencializando todo e qualquer pensamento, seja ele positivo ou negativo.

Portanto, Carolina, aconselho-a a inspecionar seus pensamentos muito bem inspecionados.

Sim, eu sei que isso não é tarefa fácil, uma vez que ainda não se sabe se é você quem pensa nos seus pensamentos ou se são eles que pensam em você.

De qualquer maneira, fique alerta para aonde o vento sopra.

É necessário lembrar, também, que há uma ligeira possibilidade deste Portal Energético Universal se transmutar em um Portal Físico-Energético Multidimensional, permitindo o contato com alguns pontos inespecíficos de regiões localizadas em dimensões diferentes da dimensão terrestre. A probabilidade é ínfima, mas a possibilidade é considerável, uma vez que possibilidades são sempre consideráveis.

Em todo o caso, deixe sua toalha em um local de fácil acesso e programe-se para usar o Grande Chapéu de Alumínio Prateado nesse horário.

Cuidado com o fluxo de algumas ondas eletro-magnéticas com nomes de letras gregas, elas podem estar vestidas de dançarinas de cabaré e lhe intimarem a coçar os ouvidos com os dedos do pé.

Fique em paz, não coma cera de ouvido, jogue abóboras nos feriados e observe as estrelas sempre que puder!

Namastê!

Profeta Zé Apocalipse.

***

Huuuum.

Acho melhor eu me preparar.


*Karol indo buscar sua toalha, rolos de papel alumínio, uma lanterna, algumas pilhas e um pacote de pipoca-de-microondas*

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ah, Futuro!

Ah, Futuro!
Por que me olhas assim, meio de lado, com esse sorriso enigmático?
Tens realmente que abrir a cortina por meio segundo e depois fugir, em teu cavalo alado, rindo histericamente aquele riso gelado?
Não, não te quero conhecer, Futuro.
Não, não me venhas com essas brincadeiras fugidias, cortejando-me como a uma prostituta do século XIX, bebendo vinho barato em uma taberna cheia de ratos engravatados.
Não, eu já disse que não quero saber.
Eu não quero.
Deixa-me terminar em paz meu último cigarro e beber meu último gole de vinho.
E não te demores, quando a hora finalmente chegar.
Porque o que tiver que ser, inevitavelmente, será.

...

"Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores canibais"

domingo, 20 de julho de 2008

Borboleta Cor-de-rosa

O grande senhor de bigodes negros acordou no meio da noite, com uma dor-de-cabeça terrível.
Levantou-se vagarosamente, apertando as têmporas com suas mãos gordas e, piscando seus lacrimejantes olhos castanhos, cambaleou até a cozinha cirurgicamente limpa, onde, então, tomou duas aspirinas muito brancas e muito redondas.
Estivera sonhando com o quê, mesmo?
Parecia algo relacionado a borboletas, mas ele não estava muito certo. A única coisa da qual se lembrava era um par de asas cor-de-rosa, mas isso não fazia muito sentido. Fazia?
Dirigiu-se para a sala-de-estar e deixou-se afundar pesadamente nas almofadas de uma poltrona de veludo vermelho, muito fofa e muito alta.
Parecia, por algum motivo inexplicável, ser de vital importância que se lembrasse do quê diabos estivera sonhando.
Fechou os olhos e tentou se lembrar.
Um par de asas de borboleta cor-de-rosa. Sim. Era cor-de-rosa, disso tinha certeza. E também que era um par de asas. E não haveria por acaso um jardim? Não, achava que o que havia era um castelo. Sim, um castelo de cristal, não era? Ou era uma bola de cristal? Havia mesmo alguma coisa de cristal? Agora ele não tinha sequer tanta certeza de que as asas eram mesmo cor-de-rosas... será que eram, mesmo, asas?
Levantou-se irritado e resolveu procurar pelo controle remoto da televisão.
- Que diabos, Nogueira! - reclamou consigo mesmo - Você é um homem de negócios tão bem-sucedido, vive se gabando de que nunca nenhum mínimo detalhe, de qualquer coisa que seja, lhe passou despercebido; e agora não consegue sequer se lembrar do que estava sonhando!?
Deu um pontapé dolorido em sua mesinha de centro, fazendo com que alguma coisa bem pequenina saísse voando dalí.
- Uma... uma borboleta?
A pequena borboleta cor-de-rosa voou alegre e indiferente por todo o recinto, pousando delicadamente, após alguns instantes, em cima de um cinzeiro de cristal.
Aquela borboleta, por conta de alguma coisa daquelas que nunca se sabe nem nunca se vai saber o que exatamente é, ocasionou no senhor Nogueira uma avalanche de pensamentos e lembranças que lhe atingiu como um soco no estômago, fazendo-o cair, completamente entorpecido, com um baque surdo no chão.
Ele, aquele que nunca precisou de ninguém pra alcançar o sucesso que possuía hoje, aquele que se vangloriava por haver conquistado tudo às custas de um trabalho duro e esforçado, aquele que se achava independente e auto-suficiente; agora estava caído no chão, completamente sozinho, ao lado de móveis antiqüíssimos e caríssimos, de eletroeletrônicos de última geração e de tapetes e cortinas de luxo, chorando feito um bebê.
- O que será... por quê... eu... só sei... liberdade... - balbuciava.
Ergueu a cabeça do chão e olhou, por sobre a mesa, a pequena borboleta cor-de-rosa, imóvel, ainda pousada em cima do cinzeiro de cristal. Ficou assim pelo que pareceram horas, completamente parado, apenas observando.
Finalmente levantou-se com cuidado e dirigiu-se até ela.
Observou-a durante mais alguns instantes; ela continuava imóvel.
Prendendo a respiração, com uma expressão indefinível no olhar, decidiu-se. Levantou uma de suas grandes e gordas mãos e baixou-a, num golpe rápido e pesado, esmagando a borboleta cor-de-rosa antes mesmo que ela tivesse tempo de perceber o que estava se passando.
Lançando uma última olhada para a poça vermelha e rosa que sobrara em seu cinzeiro de cristal, virou as costas e dirigiu-se para o seu quarto.
Agora não importava mais o que iria ou não sonhar.
Sua dor-de-cabeça havia passado.

...

"Trancado dentro de mim mesmo eu sou um canceriano sem lar"

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mero recado:

Os Duendes Espaciais Ordenhadores das Vacas Sagradas da Via-Láctea vêm por meio desta avisar que a autora dos textos dessa coisa que vocês, meros terráqueos, chamam de blog encontra-se temporariamente ausente do que parece ser o Reino Virtual por motivos de greve, não por parte dela, mas sim por conta de seu essencial assistente Roger, O Computador.

Fiquem em paz, e lembrem-se de que o Fim está próximo.

Atenciosamente,
Abelardo
(Duende Espacial Ordenhador das Vacas Sagradas da Via-Láctea, Ordem 7, N° 1248856)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A lagartixa

A lagartixa permanecia estática no alto da parede.
De sua posição elevada possuía uma visão privilegiada do recinto.
Observava atenta o ir e vir daqueles seres enormes, desengonçados e de difícil compreenção.
Eles estavam sempre por ali, por lá, por todos os lugares. Era impossível ir à qualquer lugar sem encontrar pelo menos um deles, nem que fossem daqueles menorzinhos com cara de bolacha que ela imaginava que fossem os filhotes.
Isso se aqueles seres realmente fossem bichos que pudessem ter filhotes.
Porque se fossem mesmo bichos, eram bichos tão... tão inúteis!
Os outros bichos dos quais ela tinha conhecimento pelo menos serviam para alguma coisa na grande cadeia alimentar do ciclo da natureza.
Agora, aqueles lá...
Eles apareciam, iam, vinham, faziam, aconteciam, desapareciam e não serviam pra nada.
Ela nunca havia realmente conseguido entender qual era o objetivo da existência daqueles seres tão grandes, tão desengonçados e tão sem-graça.
Vai ver que eles...
Observou então uma barata muito gorda e com aparência muito apetitosa.
Sem pensar duas vezes, resolveu deixar essas pseudo-filosofias de lado preparar-se para exercer mais uma vez o seu papel na cadeia alimentar.

"Fantasiando um segredo, o ponto onde quer chegar"

terça-feira, 17 de junho de 2008

Thing Think Thin

Estava calmamente mascando um chiclete de pensamentos abstratos quando alguma coisa lhe chamou a antenção.
Não saberia dizer exatamente o que era, só que era alguma coisa, e que era muito chamativa.
Olhou em volta.
Elefantes dançavam balé em um lago congelado, um grupo de cigarras reivindicava seus direitos trabalhistas em frente a um bolo de desaniversário, duas libélulas amarelas perguntavam-se por quê em inglês chamavam-se Dragonfly.
Que diabos seria aquilo que lhe chamara a atenção?
Balançou a cabeça e sentou-se num nevermind acolchoado.
Uma daquelas lagartas listradas que esperam um dia virar borboletas e te queimam se você for burro - ou teimoso - o suficiente para tocá-las rastejou em sua direção.
Um estalo de compreensão ocasionou um terremoto tímido, e ela percebeu.
Fora exatamente aquilo que lhe chamara a atenção.
(Só lhe resta agora descobrir se aquela é mesmo uma lagarta listrada ou se é só mais uma vez a sua visão regida pela Lua fazendo tudo parecer mais psicodélico)
"I know I was born and I know that I'll die, the in between is mine"

sábado, 14 de junho de 2008

Diálogo

- Tô de saco cheio.
- Saco cheio de quê?
- Hum. Sabe que eu não sei? Espera que eu vou olhar.
- Vá pela sombra! Os Zepelins estão atarefados, hoje.

*Alguns minutos depois*

- E aí, descobriu?
- Sim, sim! Tô de saco cheinho de bolinhas de gude cor-de-laranja.
- Puxa, maneiro, né?
- Na verdade não.
- Imaginei. As verdes-limão são bem mais cheirosas.
- É.
- Vamos fazer alguma coisa pra passar o tempo?
- Pra quê? Ele vai passar, independente da gente fazer ounão alguma coisa.
- Ah, mas quando estamos fazendo alguma coisa ele parece que passa mais rápido.
- Você acha isso legal?
- Como assim?
- Que o tempo passe mais rápido?
- É...
- Você quer morrer mais rápido?
- Na verdade eu gostaria de não pensar sobre isso.
- Sabe, eu também. Vamos beber alguma coisa bem alcoólica?
- Ah, é claro! Os guarda-chuvas cintilantes estão muito convidativos, hoje.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sobre aquilo que eu queria muito escrever mas não sei o que é


Ah, que horror.
Tem coisa pior do que querer escrever, mas não ter inspiração?
Bem, até tem; mas no momento...
As palavras estão ali; vejo-as dançando conga com macacos vestidos de bailarinas e voando nas costas de besouros verdes encapuzados.
Mas, por Zeus, não consigo escrevê-las!
Hum.
Eu estou escrevendo, agora; é verdade.
E isso são palavras, não são?
São; com certeza são.
Ah, que ótimo, estou escrevendo!
Bem.
Na verdade não são as palavras que eu queria escrever.
Não são aquelas, lá, que dançam e voam, sabe?
Não, são outras, completamente diferentes.
São mais... menos.
Entende?
Não?
Ah, que coisa.
Eu também não.

"Oh, Lord, won't you buy me a Mercedez-Benz?"

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Na cabana da Bruxa Caolha de Manskaoosin

Fragmentos de pensamentos pouco pensados jazem caídos no chão, pesados, respirando com dificuldade.
Alguma coisa que deveria ter sido dita e não foi se encolhe tímida em um canto escuro da sala.
Situações que deveriam ter acontecido e não aconteceram fumam cachimbo, cabisbaixas, sentadas no sofá.
Outras tantas que realmente aconteceram espiam de olhos arregalados através da janela dos fundos.
Várias coisas que não deveriam ter sido feitas, mas foram, tomam sua segunda garrafa de uísque barato enquanto jogam truco na mesa da cozinha.
Idéias desligadas permanecem penduradas na parede, sem bateria.
Sentidos sem-sentido batem-se uns aos outros e chocam-se nas paredes, escorridos, intensos, fugazes, perdidos.
Uma impetuosidade inconseqüente brinca despreocupadamente com o fogo da lareira.
Uma força de vontade fraqueja na tentativa de abrir a porta que dá para a rua.
Uma garota de cabelos roxos observa a cena, de fora, e, após alguns minutos, decide ser mais sadio tomar uma xícara de café e deixar que isso tudo se resolva da forma como quiser se resolver.


"Faz parte do meu show"

domingo, 18 de maio de 2008

Só.

É.
Eis que, após tanto tempo de abstinência textual, cá estou eu, novamente, ressurgindo das cinzas enevoadas da Paulicéia Desvairada e postando aqui.
Mas não tenho nada pra dizer.
Então...
Só.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O fusca cor-de-rosa


Era um fusca cor-de-rosa.
Nada de mais, apenas um fusca. Um fusca dor-de-rosa.
Foi encontrado no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
O estofado era branco, assim como a direção.
E as janelas eram pequenininhas.
No mais, era um só fusca.
Só que um fusca cor-de-rosa.
Era um fusca cor-de-rosa.
E o que tinha de tão especial este fusca cor-de-rosa?
Bem...
Ele era cor-de-rosa.
Ora, era um fusca cor-de-rosa!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Epifania

Uma cidade, uma bairro, uma rua.
Gente, fumaça, barulho, carro, ônibus, caminhão, prédio, ponte, avião, muro.
Pessoas cabisbaixas, isoladas em seus mundos particulares, apreensivas, apressadas, tristes, bravas, correndo, correndo, correndo.
Uma escadaria suja, poças líquidas com procedência desconhecida, alguma palavra ilegível pintada na parede.
Cinza, chumbo, asfalto, branco, preto, marrom, amarelado, esverdeado, desbotado, cor-de-rosa.
Cor-de-rosa?
Flores cor-de-rosa chapadas num céu incolor, emolduradas por estruturas acinzentadas, seguras por cordas emborrachadas e observadas por mentalidades metálicas.
Tudo pareceu fazer sentido, ficar colorido, ser desigualmente igual, anormalmente perfeito e perfeitamente anormal.
Segundos de uma visão única, muito movimentada e completamente parada, destoante, deslumbrante, desoladoramente fugaz.
No momento seguinte era só um mais um ipê cor-de-rosa florescendo em meio a prédios e carros na cidade de São Paulo.

...

"Você é bem grandinho, já pode se cuidar/ Ir seguindo seu caminho, sempre errando até um dia acertar"

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Episódio de Coração Gelado

. Coração Gelado estava apoiado na grade de sua varanda circular, no alto da Gloriosa Torre de Marfim, fumando um cigarro e observando, melancólico, a paisagem ao seu redor.
. - Coração Gelado!! – gritou-lhe uma voz vinda do jardim. Era Sigmund Solfieri, Jardineiro-Mor dos Castelos de Manskaoosin.
. - Sigmund!
. - Coração Gelado! Disseram as más línguas que o senhor havia derretido.
. - Pois é. Endureci, de novo. O passado se repetiu, a Rotina se instalou na minha poltrona favorita... E eu cansei – acrescentou, soltando anéis de fumaça.
. - Hum. Posso fazer alguma coisa pelo senhor?
. - Na verdade pode, sim. Suba aqui, acompanhe-me numa bebedeira.
. - Ora, com todo o prazer!


"Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades..."

segunda-feira, 31 de março de 2008

Besteirol

Ó, céus!!
Por quê cargas d'água eu fico completamente sem inspiração nesta época do ano?
Estive lendo alguns textos meus dos últimos anos. Por algum motivo obscuro - mais ou menos parecido com aquele que explicaria o porquê do poste de luz que há ao lado da estação de metrô do Campo Limpo sempre apagar (ou acender, se antes da minha gloriosa passagem ele estivesse aceso) quando estou passando alegre e saltitante (bem, às vezes nem tão alegre e saltitante assim) por baixo dele, bem como fazia antigamente o poste de luz da rodoviária de São Pedro - fico em crise pelos meses de Março e Abril.
Sei lá, vai ver as energias astrais não me são criativamente favoráveis.
Energias astrais...
Vai ver são as minhas energias astrais que acendem ou apagam os postes de luz!
Isso, grande Karol!
Você deveria ganhar um prêmio Nobel por isso, e... hum.
Energias astrais não seriam aquelas vindas dos astros?
Hum, devem ser as minhas energias VITAIS, então.
Vital vem de Vida, não é?
Então pronto, são as minhas Energias Vitais que fazem os postes acenderem ou apagarem.
E por quê, então, não são todos os postes de luz os afetados?
Ah, vai ver que as minhas Energia Vitais são muito seletivas, preferindo influenciar somente aqueles postes que consideram Especiais.
Obviamente eu não sei seu critério de seleção; é algo por demais importante para que minhas Energias fiquem divulgando por aí.
Sabe como é, se tal informação vazasse todos os postes iriam se portar como os Especiais, aí nenhum seria mais verdadeiramente Especial; Especiais seriam aqueles que fossem exatamente o oposto do conceito de Especial.
Isso geraria um caos tão profundo, tão denso, que acabaria por criar um novo Universo, fazendo com que o nosso Universo se desintegrasse, uma vez que não é permitido, de acordo com a Lei Universal do Universo, que dois ou mais Universos coexistam em uma mesma dimensão.
Tendo nosso Universo se desintegrado nessa suposição, o novo Universo, criado a partir do Caos gerado pelo conceito de Especial-Não Especial dos postes de luz que haviam em NOSSO Universo, acabaria por desintegrar-se alguns segundos depois, visto que o impulso gerador de seu Universo não existiria mais.
É claro que poderia haver uma fusão entre o nosso e o novo Universo, mas isso acabaria por gerar um ciclo de criação-destruição que só poderia cessar com o sacrifício de um humano, e, como todo o mundo sabe, humanos não são muito favoráveis a esse tipo de coisa, apesar de gostarem de se matar uns aos outros de vez em quando.
É, pois é.
Hum.
Assumindo que são minhas Energias Vitais que acendem/apagam os postes de luz indefesos, devem ser elas as responsáveis pela minha falta de inspiração nesta época do ano.
Talvez esses meses sejam seu período de hibernação, para que recarreguem as baterias. Eu devo fazê-las trabalhar muito durante o ano.
Ou, então, estão ocupadas demais atualizando seu conceito de Postes Especiais e não podem me dar a devida atenção.
É.
Pode ser.
Ou não.
Ah...
Alguém quer alguns amendoins?

"Minha força não é bruta/ Não sou freira nem sou puta"

sábado, 15 de março de 2008

Sinos

St Piter's H2O.
Quase nove horas da noite.
Vontade de não-sei-o-quê.


Abriu a janela e sentiu os últimos raios de Sol tocarem-lhe a fronte.
O céu estava cor-de-rosa, dourado, vermelho, violeta, azul, anil.
Um caleidoscópio de imagens invadiu seus olhos, dissolvendo-se num maremoto de formas coloridas.
Ouvia sinos.


Já era noite.
A Lua, crescente e canceriana, observava o mundo com a nostalgia dos Loucos.
O latido longínqüo dos cachorros e o cricilar tímido de alguns grilos eram os únicos sons que se ouviam naquela pequena cidade do interior.
E os sinos.
Os irritantes e insistentes sinos.


A madrugada ia solta.
Ela corria sem rumo pela ruas desertas e esburacadas da cidade, sob o olhar alaranjadamente desaprovador das lâmpadas elétricas.
O som dos sinos ficava cada vez maior, as badaladas ecoavam assustadoramente altas em seus ouvidos.
E ela corria.


Começara a chover.
A imagem da grande igreja gótica iluminou seus olhos por alguns instantes, e ela parou.
A água escorria dos seus cabelos, seus sapatos estavam encharcados, ela tremia de frio.
Subiu a escadaria da igreja e abriu com estrondo a grande porta de entrada, quebrando a corrente que a mantinha fechada.
E os sinos, os desesperadores e insistentes sinos, continuavam a tocar.


No dia seguinte a policia local encontrou a garota no altar da pequena capela da cidade.
Uma poça de sangue a circundava, havia talhos em seus pulsos.
Sua expressão era serena.
E os sinos, os alegres e simpáticos sinos, finalmente pararam de tocar.


***

"I have become a confortably numb"

sábado, 8 de março de 2008

Olívia.

0000Três horas da manhã. Olívia revirava-se nos lençóis sem conseguir dormir. Pensamentos desconexos assaltavam-lhe a mente, um mais peculiar que o outro, um mais absurdo que o outro. Um mais doce que o outro.
0000- Maldita insônia! - pensou, levantando-se e dirigindo-se à varanda.
0000Acendeu um cigarro. Ridículo pseudo-refúgio da timidez e do nervosismo. Mas e daí?
0000Do seu esconderijo no milésimo andar podia espiar, sem ser notada, toda a vida noturna e secreta de uma cidade insone, incapaz de parar, incapaz de descansar, incapaz de...
0000- Assim como eu - pensou, dando uma longa tragada no cigarro.
0000O céu e a terra haviam invertido os papéis, ela pensava. As estrelas haviam caído e se alojado nas lâmpadas elétricas que se estendiam pelo horizonte, enquanto a Lua brilhava sozinha no firmamento, minguante e Capricorniana.
0000As frustrações todas de sua curta vida dançavam tango com os momentos de êxtase e felicidade num compasso dolorido e envolvente, paranóico, assustadoramente delicioso.
0000Passou a pensar em tudo o que poderia ter sido e não foi, em tudo o que não poderia ter sido e foi, em tudo o que poderia ser e foi.
0000Deu outro longo trago no cigarro e apagou-o no cinzeiro de cristal falso. Olhou para o céu e desejou viver uma grande aventura, digna de livro de ficção; algo pelo qual pudesse ser lembrada, algo que lhe permitisse ter boas histórias para contar.
0000Será que ela estava no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa? Ou será que foi justamente o contrário?
0000Ninguém nunca saberá.
0000O que se sabe é que Olívia nunca mais foi a mesma.

(Continua, um dia - não necessariamente no próximo post...)

"Here we are, now! Entertain us!"
xD

domingo, 2 de março de 2008

O Barquinho de Papel Vermelho da Banheira

(Ao som de Pink Floyd - The Wall 1 e 2)

Havia um barquinho de papel vermelho na banheira.
Ele navegava feliz, imaginando ser aquele o oceano.
Seus horizontes estendiam-se aos azulejos cirurgicamente brancos do banheiro e ao pequeno quadrado azul de céu que aparecia pela janela.
Seu único companheiro era um patinho de borracha amarelo e mudo.
Juntos, subiam e desciam pelas quase ondas e estavam certos de que aquilo era tudo o que se poderia existir.
Um dia, tiraram a tampa do ralo e o barquinho desceu pelo esgoto.
Em seu trajeto pelo submundo, descobriu que havia muito mais para se conhecer do que jamais pudera imaginar, e refletiu sobre como pôde ter passado tanto tempo acreditando que o mundo se reduzia a azulejos brancos e um pequeno quadrado de céu azul.
Quando deu por si, porém, já não era mais um barquinho de papel vermelho, era um composto amassado de sujeira marrom.
E isso não fez a menor diferença.

...

(Só pra constar, não sabia que lagartas listradas apareciam todas ao mesmo tempo.
Será que elas são listradas mesmo ou minha turva visão regida pela Lua é que projeta-lhes listras coloridas?
Fruto das frustrações com as pseudo-flores-coloridas-sem-cor, eu suponho.
De qualquer forma, espero não derramar o suco de beterraba no vestido outra vez; a mancha demora demais para sair.)


"Hey, you! Don't tell me there´s no hope at all/ Together we stand, divided we fall"

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Inspiração

*Batidas na porta*

- Inspiração? Você tá aí?
- Não tô, não.
- Ahh, Inspiração, vem cá falar comigo!
- Já disse que não tô.
- Mas você tá me respondendo!
- Não tô, não. Isso é uma gravação.

*Alguns minutos e uma xícara de café depois*

- Inspiraçã-ão?!!
Iu-hu?!!
Cadê você-êê!?
Vem cá com a titia, vem?
Hum, hum?

- Patético - diz a Inspiração, saindo de sua Toca.

- Inspiração?
Oi!
Resolveu sair pra conversar comigo?
Inspiração?
Foge não, Inspiração!
Volta aqui, eu preciso de você!
Inspiração!
INSPIRAÇÃÃÃÃÃÃO!!??

*Silêncio*

Droga.
Ela fugiu, de novo.

...

"Faz parte do meu show"

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

"Isso"

Não.
Não queria falar sobre isso.
Mas ia falar sobre o quê, se não sobre isso?
Hum, pensando bem, há muitas coisas sobre as quais eu poderia falar.
Sim, como, por exemplo, o porquê das joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estarem sumindo ou a maneira pela qual os alienígenas pretendem invadir a Terra.
Mas o fato é que não sei ao certo o porquê das joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estarem sumindo nem a maneira pela qual os alienígenas pretendem invadir a Terra.
Dizem as más línguas que as joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estão sumindo porque estão em extinção e os alienígenas vão nos matar quando invadirem a Terra.
Dizem as boas línguas que as joaninhas vermelhas com bolinhas pretas estão sumindo porque estão em extinção e os alienígenas vão nos ajudar quando invadirem a Terra.
Diz a minha língua que ninguém sabe a verdade, na verdade, de verdade.
Então, de que adianta falar sobre alguma coisa sobre a qual ninguém sabe?
Bem... sendo assim, imagino que devo abster-me de escrever sobre qualquer assunto.
Inclusive sobre isso.
...

"An I forget jus why I taste/ Oh, yeah, I guess it makes me smile"...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os Gambás com Trouxas Coloridas III - Le Grand Finale

Gambás.
Trouxas coloridas.
Rum?


0000Acordei em um estabelecimento nauseantemente rosa, com plumas salmão, paetês prateados e sedas coloridas.
0000- Ah, bom dia, Bela Adormecida! - disse Dalton, o gambá gênio-incompreendido - Dormiu bem?
0000- Você tá falando sério? - perguntei, esfregando a cabeça - Que tipo de pessoa leva outra por livre e espontânea obrigação - com o auxílio de uma marreta, diga-se de passagem - para um lugar xis...
0000- Gambás.
0000- Ah.
0000Olhei em volta. Nunca antes havia imaginado que gambás pudessem viver em locais tão "simpatizantes" quanto aquele.
0000- Pois bem. Agora que faz parte de nossa tripulação - disse Dalton - creio que devo informar-lhe o motivo de encontrar-se aqui.
0000- Sim, eu... tripulação?
0000- Você tem a honra de ser a primeira humana a embarcar no glorioso Didelphis Ship, o mais terrível, mais veloz...
0000- E único - interrompeu um esquilo de moicano e tapa-olho rosa pink saindo de trás de um barril coberto com lantejoulas.
0000- ...navio pirata animal da atualidade - terminou Dalton e, virando-se para o esquilo, continuou - Ovídio! Não enche! Nem didelphídeo você é. Ponha-se no seu lugar e lembre-se de que só está aqui porque eu gostava da sua mãe.
0000- Bah, grande coisa. Odeio tudo isso.
0000Ah, sim, agora tudo começava a fazer sentido. Eu estava num navio animal gay com um gambá metido a intelectual e um esquilo rebelde que falava português. Sim, nada mais natural. Águas de São Pedro não é uma cidade perdida no meio do mato caipira, não, de jeito nenhum! É uma cidade praiana. E gambás têm navios. Navios gays. E, como eu não sabia disso?, todos eles falam português.
0000- Hã... desculpe a intromissão, mas... - comecei - é... achei que só o Dalton soubesse falar português.
0000- Pfffff! - riu-se o esquilo Ovídio - Ele é o único gambá que sabe. Gambás são burros. Não são como os esquilos. Esquilos são beeeeem mais inteligentes. E falam português fluentemente. Até gíria eu sei, tá ligada?
0000- Tô. Ligadérrima...
0000- Aaaara, chega de blá blá blá inútil. Ainda não contei para nossa convidada o porquê de sua presença - e, apanhando uma garrafa de rum de dentro de um armário florido, continuou - Aceita uma bebida?
0000- Nem precisa perguntar - respondi, agarrando a garrafa das garrinhas dele e virando uns três goles - E aí?
0000- No princípio, não havia nada. Então Deus disse: "Faça-se a luz!", e a luz se fez. Então...
0000- Francamente, Daltô! - interrompeu outra vez Ovídio - Vamos fazer uma versão compacta, aí, sim? Se não ela vai precisar do teu estoque inteiro de rum.
0000- Bah! Tá certo. Então, é o seguinte: Minha família, aqueles simpáticos gambás que você já conheceu...
0000- Simpaticíssimos!
0000- ...moraram a vida inteira no Grande Palácio Luminoso Do Capitão Do Didelphis Ship...
0000- O forro da casa da minha avó.
0000- ...e tinham uma vida saudável e feliz por lá, até que, numa noite terrível, o Malvado Ser De Óculos e Bengala...
0000- Meu avô?
0000- ...criou o Escabroso Ruído Fritador de Mentes Gambíticas...
0000- Aquele aparelhinho elétrico para espantar ratos?
0000- ...fazendo com que todos eles encafifassem que precisavam chegar até Paris e se tornarem mini-cheffs da cozinha francesa do Mestre Gusteau.
0000- !!!
0000- Por conta disso, armaram-se com as Trouxas Coloridas da Sabedoria - elemento indispensável para qualquer gambá que necessite de ajuda espiritual - e saíram mundo afora, totalmente perdidos e bitolados com a situação.
0000- Eu disse que gambás eram burros - comentou Ovídio.
0000- A sorte deles foi que, no momento em que estavam se preparando para tal empreitada, eu, enquanto bebia rum recostado no meu sofá de pelúcia pink, tive a estranha sensação de que precisava consultar minha Trouxa Colorida da Sabedoria. Ela, então, avisou-me o que eles pretendiam, e eu, como todo bom Irmão Que Sustenta a Família deveria fazer, vim em seu auxílio.
0000- Huuum, sei - eu disse, bebendo outros três goles de rum - E eu estou aqui porque...
0000- Bem, acontece que você nos viu indo em busca Daquilo Que Os Gambás Mais Querem...
0000- A parada do Mini Cheff na França? - perguntei - Mas isso não era por conta do aparelhinho contra ratos, digo, do Ruído Fazedor de Ovas-Fritas?
0000- Sim, sim. Mas independente disto, era o que Os Gambás Mais Queriam no momento, então o Código precisa ser aplicado - respondeu Dalton, pegando sua Trouxa Colorida - E é Escabroso Ruído Fritador de Mentes Gambíticas.
0000- Ok. E o código diz...?
0000- Que devemos... - começou ele, retirando uma faca gigantesca de dentro da trouxa.
0000Aimeudeusiagoraelevaimematarqueporraeufaçoprasairdessapelamordezeus?!
0000- ... lhe ofecer um pedaço de pizza de calabreza - terminou, puxando também uma pizza enorme de dentro da trouxa e fatiando os pedaços com a faca.
0000- Ah, sim, hê! hê! hê! - suspirei, virando o resto do rum que havia na minha garrafa - Obrigada, eu...
0000- Essa não! Vem comigo! - gritou o esquilo que chamava Ovídio, subindo por uma escada luminosa.
0000- Hã? Por quê? É só uma pizza de calabreza...
0000- VEM!!!!!
0000Diante de tão grande desespero, subi correndo a escada em seu encalço, deixando para trás um Dalton atônito e seus pedaços de pizza de calabreza cheios de muzzarela.
0000Ao chegar no patamar superior, percebi que o navio cor-de-rosa no qual eu estava encontrava-se ancorado na represa de Águas - para os que não estão familiarizados com aquele fim de mundo, uma pequena porção de água cercada de mato por todos os lados - e Ovídio lutava com cordas amarelas para baixar na água um pequeno bote pintado com as cores do arco-íris.
0000- É... Ovídio, o quê...
0000- Depois eu explico! Me ajuda aqui! Vai logo!
0000Juntos, baixamos o bote na água e remamos rapidamente até a borda, ouvindo ao longe os gritos desapontados de Dalton.
0000- Ahhh! Volta!!! São só pedaços de pizza!!! Volta!!! VOLTAAAAAAA!!!!
0000- E então? - perguntei, enquanto corríamos ladeira acima - Por quê... arre! Pára um pouco, minhas costelas estão doendo!
0000- Tudo bem - disse ele, parando e me encarando com uma expressão terrível- Você nunca, NUNCA deve aceitar um pedaço de pizza de calabreza de um gambá. NUNCA, entendeu? Principalmente se ele for pirata!!!
0000- Ah! Nossa, eu não sabia! Por quê?
0000- Eu não sei - continou ele, voltando a caminhar - ninguém nunca aceitou, não é mesmo?
0000- ...
0000- Vamos embora.
0000E então voltei para casa de vovó, em companhia de Ovídio, O Esquilo Rebelde. Nunca mais ouvi falar dos gambás, principalmente de Dalton, o Gambá Intelectual Capitão do Navio Gambá Gay. Quanto ao Ovídio, bem, o sonho dele sempre fora ser maestro de uma sinfonia húngara, então no dia seguinte ele se foi, em companhia de uma borboleta russa, buscar a fama nas estradas.
0000E eu, bem, eu voltei a dormir. Que mais poderia fazer?

FIM!
xD


"Yo-ho! Yo-ho! A pirate´s life for me!"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Os Gambás com Trouxas Coloridas II

Gambá, segundo a Wikipédia, vem de "guámbá, o ventre aberto, a barriga oca por causa da bolsa onde cria os filhos (- in Silveira Bueno - Vocabulário Tupi-Guarani/Português). É o nome popular dos maiores marsupiais da família dos didelfídeos, pertencentes ao gênero Didelphis, que habitam do sul do Canadá à Argentina e são onívoros."
Sim, é claro.
Mas e as trouxas coloridas?


0000Lá estava eu, então, como aqueles que leram o post anterior devem saber, encarando nada menos do que sete gambás enormes, com focinhos finos e narizes cor-de-rosa.
0000Ligeiramente intrigada pelo fato de estarem aqueles peculiares gambás portando trouxinhas coloridas, decidi, após pensar intensamente no assunto por alguns instantes, que aquilo não me importava e que a coisa mais sensata a se fazer era entrar no quarto o mais rápido possível e me trancar lá dentro, deixando que os gambás fizessem em paz seja lá o que gambás com trouxas coloridas fazem na calada da noite.
0000Mas não fui rápida o bastante. No momento em que tomava minha sensata decisão e esticava a perna para adentrar o quarto uma daquelas (não tão) simpáticas criaturinhas saltou à minha frente, empinou-se nas patas traseiras e falou:
0000- Crrrr gggrrrmm huhh shh gggggggwhmrrrrrrrrr!!!
0000Ah, ótimo. Maldita hora em que resolvi cabular as aulas de gambês para beber cerveja.
0000- Eu – disse, apontando para mim mesma – não – falei, abanando a cabeça – entendo você – apontei finalmente para o bicho de pé à minha frente.
0000- Gworrrc chrrrrzp gmrrrrrrrhk! – disse outro gambá, que possuía marcas escuras parecidas com o aro de um óculos redondo ao redor dos olhos, rosnando para o primeiro – Desculpe meu irmão. Você deve falar português, certo? – continuou o marsupial, olhando para mim.
0000- É... é. – balbuciei, sem saber o que mais dizer.
0000Obviamente existem gambás que falam português. Completamente normal, totalmente natural, não é mesmo; não entre em pânico, Karol, NÃO ENTRE EM PÂNICO, PORRA!!!
0000- Sim, é claro. Bem, como você deve saber, gambás geralmente não falam língua humana nenhuma, mas eu, como você também deve ter percebido, sou um caso excepcional de inteligência gambística. Possuo um poder de assimilação raríssimo na espécie, o que deveria propiciar-me o devido respeito e admiração, porque, modéstia à parte, sou único, não é mesmo?, mas, infelizmente, meu dom não é reconhecido no meio devido à falta de comunicação entre humanos e animais, visto que os primeiros não se importam com ninguém além deles mesmos, não é verdade?
0000- Ah... é...
0000- Enfim, sem mais enrolação, preciso dizer-lhe que você deve vir conosco.
0000- Quê?!
0000Puta-que-o-pariu!!! Não entre em pânico o caralho!!! E agora?
0000- Então, senhor gambá...
0000- Meu nome é Dalton.
0000Dalton?!?
0000- Então, senhor Dalton, receio que não vou poder acompanhá-los, uma vez que...
0000- Não, não foi um convite. Foi uma intimação. – Dalton virou-se para os outros e continuou – Gwrrrrshzzz gwoogczczcz ksksksksks!
0000Vi sete gambás nada amigáveis aproximando-se rapidamente de mim e, antes que pudesse esboçar qualquer reação, não vi mais nada.

(Continua!!)

"Todo o dia a isônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito"

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Os Gambás com Trouxas Coloridas I

É, gambás podem ser simpáticos, quando querem.
E violentos também.

ooo Semana passada estive em casa de vovó, em St Piter's H2O.
ooo Era madrugada, a linda Lua cheia brilhava no céu, os alegres grilos cricilavam nas folhagens, os tediosos sapos coachavam nos brejos e os restos de uma fogueira improvisada queimava no jardim.
ooo Tudo perfeitamente normal, exceto, é claro, pela fogueira no jardim em pleno mês de Janeiro. Mas isso não vêm ao caso, a história não é sobre fogueiras rebeldes que insisem em arder nos jardins alheios em pleno verão, é sobre gambás. Sobre gambás e trouxas coloridas. E sobre mim, é claro.
ooo Pois bem. Situada neste cenário bucólico e quase perfeitamente normal estava esta que aqui vos escreve, preparando-se, em seu quarto no quintal - e neste ponto é imprescindível frisar que, ao estar superlotada a casa da minha avó com nossa "pequena" família, eu durmo num quarto que há nos fundos do quintal - para o que deveria ser uma reparadora noite de sono.
ooo Eis que, no exato momento em que mergulho na chamativa cama e ajeito-me sob os lençóis, um peculiar ruído de passos e rasgos ecoa pelo quarto.
ooo Tudo escuro à minha volta.
ooo O interruptor de luz distante.
ooo O som se aproximando.
ooo Prendendo a respiração, pessoa contida e racional que sou, pulei afobadamente da cama e acendi a luz, derrubando uma mesinha no trajeto.
ooo Nada.
ooo Olhei em volta, tudo exatamente igual eu havia deixado, inclusive a embalagem amassada do chocolate de menta que eu havia comido escondida para não dividir com ninguém.
ooo Mas o barulho continuava, e vinha do teto. Eram passos apressados, rasgos, gritinhos estridentes, bufos, unhas cavocando.
ooo - Ahh, devem ser gatos - pensei, um pouco aliviada, voltando a sentar-me na cama.
Inocentes gatinhos, ah, que coisa mais fofa, gatos brincando no telhado, à luz do luar; não é sempre que eu posso ouvir isso morando em São Paulo; como o interior é bom, pra passar uns tempos, porque morar aqui é definitivamente maçante; é claro, apesar de terem sido bons os anos em que eu...
ooo - Porra, esses gatos não se cansam? - pensei comigo mesma um tempo depois, tendo o barulho continuado - Tão pensando que meu telhado é motel, é? - armei-me com minha toalha de florzinha, estrategicamente pendurada atrás da porta para o caso de imprevistos como esse, abri-a estrondosamente (a porta, não a toalha. Toalhas não abrem estrondosamente. Pelo menos não as de florzinha. Elas abrem cantarolando cantigas populares armênias. Todo o mundo com um mínimo de inteligência sabe disso.) e gritei:
ooo - Xôôô! Saiam daí! Xispa! Xispa! Xis...
ooo Mas não eram gatos.
ooo Eram gambás.
ooo Sete gambás, para ser mais exata.
ooo Sete gambás enormes.
ooo Três na beira telhado e quatro no chão.
ooo Todos eles peludos, com focinhos finos e narizes cor-de-rosa.
ooo Todos eles segurando trouxas de pano colorido.
ooo E todos eles olhando para mim.

(Continua!)

***

"...eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e não posso ficar aí parado"

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Baleiês

Mmmmmwoooooooooooooooh... mmmmwuuuuuuuuoh... uoh-uoooh... mwuoooooooooooooooooooooooooooooooooooh...


Muito orquês...


Uooooooooooooooooooooooooh uooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooh mmmmmmmmmuouououououoooooooooooooooooooooooooooooooooooooohhhhhhhhhhhh...


Dordebarriguês?


UOOOOOOOOOOOOOOOOOOOHHHHH MMMWOOOOOOOOOH MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOHHHHHHHHHHH...


!!!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Blá blá blá

Acordei hoje com vontade de salvar o mundo.
...
Queria fazer algo grande.
...
Algo através do qual eu pudesse ser lembrada muito tempo depois.
...
Um feito heróico, digno de enredo de filme de ação.
...
Já reparou que não existem grandes heróis sem grandes vilões?
...
Vou salvar o mundo de mim mesma.

...

"Astronauta libertado, minha vida me ultrapassa em qualquer nota que eu faça"

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Religião Beû-deh-råa: Deuses e Culto

Início
Beû-deh-råa é uma religião politeísta que prega pelo princípio do Carpe Diem, ou Hakuna Matata. Formulada racionalmente pouco antes da Idade Média pelo filósofo Bottkho Bähr, na Europa Setentrional, espalhou-se por todo o mundo nos séculos XIX e XX e hoje é encontrada em todos os cinco continentes conhecidos.
Bähr afirmava ter recebido um chamado divino de Bhrëdjah, a Grande Deusa de Älkholl, durante um transe que lhe foi por ela mandado em uma taverna da região. Em seu pedido, instruía-o a pregar a Beû-deh-råa como religião de fraternidade, amor, confraternização e diversão.
Bähr levou seu chamado muito a sério, dedicando sua vida à pesquisa dos conceitos beû-deh-råasi e à arrecadação de fiéis para cultuar seus deuses.
Morreu cedo, porém, de alguma doença desconhecida no fígado.

Deuses
Beû-dheh-råa conta com um panteão divino muito diversificado:
Bhrëdjah, a Grande Deusa, o princípio de tudo, muito cultuada no Brasil;
Wynnhö, o Grande Deus, que em alguns lugares é tão ou mais poderoso que Bhrëdjah;
Uyhskyii, deus do poder, do dinheiro e das coisas materiais, muito invocado pela alta aristocracia;
Rwuhn, deus dos Mares, especialmente cultuado pelos antigos piratas;
Phyng-aäh, deusa da agricultura e das coisas simples, muito popular entre as classes menos favorecidas economicamente;
Wvodhkcå, deusa do inverno e da neve, cultuada principalmente na Rússia;
Âbbsy-nntoh, deus do submundo, altamente poderoso e inflamável, apreciado por alguns e temido por muitos; entre outros.

Cultos
Os cultos de Beû-dheh-råa acontecem em templos especializados chamados Bährs ou Bottkhos, cujos nomes são em homenagem justamente ao filósofo e Primo Sacerdote beû-deh-råasi Bottkho Bähr.
A freqüência dos cultos depende muito da devoção do fiel, podendo ser de uma a cinco vezes por semana, ou mais, geralmente às sextas e sábados.
Durante esses cultos os fiéis seguidores de Bhrëdjah, reunidos nos Bähr, purificam suas almas ingerindo o Líquido Sagrado da Vida, Cërrvhe-jâh, que, na medida certa, torna-os capazes de se comunicar com a Grande Deusa. É então que ela os inspira com as Idéias Divinas e o próprio Bähr manda-lhes suas concepções filosóficas, proporcionando a diversão pretendida por Bhrëdjah e alto conhecimento.
É proibido terminantemente a utilização de automóveis após os cultos.
Os seguidores dos outros deuses também utilizam Poções próprias para a comunicação divina, mas não foi encontrado nenhum registro oficial sobre.
Geralmente todos os fiéis beû-deh-råasi cultuam a todos os deuses do panteão, divergindo apenas no fato de se identificarem mais com determinados deuses em determinadas épocas.

"No cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador"

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sobre Deus, pelo Velho Eremita da Montanha Azul Logo Após O Bosque Dos Gnomos Cor-de-abóbora

Deus?
Ora, certamente já está na hora de um novo deus tomar o poder.
Claro, nada mais normal!
É assim desde sempre, não é?
Um deus assumindo no lugar do outro, eu quero dizer.
Ciclo natural do Universo, todo mundo sabe disso.
O problema seria se tentassem recolocar um antigo no poder; aí, sim, as coisas poderiam ser bastante catastróficas, você não acha?
Porque os deuses antigos seguramente estão mortos.
Ou quase mortos.
Ou esquecidos, o que dá no mesmo.
Que tal uma partida de bolinhas de gude?
...

Uma coisa é você acreditar em algum deus. Outra, é ele acreditar em você.

...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Teste

Idéias Mirabolantes de casa nova.
Cansei do Service Unavailable do Weblogger.
E só.